Criado em março último pela Fundação que tem o nome do editor discográfico, no âmbito das comemorações do centenário deste, o galardão tem periodicidade anual e visa distinguir exclusivamente a melhor edição discográfica de fado do ano civil anterior ao da entrega do prémio, referia um comunicado da Fundação aquando da instituição do prémio.
Na ata, a que a agência Lusa teve acesso, o júri refere ter ponderado a “mestria interpretativa” de Camané, que “resgatou cuidadosamente um dos repertórios emblemáticos do fado" , de um dos seus "mais carismáticos intérpretes" – Alfredo Marceneiro –, sem se deixar confundir ou seguir o modelo, mas antes recriando, propondo o seu próprio registo.
Para o júri, Camané fez uma “interpretação iluminada” de um dos repertórios matriciais do fado, numa "equação excelente com o acompanhamento instrumental”.
O álbum “evidencia a faceta artesanal e de afetos, património indissociável do fado”, e Camané, “figura absolutamente maior do panorama fadista”, fá-lo “de uma forma natural, sem artifícios nem recursos exógenos, antes na suprema simplicidade fadista, da qual é mestre”.
“Plena”, é como o júri qualifica a interpretação de Camané no álbum em que recria o repertório de Marceneiro e no qual “se revelam todas as notas musicais, a emoção, a capacidade de encontrar a musicalidade das palavras e imprimir-lhe um cunho próprio, sem exageros, de forma contida, autêntica e inteira”.
Sobre o CD editado em 2017, produzido com produção de José Mário Branco e edição da Warner Music, o júri reconhece ainda em Camané a "validação da tradição", sem que ”tenha ficado preso a ela”.
Ao revisitar o repertório do fadista que criou "A Casa da mariquinhas" e ao ter convidado Carlos do Carmo para participar no CD – com quem canta "A casa da camareira" –, Camané estabelece “uma linguagem artística”, que se traduz na forma como as “sucessivas gerações passam o testemunho e contemporizam o fado, que é sempre novo”.
Sem valor pecuniário, o prémio consiste numa estatueta e será entregue numa cerimónia que deverá realizar-se em outubro, acrescentou à Lusa fonte da Fundação.
O júri decidiu ainda destacar o mérito das edições discográficas “Amália.Fados´67” e “Amália. Coliseu 1987”, ambos editados pela Valentim de Carvalho, assim como o álbum “Recordar Ana Rosmaninho”, com edição do Lagar da Música, por “resgatarem para a atualidade repertório essencial à tradição e à prática fadista”.
Compunham o júri a fadista Julieta Estrela de Castro, a apresentadora de televisão Margarida Mercês de Mello, a responsável do Museu do Fado, Sara Pereira, o realizador de rádio Edgar Canelas e o jornalista Nuno Lopes.
A Fundação Manuel Simões foi instituída pelo empresário discográfico em dezembro de 2001.
Nascido em Pedrógão Grande, Manuel Simões (1917-2008) foi empresário discográfico e fundou a editora Estoril, a Discoteca do Carmo, e a fundação a que deu o seu nome, em dezembro de 2001.
Camané agradece mas diz que fez disco "a pensar no repertório fantástico de Marceneiro e não em prémios”
O fadista Camané manifestou-se hoje “muito contente e agradecido” por ter vencido o Prémio Manuel Simões para Melhor Disco de Fado/2017, sublinhando que fez o CD “a pensar no repertório fantástico de Marceneiro e não em prémios”.
Em declarações à agência Lusa, o fadista reagia ao facto de o CD “Camané canta Marceneiro”, editado em outubro de 2017, ter vencido o prémio para Melhor Disco de Fado/2017, na que é a primeira edição do galardão.
“Fico muito contente e muito agradecido por este prémio”, disse, sublinhando, todavia, que não gravou o trabalho “a pensar em prémios”, mas “a pensar num repertório fantástico que é toda a discografia e o repertório que Marceneiro cantou”.
Porque “ouvi estes discos como se fossem histórias, em miúdo, e com o passar do tempo fui cantando os fados do Marceneiro, as músicas do Marceneiro, lembrei-me nesta altura de fazer um disco com as letras originais”, observou.
Para o fadista, a atribuição do prémio revelada hoje à Lusa, foi “um prazer enorme” já que “é muito bom sentir que as pessoas gostaram do disco”.
Questionado sobre novos trabalhos, Camané disse não ter pensado ainda em nenhum, argumentando que se encontra em digressão por Portugal para divulgar o CD agora galardoado.
O fadista referiu os espetáculos que dará, a 11 e 12 de outubro, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, pelo que só depois irá pensar num novo disco.
Notícia atualizada às 19h47 com as declarações de Camané
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