A todos os profissionais de saúde que trabalham nos dias de hoje, dizemos: 'Obrigado!'. Vocês são verdadeiramente os nossos heróis todos os dias, mas especialmente hoje, amanhã e nas próximas semanas.
É desta forma que o site da iniciativa sem fins lucrativos Rooms Against Covid saúda os seus visitantes. E, por agora, há alojamentos em Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Ovar, Coimbra, Figueira da Foz, Faro, Funchal e no Alentejo.
O projeto nasce no âmbito do Movimento Tech4Covid19 — voluntários que querem utilizar a tecnologia e inovação na resolução de problemas derivados do novo coronavírus — e resulta das capacidades de um dos setores mais afetado pela pandemia, o do turismo. São mais de 50 pessoas envolvidas a fazer mais de 150 contactos por dia para encontrar as melhores soluções.
Mário Mouraz, um dos voluntários por detrás da Rooms Against Covid, explica no que consiste: "É uma plataforma para os profissionais de saúde fazerem uma reserva de 28 dias num quarto de hotel ou num apartamento de alojamento local para que não tenham de ir para as suas casas infetar as suas famílias".
O alojamento não tem qualquer custo. Porém, todos os gastos decorrentes da estadia — mínima de 14 dias — terão de ser suportados por quem solicite o quarto. Ou seja, consumíveis (como produtos de higiene pessoal e de limpeza), alimentação e outras despesas pessoais terão de ser suportados pelos profissionais. Quanto ao número de pessoas permitido, seguindo as recomendações da Direção-Geral de Saúde de isolamento social, é de apenas uma.
"No início do movimento Tech4Covid cerca de 20 empreendedores estavam a falar no que é poderiam fazer para ajudar Portugal a parar o vírus. Falámos com a secretaria de Estado do Turismo que nos alertou para esse problema, o de que os profissionais de saúde estavam à procura de alojamento", conta. "Eu como sou da área da hotelaria, como tenho uma empresa que já lida com os hotéis, era relativamente fácil tornar o projeto viável e contactar os primeiros que pudessem fornecer alojamento", conta Mário Mouraz ao The Next Big Ideia (TNBI).
Felipe Ávila da Costa, um dos impulsionadores do Movimento Tech4Covid19, conta que nos primeiros dias do surto a gestão da plataforma era manual — o que não impediu que o projeto começasse de forma rápida e eficaz em poucos dias.
"O que é giro deste modo empreendedor, deste conceito MVP [Mínimo Produto Viável, uma versão mais simples de um produto, criada com poucos recursos], é que nós ao final de três dias já estávamos a colocar profissionais em quartos de uma forma manual. Havia um formulário para os profissionais de saúde, do Google Docs", revela.
No entanto, ao fim de pouco mais de uma semana, e com a ajuda de duas outras empresas, o processo tornou-se mais prático.
"Houve duas startups que disponilizaram a sua tecnologia para suportar o projeto. Uma, é a Guest Centric, que tem uma plataforma de booking e que trabalha para hotéis. A outra, é a Hi Jiffy, que permite que os hotéis vendam quartos através de um chat bot", explica Felipe Ávila da Costa.
As estimativas são de que 50 mil profissionais de saúde possam precisar de dormir fora das suas casas durante o surto de covid-19. Até ao momento, mais de 350 profissionais de saúde já foram ajudados pela iniciativa, o que se pode traduzir em mais de 7300 noites fornecidas pela iniciativa e parceiros.
Uma médica de Vila Nova de Gaia deixou uma mensagem que ajuda a transmitir o sentimento dos profissionais. "Agradeço de coração a quem abriu as portas de sua casa para a tornar minha durante esta luta. Obrigada", escreveu.
Empresas como a MP Property (Vila Nova de Gaia), Sé Apartamentos (Braga) e a Feels Like Home (Lisboa, Porto e Algarve) já se juntaram à iniciativa.
Mário Mouraz adianta que de momento não há falta de espaço para quem procura um sítio para ficar. "Nós temos mais oferta do que iremos ter de procura. Como somos somos um país que vive de turismo, já temos as estruturas. É só mesmo os hoteleiros perceberem a dimensão do problema e fazerem todos parte da solução."
O sucesso da iniciativa já alastrou a outros países que entraram em contacto e que pediram ajuda. "Já nos chegaram vários pedidos de Espanha, de Cabo Verde, Brasil, Argentina, África do Sul", diz-nos Mário Mouraz. No entanto, quando estes foram feitos, a tecnologia ainda não estava devidamente afinada. Cenário que, entretanto, mudou. Ainda que não esteja a 100%.
"Quando estes pedidos nos chegaram não estávamos prontos para exportar a tecnologia, mas eu creio que não vamos tardar a fazê-lo porque como sabemos o vírus já está a propagar em todo o mundo e nós precisamos de dar uma resposta rápida. Mais vale a tecnologia ir, mesmo estando um bocadinho manca, do que estarmos à espera da perfeição e já terem acontecido as mortes todas, podendo nós ter evitado isso mesmo com uma tecnologia que não está perfeita", afirma.
Comentários