A decisão, tomada pelo Comité do Património Mundial, descreve Odessa como uma “cidade livre, cidade mundial, porto lendário que marcou o cinema, a literatura e as artes e encontra-se assim sob a proteção reforçada da comunidade internacional”.
Face à invasão russa em 24 de fevereiro do ano passado, esta inscrição demonstra a determinação coletiva do Comité no sentido de ser preservada “de mais destruição”, disse Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, citada em comunicado da organização.
Nos termos da Convenção do Património Mundial, os 194 Estados Partes na Convenção comprometem-se a não tomar qualquer medida deliberada que possa causar danos direta ou indiretamente ao local do Património Mundial e a contribuir para a sua proteção.
Ao ser inscrito na Lista do Património Mundial em perigo, o Centro Histórico de Odessa terá direito a assistência técnica e financeira internacional reforçada, que a Ucrânia pode solicitar “de forma a garantir a proteção do património e, se necessário, ajudar na sua reabilitação”.
“Diante das ameaças à cidade desde o início da guerra, o Comité do Património Mundial utilizou um procedimento de emergência previsto nas Diretrizes Operacionais da Convenção do Património Mundial”, refere-se no documento.
Especialistas ucranianos e internacionais, com o apoio da Itália e da Grécia, trabalharam com a agência das Nações Unidas para a colaboração internacional na arte e cultura, a UNESCO, para preparar esta inscrição, cuja candidatura foi oficializada em outubro pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Nos últimos meses, revelou a UNESCO, medidas de emergência no terreno foram tomadas para ajudar a proteger a cidade e contribuiu para a reparação de danos infligidos no Museu de Belas Artes e no Museu de Arte Moderna desde o início da guerra
“A Organização também forneceu equipamentos para a digitalização de cerca de mil obras de arte e do acervo documental do Arquivo do Estado de Odessa. Também foram entregues equipamentos para proteger os edifícios, bem como as obras de arte ao ar livre”, prossegue o documento, indicando que estas medidas fazem parte de um plano de ação geral da UNESCO na Ucrânia, no valor de 16 milhões de euros para educação, ciência, cultura e informação.
As tropas russas não chegaram a esta cidade situada no sul da Ucrânia, embora tenham sido travados combates a poucas dezenas de quilómetros.
A cidade e seus arredores balneares foram no entanto visados por ataques aéreos e, apesar de uma aparente normalidade, as sirenes de alarme aéreo tocam com frequência.
O porto de Odessa, principal porta de saída de produtos da Ucrânia, nomeadamente cereais e fertilizantes, esteve bloqueado vários meses pelas frotas russas no Mar Negro, situação apenas resolvida em agosto, graças a um acordo estabelecido entre as autoridades de Kiev, Moscovo, Ancara e Nações Unidas.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.068 civis mortos e 11.415 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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