Natural de Salvador da Bahia, estado de onde era natural Jorge Amado (1912-2001), Joselia Aguiar publicou a biografia no Brasil pela Todavia Livros, tendo acesso a documentos familiares e correspondência com amigos e outros escritores, baseando-se também em “exaustivas entrevistas e pesquisas” no país de origem, “na Europa e nos Estados Unidos”, segundo a apresentação da obra, no ‘site’ da editora brasileira.
A jornalista e historiadora, que dirige a Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo, traça o caminho de “um homem que, saído da Bahia, se tornou cidadão do mundo, amigo de personalidades como Sartre e Saramago, traduzido para dezenas de idiomas”.
Depois de “Capitães da Areia”, em 1937, e da dezena e meia de livros escritos deste a estreia, em 1931, com “O País do Carnaval”, a publicação de “Gabriela, Cravo e Canela”, em 1958, deu-lhe reconhecimento a nível mundial, entrando na lista dos mais vendidos do jornal norte-americano The New York Times, ao mesmo tempo que se transformava em obra de culto militante, na antiga União Soviética.
Em tempo de ditadura do Estado Novo, Jorge Amado foi autor proibido em Portugal até 1960, quando o sucesso internacional de “Gabriela, Cravo e Canela” veio a permitir a sua publicação, por iniciativa do editor Francisco Lyon de Castro, fundador das Publicações Europa-América, com envolvimento do expoente do neorrealismo, o escritor Alves Redol.
A aceitação da obra acabou por trazer Jorge Amado a Lisboa, em 1966 — numa das muitas viagens que fez ao país até perto da morte –, e levou à edição de outros títulos do escritor, de iniciais como “Jubiabá” (1935), a outros entretanto lançados no Brasil, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1966) e “Tenda dos Milagres” (1969), que prosseguiam “as comédias da Bahia e da sua gente”, um cenário que se tornou “facilmente reconhecível em todos os cantos do mundo”.
Joselia Aguiar retraça em livro “a impressionante jornada de um dos mais populares escritores do século XX”, explica em comunicado a Dom Quixote, que destaca uma “narrativa de uma vida que se lê com prazer e assombro, com satisfação intelectual e gosto pela peripécia”. “Como os melhores romances do autor baiano, aliás”, acrescenta.
Um dos primeiros autores brasileiros de escala mundial, a trajetória de Jorge Amado passa por cidades como Paris, Moscovo, Praga e Rio de Janeiro, pelas lutas ideológicas no seio do Partido Comunista e até pelas televisões e pelo ‘fenómeno’ das telenovelas.
No ‘site’ da Todavia, pode ler-se um excerto da biografia, que relata o encontro de Jorge Amado com Pablo Picasso, em Paris, antes de se encontrar com o poeta Louis Aragon, atravessando a “defesa de Neruda”, o comunismo e outros assuntos, relatando ainda um almoço com Jean-Paul Sartre e um cumprimento breve mas “efusivo” de Albert Camus, que viria a escrever uma crítica elogiosa a “Jubiabá” (1935).
Exilado após ter sido deputado na Assembleia Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro, Amado manteve-se sempre leal à escrita, e obras como “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor” (1976) ou “Tieta do Agreste” (1977) foram das que surgiram traduzidas em mais de meia centena de países.
No verão de 2012, no âmbito do centenário do nascimento de Jorge Amado, a Biblioteca Nacional inaugurou em Lisboa uma exposição sobre o impacto da sua obra em Portugal (“Jorge Amado em Portugal”), com base no seu acervo, recuperando documentos como um texto do escritor, de meados dos anos de 1950, em defesa da libertação do líder do PCP Álvaro Cunhal, publicado pelo jornal Avante!, na clandestinidade.
Após entrada do autor no mercado livreiro português em 1960, com “Gabriela, Cravo e Canela”, a Biblioteca Nacional regista uma multiplicação de edições e de tiragens dos títulos do escritor, no país. Porém, só depois do 25 de Abril de 1974 se verifica a publicação de toda a sua obra.
“Gabriela” deu origem a uma telenovela, a primeira exibida em Portugal, estreada na RTP em 1977.
“O Sumiço da Santa” (1988), “Tocaia Grande” (1984), “Farda, Fardão, Camisola de Dormir” (1979), “Teresa Baptista Cansada de Guerra” (1972), “Os pastores da noite” (1964), “A Morte e A Morte de Quincas Berro d”Água” (1959), “Os Subterrâneos da Liberdade” (1954), “Seara Vermelha” (1946), “Bahia de Todos os Santos” (1944) e “ABC de Castro Alves” (1941) são alguns dos cerca de 40 títulos escritos por Jorge Amado.
Em 1992 publicou “Navegação de Cabotagem”, que definiu como “apontamentos para um livro de memórias que jamais” escreveria.
Joselia Aguiar, que assina “Jorge Amado: Uma Biografia”, foi curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2017 e 2018 e correspondente em Londres do Folha de São Paulo, além de editora na revista Entrelivros.
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