"Um momento histórico" que pode afastar o PSD da Madeira

Beatriz Cavaca
Beatriz Cavaca

Foram mais de 50 anos de PSD na Madeira, mas a fraca vitória nas últimas eleições legislativas regionais pode finalmente pôr em causa a continuidade do partido de Miguel Albuquerque continuar a governar o arquipélago.

O partido venceu com maioria absoluta 11 eleições entre 1976 e 2015. Nos dois últimos mandatos, também o CDS integrou o executivo.

Desta vez, Partido Socialista (PS) e Juntos Pelo Povo (JPP) chegaram a acordo para formar governo na Madeira, acordo esse anunciado em conferência de imprensa e mesmo com os sociais-democratas disponíveis para um “governo de estabilidade”.

"Após o resultado das eleições, e com objetivo de promover uma solução de governo estável, o PS/Madeira e o JPP chegaram a um compromisso conjunto. Assim, vamos dialogar com os partidos eleitos, menos o PSD e o Chega. Não vamos viabilizar qualquer solução governativa apresentada pelo PSD", começou por afirmar Paulo Cafôfo (PS).

"Vamos apresentar uma solução de governo conjunta, ao Representante da República da Madeira, que permita nomear um Governo Regional composto pelos nossos partidos", afirmou.

"Este entendimento nasce do compromisso que assumimos com a população. Nós estamos preparados para governar. Este é um momento histórico para o fazer", começou por dizer Élvio Sousa (JPP).

"Faço um apelo de consciência de que isto não é um entendimento entre PS e JPP. É um entendimento que ajuda os madeirenses e porto-santenses", disse Sousa. "Nós damos a cara pelo futuro da Madeira. Isto é vontade de mudar. Isto é apresentar uma solução. Se não resultar, logo veremos. Se não resultar, vamos cada um para sua casa, mas, ficamos com a consciência tranquila", explicou o representante da JPP.

Recorde-se que, segundo os resultados oficiais provisórios da noite eleitoral divulgados pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, o PSD elegeu 19 deputados (36,13%; 49.103 votos) e o CDS dois (3,96%; 5.384 votos), quando no ano passado, em coligação, conseguiram, respetivamente, 20 e três.

Os dois partidos, que fizeram um acordo após as eleições de 2019 – ano em que o PSD perdeu pela primeira vez a maioria absoluta - governaram juntos o arquipélago desde então, e em 2023 os sociais-democratas assinaram um entendimento de incidência parlamentar com a única eleita do PAN para que a coligação pudesse contar com o apoio de 24 dos 47 deputados da Assembleia Legislativa.

O PAN manteve o lugar nas eleições de domingo (com 1,86%; 2.531 votos), e também o PS (21,32%; 28.981 votos), o Chega (9,23%; 12.541 votos) e a IL (2,56%; 3.482 votos) ficaram com o mesmo número de assentos – 11, quatro e um.

O JPP, partido nascido na região e com origem num movimento autárquico independente, aumentou o número de eleitos de cinco para nove, com 22.958 votos (16,89%).

O BE e o PCP (neste caso, através da coligação CDU, que inclui também o PEV) perderam a representação parlamentar, mas prometeram continuar as suas lutas e a trabalhar com a população. Na corrida estavam ainda mais cinco forças políticas, que não conseguiram eleger: PTP, Livre, ADN, MPT e RIR.

A história do JPP, que começou como um grupo de cidadãos e é hoje um partido que pode vir a formar governo na Madeira, pode ser conhecida neste artigo do SAPO24, aqui.

Já o futuro da Madeira, esse continua incerto. Sem nenhum partido com a maioria necessária para formar governo, o ainda líder do executivo regional continua a dizer que a esquerda foi “copiosamente derrotada pelo povo madeirense”,

O líder social-democrata declarou ainda estar disponível para dialogar com “todos os partidos”, mas não mencionou nenhuma força política em concreto, nem se pretende governar em minoria, negociar um acordo de governo ou parlamentar.

Para se conseguir uma maioria absoluta na Madeira são necessários 24 assentos, algo que nenhuma das possíveis alianças consegue.

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