Rádio (ou a falta dela), a grande culpada
A história do Termómetro começa como muitas outras e não é com "era uma vez". "Era um miúdo e queria fazer algo", diz-nos no início da conversa Fernando Alvim.
"Como sempre gostei bastante de música, achei que poderia fazer um evento que privilegiasse a descoberta de novas bandas. Era esse o meu principal objetivo: criar um evento que descobrisse novas bandas, que fugisse àquilo que nós já conhecíamos. E foi isso que fiz. A partir de 1994, anualmente, comecei a realizar o Termómetro".
Poderia ser uma edição única? Sim, aliás "era aquilo que eu pensava: só vamos fazer isto este ano e acabou-se". Mas tornou-se num evento anual, e a culpa é dos Blind Zero — ou de uns tais de Ornatos Violeta, que não chegaram à final.
"Os primeiros vencedores, os Blind Zero, tornaram-se também eles muito conhecidos. E eu fiquei motivado com isso. 'Não, já agora vou seguir com o festival...'".
Seguiu, e no terceiro ano do festival ganharam os Silence 4. "Em três anos uma série de bandas tornaram-se muito conhecidas, e acabaram também por promover o festival. Foi isso que me fez continuar até aos dias de hoje", recorda o radialista da Antena 3.
Por falar em rádio, esta teve também um papel importante na criação do Termómetro. "Era um miúdo que estava naquele preciso instante sem a sua rádio — e eu faço rádio desde os 13 anos. A rádio onde estava fechou e não sabia o que é que havia de fazer à minha vida... Só estudava, estava no Ensino Superior. Felizmente, nunca mais repeti essa fase da minha vida, nunca mais tive um período sem fazer rádio. Mas na altura estive nove meses, o que foi suficiente para criar esse festival".
25 edições, com algumas mudanças pelo caminho
Sem rodeios, Fernando Alvim assume que no início o Termómetro "era muito mais impactante do que nos dias atuais". Hoje, "é menos influente do que já foi" porque "as bandas antes dependiam de festivais como aquele, não havia Internet".
Mas "através de um esforço que sempre tivemos para o renovar, acho que ele não se tornou obsoleto". E, caso se tivesse tornado, Alvim assume que "terminaria com ele". "Enquanto houver o objetivo de descobrir novas bandas com os mesmos princípios que levaram à sua criação, continuaremos com ele", acrescenta.
"De ano para ano acrescentemos sempre outras fórmulas e outras abordagens, precisamente para nos renovarmos. E captarmos novas audiências, novos participantes, mas sobretudo termos sempre a possibilidade de termos connosco aquelas que virão a ser as bandas ou os autores mais representativos de sucessivas gerações. Se nós conseguirmos isso nos próximos anos então acho que estamos no caminho certo, que é onde me parece que estivemos nestas primeiras 25 edições".
O que mudou então? "O festival deixou cada vez mais de ser um concurso de bandas para ser uma amostra de bandas", explica. Por essa razão "não faz sentido uma banda já solidificada no mercado participar no Termómetro". Não faz sentido nem nunca permitiriam, "porque iria estar a tirar o lugar de alguém".
As mudanças foram mais longe. Deixou de ser "Unplugged", logo nos primeiros dez anos, "passou a aceitar todos os formatos e estilos", deixou de ser um "um festival que se realizava só no Porto para dividi-lo, primeiro, com Lisboa, e depois com várias cidades" e abriu-se "à competição internacional". "Todos os anos tentamos acrescentar algo de forma a modernizar o festival e acompanhar a evolução das coisas", resume.
Mas não foi só o festival que mudou, as bandas também. "Acho que as bandas estão mais equilibradas dentro de palco, honestamente. Acho que antes percebia-se mais as diferenças, a experiência de cada uma delas, do que atualmente", salienta o fundador do Termómetro.
E não são só as bandas, a própria música portuguesa também. Para Fernando Alvim, esta "passa pela melhor fase de sempre"; o que se reflete no próprio Termómetro. "Objetivamente, nunca tivemos tão bons participantes", assume.
