“Pós-Arquivo” é um projeto de pesquisa que “reflete questões de identidade, memória, diáspora e história em relação aos movimentos migratórios atuais e às paisagens urbanas da Europa ligadas a descolonização e aos movimentos de independência de África”, e que Mónica de Miranda, portuguesa de origem angolana, iniciou em 2009, quando se mudou para Lisboa, depois de 15 anos a viver em Londres.
Em construção e disponível ‘online’, em www.postarchive.org, o “‘Pós-Arquivo” reúne fotografias, documentos, áudios e vídeos que tem recolhido em bairros de génese ilegal da periferia de Lisboa.
Ao Arquivo Municipal Fotográfico de Lisboa, Mónica de Miranda doou imagens do “arquivo, em bruto, dos lugares que foram desaparecendo”.
“São imensas imagens que nunca consegui usar como trabalho artístico, porque eram de um teor jornalístico/documental, algumas bastante duras, de realidades profundas na cidade, um bocado escondidas e projetadas nos meios de comunicação social de uma forma muito distante do que estava a acontecer ali”, explicou em declarações à agência Lusa.
Essas imagens, referiu, “acabam por ser um conjunto de reflexões de uma cidade que já não existe”.
“Achei que as imagens tinham um valor importante para a própria memória da cidade, e decidi doá-las ao arquivo. Elas estão todas ‘online’, com a intenção de estarem disponíveis para estudantes, geógrafos, abertas a investigadores em geral, que estudem a cidade, porque são documentos de uma cidade que desapareceu”, explicou.
Quando foi convidada para expor no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, Mónica de Miranda resistiu “a pegar nessas imagens e fazer uma exposição com elas”.
Enquanto “Contos de Lisboa” estiver patente — a exposição é inaugurada na terça-feira e pode ser visitada até 16 de maio – será possível consultar o “Pós-Arquivo” na sala de leitura do Arquivo Municipal. “Faz parte da exposição mas eu assumo como um documento ‘online'”, afirmou.
“‘Online’ há mais coisas do que aquilo que doei”, concluiu.
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