Nick Cave, músico e escritor, e Sean O'Hagan, crítico nas publicações The Guardian e Observer, conhecem-se há mais de trinta anos, um já foi entrevistado pelo outro, mas o caminho de ambos voltou a cruzar-se em 2020, durante a pandemia de covid-19.
"Com muito tempo em mãos e o mundo em desalinho, as nossas conversas por telefone transformaram-se em longos diálogos sobre todo o tipo de assuntos, tanto esotéricos como quotidianos. Nesse momento tão estranho quanto intenso, surgiu a ideia de um livro", escreveu Sean O'Hagan em setembro passado, no The Guardian.
As conversas telefónicas entre ambos prolongaram-se por mais de 40 horas, entre os verões de 2020 e 2021, e o resultado está em cerca de 300 páginas de um livro, com tradução para Portugal por Frederico Pedreira.
Nas primeiras páginas do livro, Nick Cave explica que detesta as entrevistas que servem apenas para promover um álbum ou um livro, que o obrigam a centrar-se em si mesmo. "Era como se tivesse de ir novamente à procura de mim mesmo. Por isso, acabei simplesmente por deixar de dar entrevistas há uns cinco anos, ou por volta disso", admitiu.
Mas as conversas com Sean O'Hagan permitiram-lhe falar, de uma forma mais profunda, sobre a carreira, o processo criativo, os problemas com drogas, sobre a relação com os fãs, a existência de Deus e o luto pela morte de um dos filhos, Arthur - já depois de terminado o livro morreria outro dos seus filhos, Jethro Lazenby.
A propósito do livro, os jornais The New York Times e The Guardian sublinharam a disponibilidade recente de Nick Cave se expor publicamente e de mostrar uma maior empatia com os fãs.
Exemplo disso é o projeto Red Hand Files, uma página pessoal, de subscrição, na qual o músico responde regularmente a perguntas e a cartas que lhe enviam, a maioria fãs.
"Elas [as cartas e as perguntas] revelam alguma coisa sobre mim que eu não sabia que existia. O 'Red Hand Files' tornou-se numa forma de abrir caminho para o melhor de mim", afirmou Nick Cave numa entrevista em setembro ao The New York Times.
Nick Cave, 65 anos, australiano, é músico, escritor, letrista, fundador dos Birthday Party, filiados no punk rock, dos Bad Seeds e de Grinderman, tem vários álbuns editados por estes projetos, e bandas sonoras compostas com Warren Ellis.
Presença regular em palcos portugueses, Nick Cave tem publicados no mercado nacional os romances "E o burro viu o anjo" (1989) e "A morte de Bunny Murno" (2009).
Este ano foi publicada a banda desenhada biográfica "Nick Cave - Mercy on Me", do alemão Reinhard Kleist.
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