O Cravo Taskin está já classificado como Tesouro Nacional, e este Cravo Antunes, ‘irmão’ do outro Antunes, de 1758, vai em breve iniciar o processo de classificação como “Tesouro Nacional”.
O Cravo Taskin foi construído por Pascal-Joseph Taskin, em 1782, uma encomenda do rei Luís XVI, de França para o oferecer à sua irmã Ana Clotilde, tendo posteriormente sido propriedade da Casa Real de Saboia. Já no século XX, ficou na posse do último rei de Itália, Humberto II, que, quando se exilou em Portugal, o ofereceu à marquesa do Cadaval, Olga di Robilant Álvares Pereira de Melo (1900-1996), em agradecimento por ter recebido a sua família em sua casa.
Os herdeiros da marquesa pretenderam vender o Cravo Taskin, num leilão, em Londres, em 2001, tendo o Estado português evitado a sua saída do país, ao adquiri-lo. Passou então a fazer parte das coleções do MNM.
Sobre o restauro, a diretora do MNM, Graça Mendes Pinto, disse que “primeiro foi necessário analisar e verificar o que era necessário para que ele voltasse a tocar – e com o som de um cravo deste período e deste construtor”.
Este processo exigiu colaborações de vários especialistas, que se reuniram no museu, questão que Graça Mendes Pinto considera como mecenato, argumentou.
O processo de restauro do Cravo Taskin, profusamente decorado com motivos orientais, desenvolveu-se em várias fases.
A que permitiu que o instrumento volte a soar, foi da responsabilidade do restaurador Ulrich Weimer, que há muito trabalha com este tipo de cordofones, e já tinha restaurado um outro Taskin.
Weimer, que chegou a trabalhar doze horas consecutivas no instrumento, é o responsável pela parte organológica, tendo realziado todos os trabalhos de análise, filmagem e de colocação de cordas.
Um restaurador, com oficina nos arredores de Lisboa, Geert Karman, que trabalha habitualmente com o MNM, ficou responsável por um novo conjunto de saltarelos do instrumento (os antigos estão preservados), pela harmonização e a afinação (o saltarelo é uma peça que se eleva, quando uma tecla é pressionada, pondo o plectro em contacto com a corda, provocando a sua vibração).
A parte estética e solidez do instrumento ficaram a cargo do laboratório José de Figueiredo, em Lisboa.
O laboratório tem equipas especializadas nas diferentes áreas, desde as madeiras ao entalhamento, passando pela pintura, o douramento e talha dourada.
“Foi um processo muito cuidadoso, que teve em conta não ser intrusivo, retirou antigos restauros abusivos, nomeadamente as purpurinas utilizadas para substituir a folha de ouro”, disse Graça Mendes Pinto.
A responsável afirmou não ter ainda o cálculo final dos custos, garantindo todavia que se encontram abaixo do previsível, “graças à boa vontade da equipa de resaturo”. E “valeu a pena para este tesouro nacional estar perfeitamente capaz para ser exposto e tocável”, acrescentou.
Atualmente apenas se conhecem oito cravos construídos pelo belga Pascal-Joseph Taskin (1723-1793).
O cravo existente em Lisboa terá provavelmente a história mais rica, ao ter estado na posse de duas casas reais. E, conforme resultou da análise feita durante o restauro, “incorpora ainda elementos de um outro construtor afamado, Andreas Ruckers”.
“Possivelmente, Taskin pegou num instrumento de Ruckers, mestre muito conceituado do século XVII, e transformou-o, fazendo este cravo para o monarca francês”, disse Graça Mendes Pinto.
O Cravo Taskin poderá ser escutado em julho próximo, no âmbito do VI ciclo “Um Músico, Um Mecenas”, que se realzia no MNM, situado no Alto dos Moinhos.
O Cravo é um instrumento de tecla com cordas dedilhadas. A sua forma exterior aproxima-o do piano de cauda, enquanto que o som que produz remete para cordofones, tendo sido um instrumento habitual nos serões palacianos, até finais do século XVIII.
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