De acordo com informação disponível no ‘site’ oficial da IDA, o filme “Cesária Évora” está nomeado na categoria de Melhor Documentário de Música, na qual competem também três produções norte-americanas (“Louis Armstrong’s Black & Blues”, de Sacha Jenkins, “Moonage Daydream”, de Brett Morgen, e “You’re watching vídeo music box”, de Nasir ‘Nas’ Jones) e uma coprodução entre o Reino Unido e a Irlanda (“Nothing Compares”, de Kathryn Ferguson).
OS vencedores da 38.ª edição dos prémios da IDA são anunciados em 10 de dezembro, numa cerimónia em Los Angeles, nos Estados Unidos.
“Cesária Évora”, que conta a história da cantora cabo-verdiana, teve estreia em março no festival South by Southwest, em Austin, nos Estados Unidos, e recebeu, em maio, o prémio do público do IndieLisboa para longa-metragem.
O filme, produzido pela Carrossel Produções, em associação com a Até ao Fim do Mundo, estreou-se nos cinemas portugueses em 27 de outubro. Realizado em Portugal, França e Cabo Verde, tem distribuição mundial pela Cinephil/WestEnd Films.
O impacto da doença bipolar na vida de Cesária Évora é um dos aspetos inéditos do filme que mostra como esta mulher negra e pobre deu a volta ao destino.
“Cesária Évora” conta com imagens de arquivo, gravações inéditas e testemunhos de quem privou com Cize, como era conhecida, dos tempos da pobreza ao reconhecimento mundial que chegou depois dos 50 anos e após uma “explosão” de sucesso que começou em França e a levou a dar a volta ao mundo.
Cesária Évora sofreu dois acidentes vasculares cerebrais e o segundo, em 2011, mostrou-lhe que nunca mais poderia cantar. Morreu a 17 de dezembro de 2011.
Ana Sofia Fonseca tomou a decisão de fazer um documentário sobre a vida de Cesária Évora uns dias depois do funeral da cantora, quando se deparou com a tristeza e a solidão que enchia o olhar das pessoas no ‘seu’ Mindelo, ilha de São Vicente.
Apaixonada por Cabo Verde, a jornalista e contadora de histórias lembrou à Lusa, aquando da estreia do filme nas salas portuguesas de cinema, que Cize “tinha colada à pele um conjunto de preconceitos: mulher, negra, pobre, não é particularmente bonita, vive em África e tem mais de 50 anos quando alcança o sucesso”.
Apesar disso, salientou, Cesária vence e, principalmente, “constrói pontes” e “traz Cabo Verde do meio do Atlântico para o mundo”.
A realizadora, que tem casa no Mindelo, partilhou que “toda a gente em São Vicente tem uma história da Cesária Évora para contar”.
Apaixonada pela voz de Cize, a realizadora debruçou-se essencialmente na pessoa, “uma mulher excecional” que “não se deslumbra com a fama, usa a fama para ajudar os outros”. “Também a si, mas contentava-se com o que tendemos a achar pouca coisa e a julgar como adquirido”, disse.
Ana Sofia Fonseca salientou que Cesária Évora era “feliz tendo uma casa onde albergar a família, um carro para andar, porque tem problemas nos pés, comida e comida para dar aos outros”.
E sublinhou: “É preciso conhecer a mulher para perceber melhor a voz, que nos emociona, arrepia, tanto nos faz acreditar no amor como chorar. Eu quis ir além daquela ideia do veio do nada, conquistou o mundo, manteve-se igual a si própria e era feliz a ajudar os outros. Tudo isso é verdade, mas há muito mais do que isso”.
E deste relato também consta a doença bipolar que afetava a diva dos pés descalços, o que “ajuda melhor a perceber muitas das atitudes da Cesária”.
Para Ana Sofia Fonseca, “isto ajuda a perceber a Cesária, não a define, mas ajuda a perceber algumas coisas da Cesária”, como o isolamento.
Na história de vida de Cesária, a realizadora encontrou “uma mensagem de esperança” – “Não importa muito de onde se vem, mas o que se pode alcançar. Tudo é possível, a vida de qualquer um pode mudar a qualquer instante” -, mas também de uma enorme generosidade – “Na mesa da Cesária havia sempre espaço para todos e ninguém era mais que ninguém”.
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