Histórias que ficam, e nenhuma delas é com os Capitão Fausto
Das 25 edições ficam muitas histórias, mas nem todas podem ser contadas. Quem diz histórias, diz sucessos. Como "o primeiro grande sucesso dos Silence 4", uma versão da "A Little Respect" dos Erasure.
"Na altura, no regulamento do Termómetro, dizíamos que as bandas tinham que tocar três temas originais e uma cover. A ideia da cover era dar uma nova roupagem e fazer de um tema algo de absolutamente diferente. Também para nós percebermos, em termos criativos, como é que era a banda. Este primeiro grande sucesso dos Silence 4 é à custa desta norma do festival, porque eles tiveram que fazer essa versão dos Erasure para participar".
Outro caso. O projeto de David Santos, Noiserv, foi feito apenas e só para participar no Termómetro. "Fez aquele projecto para participar no festival.
Das mais de 500 bandas e artistas que desde 1994 participaram no Termómetro, além dos já referidos também B Fachada, Capicua, DJ Ride, Mazgani, Ana Bacalhau, Richie Campbell Salto ou Tatanka, há um nome que Alvim lamenta não estar nessa lista.
"Gostava muito que por lá tivessem passado os Capitão Fausto. Sou muito fã deles. Talvez tenha sido a banda que não passou pelo Termómetro que mais lamento que não o tenha feito", confessa-nos.
A final é este sábado, e estes são os finalistas
O vencedor do 25.º Festival Termómetro terá atuações asseguradas nos festivais NOS Alive e Bons Sons, vai gravar um ‘videoclip’ e terá acesso a 20 horas de gravação em estúdio. Em 2019, os vencedores foram os belgas Jaguar Jaguar.
A final da 25.ª edição começa pelas 21:30 e terá como convidados especiais os First Breath After Coma, banda de Leiria que editou no ano passado “NU”.
Os cinco finalistas foram escolhidos em oito eliminatórias, que decorreram noutras tantas cidades portuguesas (Bragança, Funchal, Aveiro, Matosinhos, Cascais, Viseu e Santa Maria da Feira) e, pela primeira vez, em Madrid.
Flor é o ‘alter ego’ de Diana Duarte, “um jardim sonoro onde se explora o desapego, o minimalismo e a criatividade”, segundo informação disponível na página oficial do projeto, feito de “‘loops’, pedais e histórias encantadas”, na rede social Facebook.
Os Rope Walkers, que tiveram a decorrer até ao início deste ano uma campanha de angariação de fundos para poderem editar o primeiro álbum, são Rui Ferraz (piano e teclados), Carolina Costa (voz e guitarra), Luís Candeias (baixo), Bruno Soares (guitarra) e João Sousa (bateria).
Foggy é o músico e compositor italiano, a viver em Lisboa, Francesco Pintaudi. Segundo informação disponível na página do projeto no Facebook, “ao vivo, [Foggy] centra-se na junção de uma componente eletrónica com ‘delay’ e ‘feedback’ através de ‘sampler’ e ‘drum machine’, misturada com momentos de improvisação dance, tribal, tecno, funk, entre outras”.
Bia Maria, música e compositora, gravou o primeiro EP em 2018 e estreou-se ao vivo com banda em julho do ano passado no festival Alive, em Oeiras. Em declarações à Lusa no festival, Bia Maria contou que começou a cantar as canções que escreve “há dois ou três anos”. Catalogar a música que faz não é fácil, porque “não há propriamente um género específico, não é pop, não é rock, não é fado, mas tem uma mistura, um bocadinho de tudo”. Uma amiga costuma dizer-lhe: “se fosses filha de alguém serias uma mistura do António Zambujo, da Carolina Deslandes e dos Deolinda”.
O som dos Soho Soho, banda formada em 2017, combina “as várias influências e estilos” de Ana Vieira, Vera Condeço e Ricardo Cruz, todos com experiências em projetos anteriores.
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