O Grande Prémio do Júri foi atribuído ao filme "J´Accuse", de Roman Polansky, e o Leão de Prata de Melhor Realizador foi para o sueco Roy Anderson, por "About Endlessness".

O filme de Todd Phillips aborda a infância e o surgimento de um dos vilões mais conhecidos da saga Batman, pelas mãos do ator Joaquín Phoenix, cuja interpretação de Joker, um palhaço que é maltratado nas ruas da cidade de Gotham City, foi elogiada no festival.

Em Veneza, hoje, o realizador norte-americano dedicou o Leão de Ouro a toda a equipa do filme, e agradeceu em especial ao ator norte-americano. "Joaquin Phoenix é o ator mais corajoso e destemido que eu já conheci", elogiou Todd Phillips, ladeado, em palco, pelo ator, que já foi nomeado três vezes para um Oscar.

O filme - também interpretado por Zazie Beetz, Robert De Niro e Shea Whigham - é produzido pela Warner Bros e a DC Films, e, embora seja inspirado na banda desenhada do maior inimigo do super-herói Batman, explora as motivações psicológicas de Joker.

O prémio dado a "J'Accuse" foi recebido pela atriz francesa Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski, que não pôde comparecer no evento porque permanece sob ameaça de extradição para os Estados Unidos por um caso de abuso sexual que remonta a décadas atrás.

"J'Accuse" narra o caso "Dreyfuss", episódio de antissemitismo que sacudiu a França no fim do século XIX, quando um oficial do Exército de origem judaica, capitão Alfred Dreyfuss, foi acusado de traição com provas falsas, para acabar sendo reabilitado após uma memorável campanha de defesa pública encabeçada pelo escritor Émile Zola.

Yonfan, cineasta de Hong Kong, recebeu o prémio de Melhor Argumento por "No.7 Cherry Lane", um filme de animação de Zhang Gang.

O Prémio de Melhor Interpretação Masculina (Taça Volpi) foi para Luca Marinelli, pelo desempenho em "Martin Eden", de Pietro Marcello, e o Prémio de Melhor Interpretação Feminina (Taça Volpi) foi para Ariane Ascaride, em "Gloria Mundi", de Robert Guédiguian.

Foi ainda atribuído o Prémio Especial do Júri ao filme "Mafian non e piú quella de una volta", de Franco Maresco, e o Prémio Marcello Mastroianni para Melhor Ator Emergente foi para Toby Wallace, pelo desempenho em "Babyteeth", de Shannon Murphy.

Tanto o ator italiano Luca Marinelli como a atriz francesa Ariane Ascaride, filha de emigrantes italianos, dedicaram, no seu discurso de agradecimento, os seus prémios aos refugiados e aos imigrantes "que morrem no mar Mediterrâneo".

“Babenco”, o documentário da realizadora brasileira Bárbara Paz, sobre os últimos dias do realizador Hector Babenco, que dirigiu "Pixote, A Lei do Mais Fraco" e "O Beijo da Mulher Aranha", conquistou o Prémio para Melhor Documentário Sobre Cinema.

No palco, a realizadora Bárbara Paz, visivelmente emocionada, agradeceu ao cinema e à cultura brasileira e gritou, em português e em inglês: “Viva a liberdade de expressão!”.

A reação da cineasta acontece dias depois de a presidência de Jair Bolsonaro ter afastado a direção da Agência Nacional de Cinema do Brasil (Ancine), que regula e fiscaliza o mercado do cinema e do audiovisual, e de os seus antigos responsáveis terem sido acusados de associação criminosa, entre outros delitos, pelas atuais autoridades.

A Cinemateca de São Paulo tem vindo também a ser "ocupada por militares e políticos, contra 'marxismo cultural'", como noticiou esta semana o jornal Folha de S. Paulo.

Bolsonaro admitiu em julho a possibilidade de extinguir a Ancine caso não a possa usar para impor "filtros" nas produções audiovisuais do país.

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar e a atriz britânica Julie Andrews receberam o Leão de Ouro pela carreira, e o realizador franco-grego Costa-Gavras o Prémio Jaeger-LeCoultre 2019.

"Extase" (1933), de Gustav Machatý, ganhou o prémio de melhor restauro, enquanto o prémio Fipresci, da associação internacional de críticos de cinema, distinguiu igualmente "J’Accuse", de Roman Polanski.

O prémio Leão do Futuro, para uma primeira obra - cujo júri foi presidido por Emir Kusturica -, foi atribuído a "You will die at 20", do realizador sudanês Amjad Abu Alala.

Na competição oficial do festival - o mais antigo da Europa - competia o filme português “A Herdade”, de Tiago Guedes, protagonizado por Albano Jerónimo, e na secção competitiva Orizzonti foi exibida a nova curta-metragem de Leonor Teles, “Cães que ladram aos pássaros”.

A competição também integrou um outro filme português: “Francisca” (1981), de Manoel de Oliveira, exibido na secção Venice Classics, na qual foi apresentada “uma seleção das melhores versões restauradas de clássicos do cinema, da responsabilidade de arquivos de cinema, instituições culturais e produtoras de todo o mundo”.

O filme “A Herdade” conta a história de uma família dona de uma propriedade latifundiária, e ao mesmo tempo traça "o retrato da vida histórica, política, social e financeira de Portugal, dos anos 40, atravessando a revolução do 25 de Abril e até aos dias de hoje", segundo na sinopse.

"A Herdade", já confirmado também no festival de Toronto, chegará aos cinemas portugueses a 19 de setembro.

O filme “Cães que ladram aos pássaros”, por seu turno, "acompanha os dias de verão de Vicente e da sua família, obrigados a sair da sua casa no centro do Porto, por força da especulação imobiliária", segundo a produtora.

Iniciado a 28 de agosto, com a estreia de "La vérité", do realizador japonês Hirokazu Kore-eda, o festival de cinema de Veneza termina hoje com a exibição "The Burnt Orange Heresy", do realizador italiano Giuseppe Capotondi, no qual entra o músico Mick Jagger.