Editado pela Red Lemon Music, "Often Trees" sucede a "Kill Drama II", lançado em 2015. “É um disco do qual temos orgulho. Porque nos transporta para um ambiente bastante distinto de todos os outros”, começa por contar o músico.
“Embora tenha sido um disco que passou por muito tempo de composição, por várias fases, nas quais abandonámos até um outro disco que estávamos a fazer, a verdade é que acabámos este disco e achamos que ele tem um caráter diferente dos outros”, explica.
“Não sei se é o nosso melhor disco mas é um disco que marca uma diferença tão grande relativamente àquilo que temos vindo a fazer, que nós o sentimos como o nosso melhor disco”, assume.
Ao fim de 23 anos de carreira, Miguel Guedes mostra-se satisfeito: “acho que termos a possibilidade e a vontade de fazer coisas distintas e diferentes é maravilhoso. A nossa vontade para este disco foi cortar bastante com o caminho estético que tínhamos vindo a fazer no passado mais recente, com o "Kill Drama" e o "Luna Park". Mas este disco é muito mais denso, tem uma carga toda ela muito mais negra”. E essa densidade “não é um elemento novo, mas é aqui um elemento muitíssimo mais presente do que em qualquer outro disco dos Blind Zero”, explica.
Com uma identidade muito própria, “Often Trees” volta a remeter para uma dicotomia entre a luz e a escuridão, que também pode ser entre Deus e o Diabo, “uma metáfora sempre presente no nosso imaginário”. Assim como para o cenário “de uma floresta iluminada à noite”.
Não sei se é o nosso melhor disco mas é um disco que marca uma diferença tão grande relativamente àquilo que temos vindo a fazer, que nós o sentimos como o nosso melhor disco
Editado em CD, vinil e cassete, é um disco para se ouvir do princípio ao fim, de forma a “percepcionar a obra como um todo. O formato físico “não é uma questão de romantismo ou de saudosismo”; para o vocalista da banda, tem “muito mais a ver como nós gostávamos que as pessoas ouvissem o disco, com poucas pausas, na escuta integral da obra.” Para além disso, recorda que a primeira maquete da banda foi exatamente em cassete. E por isso “é engraçado, anos depois, pegar no nosso novo disco e ter o mesmo formato”.
O disco conta ainda com a participação da compositora e multi-instrumentista Jo Hamilton, de Birmingham, que a banda conheceu pelo disco "Down", “um disco maravilhoso”. “Ela tem uma voz absolutamente incomparável e arrebatadora”, elogia o vocalista. “War is Over” foi, no entanto, uma canção que foi estando parada durante algum tempo até que a banda encontrasse “o tempo certo para a incluir”. “É a canção que temos há mais tempo nas nossas mãos. Podia já ter entrado no "Kill Drama", mas achamos que faria sentido neste disco”, conta.
Miguel Guedes considera esta “a obra mais conceptual dos Blind Zero”. Porque “é a que se aproxima talvez mais de um filme, e da experiência que temos quando saímos de uma sala de cinema”. Por isso, desejava que “fosse possível, a quem ouvir o disco com atenção, sair do disco com vontade de o reproduzir na realidade pelo menos durante meia hora”.
“Often Trees” será apresentado esta sexta-feira, 20 de outubro, num concerto na Casa da Música, no Porto, no qual será tocado na íntegra, “algo que não será replicável nunca mais”. “Gostaríamos muito que fosse um concerto muito especial, e que as pessoas que vierem acabem por viver um momento único nas suas vidas, porque será também um momento único para nós”, assume.
A banda tem com a cidade do Porto “uma relação umbilical”, quase “indissociável” da sua identidade. Relação que “raramente passa pelo ódio, e passa muitas vezes mais pelo amor”. Miguel Guedes confessa “que é bonito, nesta altura, olhar para o Porto como uma cidade com tanta luz, que convive com todo este granito que existe, mas fundamental é permitir que este granito persista e seja sempre a mãe de todo o futuro que exista nesta cidade”.
Os Blind Zero assinalam em 2019 vinte e cinco anos de percurso, mas por agora ainda não há quaisquer planos de celebração. No entanto, Miguel Guedes afirma que "é natural que por essa altura possamos ter algum tipo de efeméride”. Por agora fica o desejo: “que nos 25 anos, se lá chegarmos, porque a morte é tão possível como a vida, seja um ano em que tenhamos um novo disco e que o possamos comemorar com coisas novas e distintas, que nos permitam olhar para os discos - mesmo aqueles que são mais negros, como este - e que os possamos tocar com um sorriso”.
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