A sequela de “Borat” (2006), a sátira politicamente incorreta sobre a sociedade norte-americana e, por arrasto, a ocidental, vai estrear na plataforma de ‘streaming’ Amazon Prime Video.
Com o título original “Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan”, a longa-metragem assinala o regresso de Borat Sagdiyev, interpretado por Baron Cohen, com uma análise ao mandato do atual Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), o republicano Donald Trump, mantendo a irreverência incomodativa que caracterizou o primeiro filme.
Borat Sagdiyev, uma personagem fictícia caricaturada como um jornalista cazaque, misógino, racista e obcecado com o conservadorismo norte-americano, acompanha vários comícios do atual vice-presidente dos EUA, Mike Pence, convive com apoiantes de teorias da conspiração e visita clínicas que praticam abortos, recuperando o formato do falso documentário.
Trump, a imigração, o feminismo, o racismo e até a pandemia. Tudo é escrutinado por Borat, que regressa do Cazaquistão com a missão de levar uma ‘prenda’ a alguém próximo de ‘McDonald Trump’ — aludindo à cadeia de restaurantes fast-food McDonald’s e ao chefe de Estado norte-americano -, para que o Presidente cazaque possa integrar o “clube dos homens fortes”.
O grupo seleto em torno de Trump é integrado pelos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e pelo candidato a inquilino da Casa Branca Kanye West.
A ‘prenda’ é a filha de Borat, Tutar, interpretada por Maria Bakalova, uma reviravolta interessante, uma vez que o pai já conhece os meandros da sociedade norte-americana, cabendo agora à filha descobrir os Estados Unidos.
Borat tenta perceber o que aconteceu depois da governação de George W. Bush — que era Presidente aquando da estreia do primeiro filme — e analisa um mundo “que ficou louco pelas calculadoras”, aludindo aos smartphones que revolucionaram o modo como as pessoas se relacionam com a tecnologia e umas com as outras.
Já a filha desperta para a causa feminista e torna-se jornalista, acabando por entrevistar e seduzir o advogado de Trump e ex-autarca de Nova Iorque, Rudy Giuliani.
Contudo, nada é ensaiado.
Giuliani, de 76 anos, dirigiu-se para um hotel pensando que seria entrevistado por causa da gestão da pandemia no país, mas, entretanto, recebe um convite para um copo a sós num quarto onde tenta envolver-se intimamente com a atriz de 24 anos.
Baron Cohen, que interpretava nesse instante um dos elementos da equipa de reportagem, grita que a jornalista é menor e tem 15 anos.
“Em nenhum momento, antes, durante ou depois da entrevista, fui impróprio”, reagiu Giuliani através da rede social Twitter, acusando Sacha Baron Cohen de ser mentiroso.
De acordo com a Associated Press (AP), este segmento do filme acaba por exibir, através de câmaras ocultas, Rudy Giuliani numa posição comprometedora, uma vez que o advogado do Presidente é visto deitado numa cama de um quarto de hotel, com a camisola e com a mão dentro das calças juntamente com a jovem, que neste instante se está a fazer passar por uma menor.
O episódio acabou com o ex-autarca nova-iorquino a chamar a polícia, depois de Sacha Baron Cohen entrar pelo quarto com o seu fato de banho fluorescente característico.
O enredo leva a filha de Borat a sofrer um ‘makeover’ para corresponder aos estereótipos de beleza, com o objetivo de ser aceite como um ‘presente’ para Mike Pence.
O cazaque chega a um dos comícios de Pence no início da pandemia, altura em que o ‘vice’ de Trump afirmava que o país tinha a propagação da covid-19 sob controlo, para oferecer a ‘prenda’.
Vestido com um disfarce que aludia a Donald Trump e acompanhado pela filha, Borat grita a Pence dizendo que tem uma mulher para lhe oferecer. Esta cena acaba com o ator a ser levado pelos seguranças para fora do recinto.
A política é tema indissociável e talvez o predominante no filme, que estreia no mesmo dia em que decorre o terceiro e último debate presidencial entre Trump e o candidato democrata, Joe Biden.
Sacha Baron Cohen pretende, por isso, fazer uma viagem pela “América de Trump”.
A pandemia foi o ‘convidado surpresa’ durante a rodagem do filme, levando Baron Cohen a conviver com ávidos defensores de teorias da conspiração, como, por exemplo, os apoiantes do QAnon.
As redes sociais, parte indissociável da ‘nova’ vida em sociedade também não escapam às críticas. O Facebook, por exemplo, e na opinião satírica de Borat, combate a desinformação — uma das preocupações proeminentes com estas eleições — do mesmo modo que combate o racismo, a venda de armas ou até o machismo.
Comentários