“Ainda estamos a estudar esta trufa, mas há a possibilidade de ter características que a tornam única em solo português. Só depois destas pesquisas saberemos como cultivá-la noutros locais do país. Isto seria uma excelente notícia para Portugal, com a possibilidade de exploração desta iguaria, colocando-nos na rota turística dos apreciadores desta maravilhosa matéria-prima. Pela minha parte, tenho feito o possível enquanto cidadão, cabe agora às entidades governamentais prosseguir com as diligências necessárias para solidificar este processo. Eu, cá estarei para acompanhar e apoiar”, estas foram as primeiras declarações do chef Tanka Sapkota sobre a descoberta do fruto, que foi informado da existência destes exemplares por parte de alguns agricultores da zona oeste do país.
Ainda assim, mostra-se convicto que possam existir mais exemplares. “Até ao momento, encontrámos cerca de 15 quilos de trufa negra. Foi uma descoberta surpreendente que nos deixou bastante entusiasmados e convictos de que haverá muito mais quantidade em solo português”, afirmou o chef Tanka Sapkota, chef executivo dos restaurantes Come Prima, Forno D’Oro, Il Mercato e Casa Nepalesa, em Lisboa.
Depois desta descoberta, o chef nepalês entrou em contacto com a Universidade de Évora e com a bióloga Celeste Silva. Tudo para comprovar a sua veracidade. Celeste Silva trabalha neste campo há mais de 20 anos e em conversa com o SAPO24 confirmou a história.
"Vi os esporos no microscópio, é trufa de verão. Fiz análises de biologia molecular e confirmou-se que é trufa de verão. Não é aquela trufa negra tradicional, muito valiosa", começou por dizer, salientando depois que acabou por ficar entusiasmada com esta descoberta.
"Tirei apostas de solo, raízes das plantas e ficámos entusiasmadas e contentes. Foi um ano excecional em termos de chuva, ali em março abril, o que pode ter ajudado a que o fungo crescesse. Vou continuar esta pesquisa, para perceber ser foi apenas um happening ou se vai continuar. Por norma produzem-se no nosso país no final do inverno. As que vimos foi em final de maio, estavam velhinhas e secas", diz, comparando depois este tipo de trufa com a negra, a mais valiosa.
"Há muitas trufas negras, esta é mais castanha por dentro, por fora é negra. A trufa negra é negra por dentro e fora", diz a bióloga, que ainda assim valoriza a descoberta de uma trufa que pode chegar também a algumas centenas de euros por quilo.
"Fiz análises de biologia molecular e confirmou-se que é trufa de verão. Não é aquela trufa negra tradicional, muito valiosa"Celeste Silva
"Apesar de ter um valor de mercado mais abaixo que a trufa negra, não nos podemos esquecer que em termos científicos, e também gastronómicos, é importantíssima. Ainda estou à espera dos resultados de algumas amostras de solo, para perceber exatamente como esta trufa cresceu neste local, para depois ver o que se pode fazer, mas não há dúvidas que é algo único, foi um achado fantástico", salienta a docente do Departamento de Biologia na Universidade de Évora, deixando um apelo curioso à população em geral.
"Trabalho neste assunto há 20 anos e até ao momento nunca me contactaram sobre este assunto. Mas curiosamente recebi um telefonema de uma pessoa que viu esta história na televisão e disse que tinha visto algo semelhante e que queria que eu analisasse. E é esse apelo que quero deixar também aqui, quero que as pessoas me contactem quando virem frutos deste tipo, mandem-me fotografias, façam chegar as amostras. Nós não podemos estar em todo o lado e assim ajudam-nos. Deixo mesmo o meu email, css@uevora.pt, para que possam contactar, serão uma ajuda preciosa", afirmou a especialista.
Quem quiser, e puder, pode ir prová-las. O chef Tanka Sapkota trouxe a iguaria para o seu restaurante Come Prima e incluiu-a num menu de jantar.
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