Os 11 álbuns de José Afonso, editados originalmente entre 1968 e 1981, começaram a ser reeditados em outubro do ano passado, sob o selo Mais 5.
O primeiro a ser reeditado foi “Cantares de Andarilho” (1968), seguindo-se “Contos Velhos Rumos Novos” (1969) e “Traz Outro Amigo Também” (1970). Todos tiveram edições físicas em CD e Vinil, além de ficarem disponíveis nas plataformas digitais.
O projeto de reedição das obras “prevê também uma sequência de edições de 'singles' nas plataformas digitais que antecedem a edição de cada álbum, de forma a divulgar as canções de José Afonso junto de novos públicos”.
Em abril do ano passado, num comunicado enviado à agência Lusa, a família de José Afonso revelou, no 25 de Abril, o lançamento digital do ‘single’ “Coro da Primavera”, que marcava o regresso às edições discográficas da obra de José Afonso.
“A família de José Afonso decidiu, em parceria com a editora Lusitanian Music [cujo nome foi entretanto alterado para Mais 5], avançar com a edição dos 11 álbuns de José Afonso originalmente editados entre 1968 e 1981, mas indisponíveis há vários anos, assumindo a importância cultural de disponibilizar esta música ao mundo”, lia-se no comunicado.
José Afonso lançou em 1968 o seu disco de estreia na editora Orfeu, de Arnaldo Trindade, sob o título “Cantares do Andarilho”, que incluía temas como “Natal dos Simples” e “Vejam Bem”.
Até 1981, editou uma série de álbuns que se tornaram marcos da música portuguesa, desde “Contos Velhos Rumos Novos” (1969) a “Fados de Coimbra e Outras Canções” (1981), passando por “Traz Outro Amigo Também” (1970), “Cantigas do Maio” (1971), “Eu Vou Ser Como a Toupeira” (1972), “Venham Mais Cinco” (1973), “Coro dos Tribunais” (1974), “Com as Minhas Tamanquinhas” (1976), “Enquanto há Força” (1978) e “Fura Fura” (1979).
Os 11 discos já tinham sido alvo de reedição pela Orfeu, entre 2012 e 2013, para assinalar os 25 anos da morte do compositor.
Na altura, os 11 álbuns foram restaurados e remasterizados digitalmente pelo engenheiro de som António Pinheiro da Silva, e a edição contava com novos textos que contextualizavam o momento em que foram feitos, no percurso de José Afonso.
Em setembro de 2020, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de classificação da obra fonográfica do músico José Afonso por considerar que representa “valor cultural de significado para a Nação”.
De acordo com o anúncio então publicado em Diário da República, foi determinada a abertura do procedimento de classificação de um conjunto de 30 fonogramas da autoria do compositor e intérprete José Afonso, bem como de 18 cópias digitais de ‘masters’ de produção de um conjunto de cassetes gravadas pelo autor e de um conjunto de entrevistas.
Esta foi a primeira vez que a DGPC iniciou um processo de classificação de uma obra fonográfica, revelou o Ministério da Cultura, acrescentando que tal processo ajuda a “consolidar informação relativa à obra gravada, publicada ou não, do artista”.
A decisão surgiu um ano depois de o parlamento ter aprovado um projeto de resolução do Partido Comunista Português (PCP) que recomendava ao Governo a classificação da obra de José Afonso como de interesse nacional, com vista à sua reedição e divulgação.
Em abril de 2020, também a Associação José Afonso (AJA) reuniu mais de 11 mil assinaturas numa petição pública que apelava à mesma decisão.
Na altura, em nota divulgada à Lusa, a família de José Afonso, detentora dos direitos da obra musical, manifestava o apoio à classificação da obra e recordava que estava a “colaborar diretamente com o Ministério da Cultura, desde 2018”, para que se desenvolvesse o processo.
Ainda em 2019, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, afirmava publicamente que não foi por falta de vontade que o processo de classificação não se iniciou mais cedo, mas porque não existia acesso às ‘masters’ e ao conteúdo das gravações originais de José Afonso.
Quando foi lançada a petição de pedido de salvaguarda, o presidente da AJA, Francisco Fanhais, explicava que se estava perante “um imbróglio jurídico”, porque a Movieplay, a editora que detém os direitos comerciais da obra de José Afonso, estava “em situação de insolvência” e não se sabia “do paradeiro dos ‘masters’ das músicas gravadas pelo Zeca Afonso”, comprometendo a sua reedição.
José Afonso nasceu em 02 de agosto de 1929 em Aveiro e começou a cantar enquanto estudante em Coimbra, tendo gravado os primeiros discos no início dos anos 1950 com fados de Coimbra, pela editora Alvorada, “dos quais não existem hoje exemplares”, refere a AJA na biografia oficial do músico.
Autor de “Grândola, Vila Morena”, uma das canções escolhidas para senha do avanço das tropas, na Revolução de Abril de 1974, José Afonso morreu em 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada cinco anos antes.
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