“Close to me” é o terceiro disco da cantora, a viver na Holanda há 12 anos e com um percurso no jazz, e o primeiro totalmente cantado em português.
A ideia de “pegar no fado e no folclore português, e tê-los como ponto de partida para um conceito criativo musical mais moderno e mais conceptual”, recordou em entrevista à Lusa a partir da Holanda, surgiu na sequência de um convite, há dois anos, para integrar as festividades do Dia do Jazz, em Roterdão.
“Pediram-me que pegasse num tema folclórico holandês, de Roterdão, e desse uma reviravolta para jazz e eu decidi fazer uma composição mais longa, adaptando o ‘Barco Negro’ juntamente com esse tema holandês”, recordou.
A “descoberta musical” ao trabalhar o tema de Amália Rodrigues de uma forma “muito mais conceptual e muito diferente”, “foi tão interessante”, que para Maria Mendes “tornou-se mais forte a ideia de poder dedicar o terceiro disco fazendo esse jogo de adaptações, de alterações harmónicas, melódicas”.
A escolha dos temas incluídos em “Close to me” incidiu “na poesia das canções”. “Selecionei pelo lado poético, de gostar da letra, de a letra me dizer alguma coisa”, partilhou.
Entre os 11 temas que compõem o disco há adaptações de alguns fados “menos conhecidos”, como “Asas Fechadas”, de Amália, e outros “um bocadinho mais óbvios”, como “Foi Deus” e “Tudo isto é fado”, da mesma fadista.
Do guitarrista Carlos Paredes, Maria Mendes escolheu trabalhar “Verdes Anos”, “por ser um tema que já foi muito feito e adaptado em várias versões”.
“Aqui o desafio foi arranjar uma versão muito diferente, em que conseguisse dar-lhe um ‘groove’ muito diferente e não tão melancólico como o original”, referiu.
“Close to me” inclui também versões de “dois fados modernos”: “Há música do povo”, de Mariza com letra de Fernando Pessoa, e “E se não for Fado”, de Mafalda Arnauth.
Este último, considera Maria Mendes, tem “uma temática muito interessante e muito representativa” do disco: “a poesia brinca com o fado ‘e se ele não for negro, mas for pintado de todas as cores’, ‘e se tiver a voz de Deus, mas for uma voz em tempos ateus'”.
Mas “Close to me” não é apenas um álbum de versões. Inclui também três originais de Maria Mendes, dois com letra e um com ‘scat’, e um tema escrito por “um dos gurus musicais” da cantora, o compositor e multi-instrumentista brasileiro Hermeto Pascoal, “que escreveu um fado dele, ao jeito dele, que não letra, que no fundo é quase como uma canção brasileira”.
Além de Maria Mendes e do trio que a acompanha há cerca de fez anos, o disco conta com a participação da Metropole Orkest, orquestra holandesa de jazz sinfónico.
A decisão de incluir a orquestra no disco surgiu no momento final da adaptação musical e arranjos, que Maria Mendes partilhou com o produtor do álbum, John Beasley, “um dos maiores produtores e diretores musicais de jazz internacional”.
“Quando estivemos a trabalhar estes temas na fase final, começámos a ouvir camadas de orquestra e começou a ficar na nossa cabeça tudo muito orquestrado”, recordou.
Bastou um contacto com o diretor artístico da Metropole Orkest, a quem Maria Mendes falou do “projeto que nunca tinha sido desenvolvido no mercado discográfico até o momento e ele achou a ideia interessantíssima”.
“Eu não tinha nada para lhe mostrar. Foi à confiança do meu trabalho anterior e do facto de o John Beasley também estar incluído no projeto”, contou.
Maria Mendes fala de “Close to me” como “uma voz que ainda não foi escutada”. “É um estilo de música que estamos a tentar criar, que ainda não foi feito e isso motivou-nos a todos com enorme paixão para que o resultado fosse este”, disse.
O álbum, no qual trabalhou uma equipa de cerca de 50 pessoas, foi editado na sexta-feira e Maria Mendes irá apresentá-lo em Portugal em novembro, no âmbito do Misty Fest.
Ao todo serão quatro concertos, dois a 05 de novembro no Teatro São Luiz, em Lisboa, e outros dois a 07 de novembro na Casa da Música, no Porto.
“São salas pequenas, eu quis trabalhar muito o conceito intimista de quando se vai a casas de fado, e vamos dessa dicotomia de quase 50 músicos em palco para um quarteto”, afirmou.
Nos espetáculos, Maria Mendes estará acompanhada da banda com quem gravou os dois álbuns anteriores, a “família musical” que criou há dez anos e “agora, finalmente”, consegue trazer pela primeira vez a Portugal.
O trio que acompanha a cantora é composto por Karel Boehlee no piano, Jasper Somsen no contrabaixo e Jasper van Hulten na bateria e percussão.
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