André Villas-Boas: quis ser piloto de F1, mas a cadeira de sonho sempre foi o trono do FC Porto

Gonçalo Lopes
Gonçalo Lopes

E a verdade é que cumpriu o que prometeu. Começou na temporada 2009/2010, então na Académica de Coimbra, e abandonou a carreira de treinador e, 2020/2021, ao serviço do Marselha, do principal campeonato francês.

Mas recuemos um pouco.

André Villas-Boas, nascido em 17 de outubro de 1977 (47 anos) na cidade do Porto, começou a trabalhar no futebol ainda nas camadas jovens do FC Porto. E esse caminho ficou traçado em 1994, quando ainda tinha 16 anos. O agora candidato vivia no prédio de Bobby Robson, então técnico dos azuis e brancos, e um dia teve a coragem de fazer frente ao treinador britânico. Disse-lhe que não gostava de ver Domingos Paciência, avançado portista, no banco. Robson ouviu com cuidado o que este tinha para dizer, as suas ideias e um dia mais tarde Villas-Boas começou a trabalhar nos dragões.

Sempre 'irriquieto', um dia aceitou um trabalho nas Ilhas Virgens Britânicas, para mudar o futebol local. Mas ali esteve muito pouco tempo. O seu FC Porto voltou a chamá-lo para trabalhar com os mais novos, até que José Mourinho chegou aos dragões. O Special One já o conhecia, dos tempos de Bobby Robson, e convidou-o para ser seu adjunto, algo que fez entre 2003 e 2008, no FC Porto, depois no Chelsea e ainda no Inter de Milão.

O cargo que lhe estava destinado

O seu primeiro grande desafio, como treinador principal, acabou por ser na Académica de Coimbra, em 2009, então com 31 anos. Não durou muito tempo na cidade dos estudantes, pois Pinto da Costa nunca o retirou debaixo de olho e em junho de 2010 é anunciado como treinador principal do FC Porto.

Quando foi anunciado não se coibiu de dizer que estava "na sua cadeira de sonho", um lugar que lhe estava "destinado". O tal lugar de sonho durou apenas uma temporada, onde conquistou Supertaça de Portugal, Campeonato Nacional, Liga Europa e Taça de Portugal, tornando-se no treinador mais jovem de sempre a vencer uma competição europeia.

Com tanto sucesso, até além fronteiras, acaba por mudar-se para o Chelsea. As coisas não lhe correm bem, mas no ano seguinte o Tottenham, também de Inglaterra, chama-o, onde fica ano e meio. Sempre de olhos postos em campeonatos 'diferentes', chegou a dizer que tinha o sonho de treinar no Chile e no Japão, aceita o desafio de ir para o Zenit de São Petersburgo, na Rússia, em 2013, onde se sagrou campeão russo e conquistou a Taça da Rússia. Em 2016, foi a vez de ir parar à China para treinar o Shanghai SIPG, antes de, em 2019, rumar ao Marselha onde conseguiu devolver o emblema gaulês aos grandes palcos do futebol europeu.

Paixão pela alta velocidade

Se o futebol é a sua paixão, André Villas-Boas tem outra, nomeadamente a alta velocidade, as motos e os carros de competição. Chegou mesmo, muito novo, a dizer que queria ser piloto de Fórmula 1. Não o conseguiu, mas tem um museu, no Porto, onde tem vários modelos de motorizadas e carros que chegam dos 0 aos 100 em muitos, muitos poucos segundos.

Foi uma paixão que cultivou desde cedo, na sua família, aristocrata mas liberal. Ao longo dos anos, sobretudo aqueles no futebol, começou a colecionar este tipo de viaturas, mas foi em 2018 que cumpriu um dos sonhos, nomeadamente participar num Paris Dakar.

Foi em 2018. Durou apenas quatro etapas, mas o sonho foi cumprido. Teve um acidente com o seu Toyota Hilux e teve de abandonar a prova. Mas foi em pelo Peru, onde se realizou esta prova, que teve a ideia também de criar a Associação Race For Good - movimento de solidariedade social que utiliza o desporto como veículo de divulgação da mensagem de apoio a causas de cariz social e humanitário. Desde a sua criação, a Associação já distribuiu cerca de €200.000,00 a diversas instituições e causas que acompanha.

Um susto de morte

Esteve às portas da morte. Não sabia que o tal despiste no Dakar tinha sido tão grave, até que teve de fazer exames, já em Portugal.

Um dia vai andar de moto com uns amigos e sente uma dor na espinha. Decide fazer exames e os médicos encontraram-lhe uma mancha na tiroide. Era um tumor. “Tiveram de me remover meia tiroide. Acontece que ia morrendo na operação, porque foi aquele 1% das cirurgias que corre mal”, revelou então Villas-Boas numa entrevista à Sábado. "Comecei a sentir-me mal e lembro-me de pensar: ‘Vou morrer, vou morrer.’ Carreguei no botão, veio o enfermeiro e só me recordo de o ouvir gritar, de pegarem na minha cama, correrem pelo hospital diretamente para as urgências, as portas abrirem à força, injeção e… quando acordei estava na última.”

Hemorragia interna. “Mais uns minutos e morria asfixiado”, diz o antigo treinador.

O apelo da sua vida

Nunca escondeu que queria voltar ao FC Porto depois da sua carreira de treinador, sempre o disse. Em 2022, contou, foi informado que Pinto da Costa poderia vir a abdicar de se candidatar e começou a pensar na sucessão. Isto porque, já o disse, tinha receio que a sucessão de Pinto da Costa passasse por alguns dos seus "súbditos".

Via o clube mal, desportiva e financeiramente, e começou a organizar uma equipa para fazer o caminho da sucessão. Assumiu então em 2023 que iria avançar, contra o seu ídolo de infância, Jorge Nuno Pinto da Costa.

Esta decisão fez com que tivesse mesmo de contratar seguranças privados, isto após uma AG que correu mal, com agressões entre apoiantes de ambas as listas. Viu também a sua casa ser vandalizada, mas nunca desistiu do seu sonho. O seu FC Porto. E agora tem um legado, pelo menos, até 2028, sendo o 32º presidente da história dos azuis e brancos.

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