Tony Hinchcliffe foi um dos participantes do comício realizado no domingo no Madison Square Garden de Nova Iorque, lotado por apoiantes do candidato republicano às eleições presidenciais de 5 de novembro.

"Há uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano neste momento, acho que se chama Porto Rico", disparou o também apresentador de podcast sobre o território, que gera mais resíduos sólidos por dia do que a média dos Estados Unidos, e onde o impacto de desastres naturais saturou alguns aterros.

As suas palavras não ficaram por aí. O comediante também troçou dos latinos, dizendo que "adoram fazer bebés", parodiou judeus e palestinianos e ridicularizou um homem negro com o estereótipo de que afro-americanos gostam muito de melancia.

O que foi dito no comício foi "racismo", declarou à AFP Denis Castro, um reformado de 60 anos que vive no bairro de Bushwick, em Nova Iorque.

As condenações foram unânimes entre os democratas, começando pelo próprio governador de Porto Rico, Pedro Pierluisi. "Lixo é o que saiu da boca de @TonyHinchcliffe, e todos os que o aplaudiram deveriam sentir-se envergonhados por desrespeitar Porto Rico", protestou o democrata na rede social X.

"Comentários como esse expõem os preconceitos e o racismo que, lamentavelmente, ainda existem em nossa nação", acrescentou.

Apesar de serem americanos, os porto-riquenhos não podem votar nas eleições presidenciais, assim como os cidadãos de outros territórios como as Ilhas Virgens, Ilhas Marianas do Norte, Samoa Americana, Guam ou Ilhas Menores Distantes, mas podem fazê-lo se residirem em um dos 50 estados continentais dos Estados Unidos, além do distrito de Columbia.

A Pensilvânia, um estado chave que pode decidir o resultado das eleições, conta por exemplo com meio milhão de porto-riquenhos.

A vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris reagiu com um vídeo em que promete "desenhar um caminho novo e feliz para o futuro" de Porto Rico.

O cantor de reggaeton Bad Bunny, um dos artistas latinos mais ouvidos nos Estados Unidos, partilhou a mensagem no Instagram como forma de apoio à democrata.

"Isso é o que pensam de nós", afirmou Ricky Martin na mesma plataforma, além de partilhar o vídeo e pedir votos para a vice-presidente.

Outros, como Marc Anthony e Jennifer Lopez, filha de porto-riquenhos e que tem 250 milhões de seguidores nas redes sociais, seguiram os seus passos.

Em sentido contrário, longe de se desculpar, o humorista reprovou as vozes críticas, que, segundo ele, "não têm sentido de humor".

Numa mensagem enviada à AFP, a popular parlamentar de Nova Iorque, Alexandria Ocasio-Cortez, rebateu: "não é um comediante, é a campanha de Trump".

Mas, a oito dias das eleições, A equipe do republicano distanciou-se da polémica."Essa piada não reflete a opinião do presidente Trump", afirmou uma das porta-vozes do magnata.

Para o senador da Flórida, Rick Scott, que se apresenta à reeleição, a piada não teve graça. "Não é engraçado e não é verdade. Os porto-riquenhos são pessoas incríveis e americanos incríveis. Estive na ilha muitas vezes. É um lugar lindo", afirmou na rede social X.

Nas ruas, a indignação é imensa. "Antes, estava 100% convencido de votar em Trump e agora estou 100% motivado a sair e votar em Kamala Harris", declarou à AFP Javier Torres Martínez, um porto-riquenho de 45 anos que vive em Doral, ao lado de Miami.

"O estrago está feito", acrescentou esse presidente de uma empresa de seguros de saúde internacionais.

A família porto-riquenha Martínez, que vive em Orlando, não pensou duas vezes.

"Estava a pensar em votar em Kamala Harris, mas este comentário de ontem fez sair toda a família — o meu filho de 20 anos, a minha filha de 18, a minha esposa e eu — para votar nesta manhã por ela", disse à AFP Rick Martínez, um funcionário de uma empresa de saúde de 50 anos. "Foi uma reação visceral", termina.