Num comunicado hoje divulgado, o Castelo de Chantilly adianta que a peça de prata dourada, com 70 centímetros de altura, esteve esquecida mais de um século numa das suas salas onde, devido à humidade, ficou oxidada, impondo uma profunda intervenção de restauro, concretizada nos últimos meses.
A peça, de origem portuguesa e datada de 1500-1520, será proveniente da Sé de Braga, onde é mencionada nos inventários, acrescenta o comunicado do castelo, atribuindo essa posse inicial a uma doação efetuada em 1531 pelo arcebispo Diogo de Sousa.
Apresentada como uma obra de “microarquitetura”, a custódia ou ostensório, originalmente usada em atos religiosos, combina múltiplos pináculos, arcos de trevo, ornamentos de plantas, pequenas estátuas, armas e símbolos dos reis de Portugal.
“Este objeto é um testemunho essencial da arte do Renascimento em Portugal. O seu restauro devolve-lhe o seu lugar na história e na história da arte portuguesa”, sustentam os serviços da instituição francesa.
O Castelo de Chantilly ressalvou que o restauro desta peça, que demorou seis meses, foi conseguido “graças ao apoio” da Galeria Mendes, em Paris, de Philippe Mendes, curador luso-francês e colecionador de arte, que fez parte do departamento científico do Museu do Louvre, onde lecionou igualmente História da Pintura Italiana
O processo de restauro foi liderado por Fabienne dell’Ava, especialista em conservação e restauro de obras em metal.
A mais antiga referência quanto à atual posse da custódia remonta a uma exposição dedicada a obras de arte da Idade Média e da Renascença, que esteve patente em Londres, no então Museu de South Kensington, atual Victoria & Albert, em 1862.
O catálogo desta exposição identificava como seu proprietário o duque Henri d'Orléans, filho do rei Louis-Philippe, então no exílio no Reino Unido. Ainda segundo o catálogo da mostra, citado pelo Castelo de Chantilly, a peça tinha sido adquirida, em 1859, a um antiquário em Londres, Samuel Pratt, por cerca de 300 libras.
Em 1871, a custódia acompanhou o duque d'Orléans no seu regresso a França e ao Castelo de Chantilly, entretanto reconstruído para acolher a sua coleção de arte.
Em 1886, com a doação do castelo e do seu acervo, a custódia transitou para o património do Institut de France, entidade que gere cerca de um milhar de instituições, entre academias, fundações, castelos e museus no país.
Embora tenha o trabalho de restauro concluído, esta custódia vai ser exposta no Musée Condé, no Castelo de Chantilly, na região de Oise, no Norte de França, dentro de "um mês, mês e meio", segundo informação divulgada esta tarde, associando-se aos eventos a decorrer no âmbito da temporada cruzada França e Portugal.
[Notícia corrigida às 16:59]
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