Foi de uma “insónia” de Francisco Serdoura, médico ortopedista do CHUSJ, que surgiu a ideia de desenvolver um dispositivo médico que permitisse “trabalhar com segurança, com a cara destapada e em condições covid-19 com o mínimo de conforto”.
“No início da pandemia da covid-19 tivemos a perceção da dificuldade de aquisição de equipamentos de proteção individual (EPI) e das condições em que, de facto, os profissionais trabalhavam com máscaras e óculos”, afirmou o clínico, acrescentando que a perceção destas dificuldades se adensou quando operou o primeiro doente com o SARS-CoV-2.
Ciente das dificuldades enfrentadas em ambientes de elevado risco, Francisco Serdoura lançou o repto ao CEiiA — Centro de Engenharia e Desenvolvimento, sediado em Matosinhos, para que trabalhassem juntos no desenvolvimento de uma solução: um capacete médico.
Um ano e meio depois do repto lançado, o protótipo do capacete médico (ainda sem nome atribuído), além da proteção, segurança e conforto, incorpora um sistema de ventilação.
“O equipamento permite que a pessoa tenha ventilação, seja no bloco operatório, seja em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI)”, esclareceu o médico.
Com o intuito de que este dispositivo existisse “além da pandemia da covid-19”, os engenheiros do CEiiA incluíram uma série de “engenhos” que poderão vir a permitir, por exemplo, “a comunicação entre equipa, a conectividade de uma série de equipamentos e a evolução do capacete para apoio de realidade virtual”.
A ideia evoluiu “no sentido de o capacete ser não só uma estrutura de proteção, mas também tecnológica e com os desenvolvimentos que se esperam a curto prazo”, realçou Francisco Serdoura.
Entre os “engenhos” incorporados no capacete, encontra-se um sistema de ‘Bluetooth’ que permitirá “controlar a velocidade de comunicação e o som interno”.
“O objetivo é isto evoluir como uma plataforma para cirurgia apoiada por imagem”, salientou o clínico.
Lembrando que “a pandemia ainda não acabou” e que, à sua semelhança, outras poderão surgir, Francisco Serdoura afirmou ser importante Portugal “ter soberania tecnológica para ter estes equipamentos e criar condições de segurança aos seus profissionais”.
Em processo de validação e certificação, o capacete médico terá utilização no combate à pandemia da covid-19, mas também “noutras circunstâncias em que é necessária a proteção individual” dos profissionais de saúde.
O capacete médico é um dos projetos já em curso do 4LifeLAB, um laboratório colaborativo, recentemente aprovado, que pretende posicionar Portugal nas cadeias de valor globais dos mercados de saúde.
Juntando a excelência e a inovação em ciência, medicina, engenharia e indústria, o laboratório colaborativo visa o desenvolvimento, industrialização e certificação de dispositivos médicos avançados e sistemas relacionados, possibilitando práticas inovadoras que melhorem resultados médicos nas áreas da urgência e emergência.
Segundo Francisco Serdoura, presidente da direção executiva do 4LifeLAB, outro dos projetos a ser desenvolvido é um “hub de mobilidade vertical e horizontal/heliporto”, cujo objetivo é “criar novas tecnologias de apoio de emergência médica” com a utilização de drones.
“A mais valia é [este hub] ser usado não apenas como uma plataforma tecnológica, mas ser um heliporto. Espero que muito em breve possam existir drones a sair do CHUSJ e capacetes nos socorristas a prestar assistência”, admitiu o médico, que acredita que, com o 4LifeLAB, estão “criadas as condições para fazer algo verdadeiramente diferente e inovador”.
O laboratório colaborativo vai ficar sediado no Hospital de São João e deverá contratar, ainda sem números absolutos, “dezenas de profissionais”.
O 4LifeLAB tem como parceiros o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), o CEiiA — Centro de Engenharia e Desenvolvimento, o Centro Clínico Académico (2CA), o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, Fraunhofer AICOS, TMG, WiseHS e FioCruz (Brasil).
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