Em declarações por ‘email’ à Lusa, o designer sediado em Londres contou que o responsável do Hingston Studio, Tom Hingston, entrou em contacto com ele para saber se estaria “disposto a ajudar no projeto”.
“Eu juro que no dia em que comecei a trabalhar no vídeo ainda não sabia quem era o Nick Cave, mas já tinha ouvido o álbum”, reconhece o português de 35 anos, filho de mãe produtora de televisão independente e de pai designer, que já trabalhou para marcas como Vodafone, Nissan ou Microsoft, entre muitas outras.
Tiago Higgs percebeu que este trabalho podia conduzir a uma “boa exposição” do seu nome, tendo assim avançado com um projeto “a nível técnico muitos furos abaixo do nível de dificuldade” com que lida habitualmente.
“O que fez o projeto ser mais complicado foi a parte mais conceptual das cores, texto, velocidade dos elementos, o fumo, etc., [com] tudo a bater certo com a emoção expressada pelo Nick em certas partes das músicas”, acrescentou o profissional, nascido em Lisboa.
Agora que o projeto está terminado, Tiago Higgs vai estar até ao fim de 2019 a fazer gráficos para os Jogos Olímpicos de 2020. “Adoro trabalhar para desporto. Um pouco diferente de Nick Cave”, afirma.
Apesar de ter uma “relação muito complicada com Portugal”, Tiago Higgs adora toda a gente com quem já trabalhou no país, mas lamenta que a indústria nacional seja “minúscula” e que se mantenha uma “mentalidade um bocado de vila”, no país.
Ainda assim, devido a uma “paixão enorme por viagem e fotografia”, desenvolveu um canal no Youtube dedicado a essas viagens e decidiu aproveitar essa mesma paixão para “reatar” a sua ligação a Portugal.
“Quando vou aí, tento ir conhecer uma parte do país e fazer um vídeo e fotos para o canal sobre isso. Confesso que tem funcionado”, disse o designer.
O vídeo para o álbum “Ghosteen”, de Nick Cave e os Bad Seeds, foi divulgado através do Youtube na noite de quinta-feira. O filme é do Hingston Studio, com realização de Tom Hingston e animação e efeitos visuais de Yusuke Murakami, Markus Lehtonen, Aislinn Clifford, Amanda Tooke e Tiago Higgs.
“Ghosteen”, 18.º álbum de originais de Nick Cave e dos Bad Seeds, foi gravado entre 2018 e os primeiros meses de 2019, com mistura de Nick Cave, Warren Ellis, Lance Powell e Andrew Dominik.
Disco com duas partes, em que “as canções do primeiro álbum são as crianças e as canções do segundo álbum são os seus pais”, “Ghosteen é um espírito migratório”, nas palavras de Nick Cave, aquando do anúncio.
O jornal britânico The Guardian deu-lhe cinco estrelas e classificou-o como talvez “o mais bonito conjunto de canções” que Nick Cave e a sua banda já criaram.
O New Musical Express deu-lhe igualmente cinco estrelas e escreveu que “este álbum devastador é o trabalho de um artista que tenta fazer sentido da perda”, numa referência, muitas vezes feita, à morte – súbita e acidental — do seu filho Arthur, em 2015.
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