Em declarações à Lusa, o responsável pela Lusitanian Music, Nuno Saraiva, explicou que foi criado um selo específico para a reedição dos 11 álbuns — de nome Mais 5 — para este projeto que “passa não só pela edição dos produtos físicos em CD e vinil, mas também pelo digital ligado diretamente à internacionalização de José Afonso”, estando para isso a trabalhar com a distribuidora digital One Level Up Music.
“Acho que ainda há muito por onde promover e divulgar a muita gente que pode não conhecer o artista e o seu contexto histórico e musical fora de portas”, afirmou Nuno Saraiva, realçando que uma das dinâmicas do projeto é precisamente a apresentação da obra do autor de “Traz Outro Amigo Também” “às novas gerações, seja dentro ou fora de portas”.
“Não estamos só a editar para os fãs, estamos a editar para quem ainda não conhece”, disse o editor à Lusa, que se mostrou honrado pelo envolvimento neste “projeto incrível”.
O calendário previsto estabelece setembro como data de início de um “ciclo editorial mensal, provavelmente dividido em grupos de três”, ou seja, o lançamento de três dos álbuns em três meses a partir daí, com uma pausa de seguida, e continuidade em 2022.
No entanto, Nuno Saraiva deixa uma ressalva: “Há aqui um grande senão, e não quero desapontar ninguém neste aspeto, porque para nós é fundamental o formato vinil. Vamos remasterizar para vinil com peritos nesse processo de remasterização específica para que sejam da mais elevada qualidade. Mas há grandes atrasos a nível planetário com o vinil neste momento. Se partirmos do pressuposto de que o vinil é fundamental para cada álbum, vamos ter de pautar o resto dos ‘timings’ à volta do vinil, porque vai demorar mais tempo do que o resto”.
“Não quero estar a prometer que o ‘Cantares [do Andarilho]’ sai em setembro, porque não consigo dar essa palavra”, frisou o editor, que recorda ter sido apresentado à família de José Afonso pelo produtor Alain Vachier, com quem falou para que seja consultor do projeto de reedição dos 11 álbuns, a par de várias outras pessoas que possam contribuir para o maior trabalho de curadoria possível.
Cada disco vai ter também e edição de ‘singles’ digitais, “as duas ou três faixas mais emblemáticas de cada álbum”, o que será um desafio devido à “riqueza tão grande por onde escolher”.
Nuno Saraiva apelou também para que “qualquer fã, qualquer pessoa que queira partilhar fotos, histórias, qualquer elemento que possa aportar algum valor cultural a todo o processo de recolha, da curadoria”, que o faça através do endereço de ‘email’ arquivo@joseafonso.net.
“Fica esse convite aberto para que participem. Sentimos que é uma missão pública no sentido de ser importante para todos”, afirmou.
Os 11 álbuns de José Afonso lançados originalmente entre 1968 e 1981 vão ser reeditados, anunciou, em 25 de Abril, a família do músico, que vai avançar para o projeto em parceria com a editora Lusitanian Music.
“A família de José Afonso decidiu, em parceria com a editora Lusitanian Music, avançar com a edição dos 11 álbuns de José Afonso originalmente editados entre 1968 e 1981, mas indisponíveis há vários anos, assumindo a importância cultural de disponibilizar esta música ao mundo”, pode ler-se no texto.
José Afonso lançou em 1968 o seu disco de estreia na editora Orfeu, de Arnaldo Trindade, sob o título “Cantares do Andarilho”, que incluía temas como “Natal dos Simples” e “Vejam Bem”.
Até 1981, editou uma série de álbuns que se tornaram marcos da música portuguesa, desde “Contos Velhos Rumos Novos” (1969) a “Fados de Coimbra e Outras Canções” (1981), passando por “Traz Outro Amigo Também” (1970), “Cantigas do Maio” (1971), “Eu Vou Ser Como a Toupeira” (1972), “Venham Mais Cinco” (1973), “Coro dos Tribunais” (1974), “Com as Minhas Tamanquinhas” (1976), “Enquanto há Força” (1978) e “Fura Fura” (1979).
Em setembro do ano passado, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de classificação da obra fonográfica do músico José Afonso, por considerar que representa “valor cultural de significado para a Nação”.
De acordo com o anúncio então publicado em Diário da República, foi determinada a abertura do procedimento de classificação de um conjunto de 30 fonogramas da autoria do compositor e intérprete José Afonso, bem como de 18 cópias digitais de ‘masters’ de produção de um conjunto de cassetes gravadas pelo autor e de um conjunto de entrevistas.
Esta foi a primeira vez que a DGPC iniciou um processo de classificação de uma obra fonográfica, revelou o Ministério da Cultura, acrescentando que ajudará a “consolidar informação relativa à obra gravada, publicada ou não, do artista”.
Há um ano, também a Associação José Afonso (AJA) reuniu mais de 11 mil assinaturas numa petição pública que apelava à mesma decisão.
Na altura, em nota divulgada à Lusa, a família de José Afonso, detentora dos direitos da obra musical, manifestava o apoio à classificação da obra e recordava que estava a “colaborar diretamente com o Ministério da Cultura, desde 2018″, para que se desenvolvesse o processo.
Quando foi lançada a petição de pedido de salvaguarda, o presidente da AJA, Francisco Fanhais, explicava que se estava perante “um imbróglio jurídico”, porque a Movieplay, a editora que detém os direitos comerciais da obra de José Afonso, estava “em situação de insolvência” e não se sabia “do paradeiro dos ‘masters’ das músicas gravadas pelo Zeca Afonso”, comprometendo a sua reedição.
José Afonso nasceu em 02 de agosto de 1929, em Aveiro, e começou a cantar enquanto estudante em Coimbra, tendo gravado os primeiros discos no início dos anos 1950 com fados de Coimbra, pela Alvorada, “dos quais não existem hoje exemplares”, refere a AJA na biografia oficial do músico.
Autor de “Grândola, Vila Morena”, uma das canções escolhidas para senha do avanço das tropas, na Revolução de Abril de 1974, que hoje assinala 47 anos, José Afonso morreu em 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada cinco anos antes.
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