"Além dos vários prémios internacionais conquistados, o Mimo é um projeto que tem chamado à atenção do mundo. No ano passado, fui falar no encontro internacional da sociedade produtora artística de Nova Iorque sobre como fazer um festival nesses moldes, com esta longa duração, sem mudar o conceito e sem cobrar ingresso", comentou, em entrevista à Lusa.
Na esplanada de uma conhecida confeitaria de Amarante, junto à Ponte de São Gonçalo, onde muitos turistas adquirem os centenários doces conventuais, a Lusa convidou a empresária a descrever o "seu" Mimo.
"O meu festival é diferente, porque é dos poucos que não é segmentado. O nosso conceito não é o género musical, mas a qualidade da produção artística", respondeu, falando de "um evento para as famílias", em que 50% dos espetadores têm entre os 35 e os 54 anos.
Por estes dias, em Amarante, no frenesim que antecede mais uma edição portuguesa, que vai decorrer de sexta-feira a domingo, em vários pontos da cidade, mas com o palco maior instalado no Parque Ribeirinho, a empresária brasileira natural de São Paulo, carioca de adoção, mas que começou o seu projeto do Mimo, há 15 anos, na pequena cidade histórica de Olinda, lembrou os primeiros tempos no nordeste do Brasil:
"Eu tinha o objetivo mais voltado para a questão cultural, para a formação de plateia, para um consumo de arte mais fina, menos comercial, que valorizasse o património histórico, que possibilitasse uma experiência diferenciada, com caráter gratuito, porque eu achava que os espaços das massas já estavam ocupados".
Logo nos primeiros anos, anotou, começou "a perceber o impacto que isso tinha, também no turismo cultural e para a economia da cidade" que passou a receber milhares de pessoas.
"Isso foi fortalecendo a minha visão estrutural de um projeto, de um festival que carregava o nome dessa cidade, que se expandia para o país e para o mundo e isso tinha um valor agregado de marketing", prosseguiu, anotando ainda: "Eu descobri uma combinação muito bem-sucedida, mas muito difícil de realizar".
A empresária admitiu, por outro lado, que a fase atual em Portugal tem pontos de contacto com os primeiros anos do festival no nordeste do Brasil:
"Fiz um caminho muito similar ao que estou a fazer em Portugal. Eu reconheço-me muito com o início do Mimo, no Brasil".
E prosseguiu: "O mais difícil foi fazer em Olinda, porque está longe do Rio de Janeiro e São Paulo, onde o dinheiro está concentrado. É como aqui em Lisboa e Porto. Então, é um enorme desafio fazer isso acontecer em Amarante".
Lu Araújo falou, "com orgulho", do sucesso alcançado em Amarante, depois de ter havido contactos, com a autarquia e com a diocese do Porto para o festival se realizar na "invicta".
"Comecei a achar que Amarante era mesmo uma joia que as pessoas não conheciam", contou, apontando para o casco histórico e para o rio Tâmega que atravessa a cidade.
A autarquia estima que o impacto da edição do ano passado na economia local tenha sido de 1,5 milhões de euros, mais 18% do que em 2017.
Os números são positivos e, também por isso, diz não se arrepender da opção por Amarante, uma pequena urbe conhecida pelos vultos culturais, como Amadeo de Souza-Cardoso e Teixeira de Pascoaes, entre outros, e pela qual se diz ter apaixonado quando lá chegou pela primeira vez.
Frisou, a propósito, que aquela cidade do interior do distrito do Porto reúne um conjunto características que encaixa no conceito do Mimo, nomeadamente o seu património edificado religioso, onde as "igrejas antigas" abrem as portas para acolher concertos musicais e outras manifestações culturais, como acontecia em Olinda.
"O Mimo é um festival generoso quando olha para Amarante, sem querer ser mais do que a cidade. É um projeto que trabalha com a cidade. O bonito disto é este casamento", disse, sorrindo, ao ser saudada por um cliente idoso que ouvia a conversa, na mesa ao lado.
Logo na primeira edição em Amarante, recordou, o Mimo "português" teve 24 mil espetadores e em 2018 ultrapassou os 70 mil, muitos oriundos de várias paragens europeias, como frisou.
Para este ano, indicou, as expetativas voltam a ser elevadas.
"Este, de 2019, quando chega para vocês, já estou cansada dele, porque já estou trabalhando nele há oito meses", gracejou, para logo considerar que esta quarta edição tem "um programa sensacional, que espelha o que o Mimo é, nem melhor, nem pior".
Lu Araújo reconheceu o apoio que o festival teve das entidades públicas locais e regionais, ao ponto de ter sido apoiado em duas edições por fundos europeus.
"A iniciativa pública tem de ser uma mola propulsora para o Mimo poder andar, mas ele deve ser suportado pela iniciativa privada, porque é uma marca que oferece isso ao público. É esse o nosso objetivo aqui, como foi no Brasil", referiu.
Aludindo à sua condição de empreendedora, a diretora do evento recorda que o Mimo tem conseguido no Brasil e em Portugal fidelizar os parceiros privados, porque, observou, "eles percebem o seu dinamismo e a sua importância".
"É preciso ter paciência, porque o Mimo é uma construção, é uma aprendizagem e não é um festival fácil de fazer, porque é toda uma cidade que serve, que se presta a isto durante três dias, cada vez com mais público. Nesse sentido, é um festival caro, porque tem uma infraestrutura muito grande", concluiu.
Por Armindo Mendes, da agência Lusa
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