“Os mais ricos percebem mal, olham para Nelson Mandela e veem-no como dono, embaixador, santo, papa, Gandhi”, lamenta em entrevista dada à Lusa antes de os sete músicos do Soweto, juntos desde 2003, entusiasmarem o público na noite de sexta-feira.

“Estamos a falar de um ser humano, que contribuiu muito para o nosso país, que esteve preso 27 anos, mas não esteve preso sozinho”, destaca, referindo-se ainda a Mandela, líder histórico da África do Sul. “É um símbolo muto importante, que não precisa de ser santificado, até porque, como todos os seres humanos, teve as suas falhas”, relativiza o músicos. “É um belo exemplo, uma bela história sul-africana”, concede.

A herança de Mandela é “a herança do povo”, concorda Kgomotso Mokone, a mulher do grupo. Os sul-africanos carregam essa herança. “Quer queiramos, quer não, carregamo-los connosco, porque, sem eles, a história da África do Sul não era esta”, frisa “Jovi", comparando: “Não se pode ser um músico afroamericano sem carregar às costas Malcom X, Martin Luther King, Obama.”

Ser sul-africano é “ser simpático, positivo face à adversidade”, descreve, destacando a filosofia ubuntu, que assenta no “respeito pelas pessoas, mesmo que te façam mal, porque todos podemos cometer erros”.

Para “Jovi", “claro que há desafios, questões políticas” na África do Sul. “Mas, felizmente, não sabemos muito sobre política, não nos concentramos muito nisso, focamo-nos em coisas que nos podem unir. Olhamos para os políticos como seres humanos, em exercício de funções, como os presidentes dos conselhos de administração”, sujeitos à mudança e que não vão ficar no poder para sempre, refletem, filmados junto ao canhão que se debruça sobre a baía de Sines, na parte de trás do castelo.

O espetáculo dos BCUC “é algo que nunca viram, mas com o qual são muito familiares”, resume “Jovi", descrevendo as letras das músicas que tocam como “encorajadoras. cheias de amor, sem ego, sem superestrelas”. Os BCUC – acrónimo para Bantu Continua Uhuru Consciousness – vão beber à música tradicional “indígena”, numa “mistura única”.