Foi em 2007 que se tornou claro que Angelina Jolie e o seu noivo na altura, Brad Pitt, queriam alugar uma casa no sul de França. E assim foi, de acordo a Vanity Fair. Na primavera desse ano, o casal instalou-se com os quatro filhos, que tinha à data, num castelo neste mesmo local.

A família gostou tanto do sul de França que mais tarde decidiu encontrar uma propriedade maior e mais isolada, não para alugar, mas para comprar. Assim, compraram um magnífico castelo com uma propriedade de 500 hectares e vinha, com o nome Château Miraval.

A propriedade encontra-se 80 quilómetros a leste de Aix-en-Provence e nos arredores da pequena cidade de Correns, com 830 habitantes, algo que permitia às estrelas de Hollywood viverem uma vida relativamente isolada e longe do grande público.

O que as estrelas não sabiam era que Miraval era particularmente conhecido há séculos pela produção de vinho, anteriormente produzido por uma família nobre italiana de cinco gerações, que por sua vez vendeu a propriedade em 1972 ao músico de jazz francês Jacques Loussier.

Neste mesmo local, o artista produziu vinho tinto, branco e rosé, e converteu uma antiga torre de água num estúdio de gravação, que atraiu artistas como Sting, Sade, Elton John e Pink Floyd, que gravaram no local o seu álbum de sucesso de 1979, The Wall.

No seu interior, o edifício principal da quinta tem um total de 35 quartos e a propriedade inclui também uma pequena capela, rodeada de jardins, uma floresta de carvalhos, vários olivais — que produzem também azeites premiados — e 40 hectares de vinhas, algumas delas centenárias. Parte das edificações mais antigas datam do século XVII.

Em 1992, o Miraval foi de novo comprado por um importante engenheiro da Academia Naval dos Estados Unidos (EUA), Tom Bove, e pela sua família por aproximadamente 5 milhões de dólares, segundo a Vanity Fair. Bove fez uma fortuna no negócio do tratamento de águas antes de pegar no negócio do vinho. Mais tarde, intensificou a operação de vinificação da propriedade, produzindo uma pequena seleção de safras, incluindo o Pink Floyd rosé, que lançou em 2006.

Entretanto, com a morte da sua esposa, Bove decide seguir em frente e colocar Miraval no mercado. Foi precisamente nesta altura que apareceu o casal mais famoso da América do Norte.

Foi então em 2008 que assinaram o negócio de compra da propriedade, por 60 milhões de dólares, já Angelina estava grávida dos gémeos Knox Léon e Vivienne Marcheline. Na altura, o gestor de negócios de Jolie sugeriu adicionar uma cláusula no acordo final estipulando que, caso o casal se separasse, cada um teria o direito a comprar a parte do outro no Miraval. Pitt rejeitou a ideia, sublinhando que tal não seria necessário "para duas pessoas razoáveis". No entanto, quando em 2016 o casal efetivamente se divorciou, e no meio de todas as polémicas, Jolie acabou por negar a existência de qualquer acordo e terem falado sobre o assunto.

Após inúmeras situações tornadas públicas que levaram à separação do casal em 2016, como lutas em jatos privados, violência doméstica e batalhas pela custódia de menores, no meio esteve sempre esta propriedade no Sul de França e as vinhas que se tornaram a grande paixão do ator. Metade destas acabariam por ser vendidas sem o acordo de Pitt, a 5 de outubro de 2021, à empresa de produção de bebidas detida por Yuri Shefler, empresário russo que chegou a ser dono de um dos maiores iates do mundo e que distribui por todo o mundo as vodkas Stolichnaya e Moskovskaya.

Depois de saber da venda, Pitt processou a ex-mulher em fevereiro de 2022, argumentando que o casal tinha concordado em nunca vender os seus interesses na propriedade sem o consentimento do outro. Acusou ainda Jolie de procurar lucros "não merecidos" e causar danos comerciais, sendo que destas vinhas saía o vinho Rosé que atingiu um preço recorde nunca antes registado até 2019: 2600 euros por uma garrafa de Muse de Miraval.

Numa queixa consultada pela AFP, os advogados de Pitt argumentam que "Jolie procurou infligir danos a Pitt" com a venda e descrevem Shefler como "um estranho com associações e intenções suspeitas". Acusam ainda Shefler de "manter relações pessoais e profissionais com indivíduos do círculo íntimo de Vladimir Putin", apesar do empresário ser publicamente um crítico ferrenho do presidente russo e do seu conglomerado de bebidas, Stoli Group, estar sediado na Letónia.

Inclusivamente, em março de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, Shelfer divulgou um comunicado onde afirmava que estava "exilado da Rússia desde 2002 devido à oposição a Putin" e renomeou a sua empresa em "solidariedade com a Ucrânia".

Porém, isso não impediu a defesa de Pitt de argumentar em tribunal que, "apesar da tentativa desesperada de Shefler de se dissociar do regime de Putin, a marca Stoli é agora um enorme risco internacional".

"Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, a seguradora do Château Miraval procurou garantias de que Shefler não está alinhado com Putin e que a ligação à Stoli não criaria riscos comerciais", diz o documento. E acrescenta: "A vodka Stoli é sinónimo de Rússia".

A queixa de Brad Pitt inclui também o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman dentro da suposta "rede de associados profissionais de má reputação" de Shefler, que "ameaça causar danos duradouros à reputação de Château Miraval".

Como desenvolvimento mais recente de toda esta polémica, Brad Pitt foi acusado de agir como uma “criança petulante” que “saqueou” as vinhas francesas, de acordo com um recente processo judicial, citado pelo jornal britânico The Telegraph.

De acordo com o novo processo, o ator supostamente gastou milhões de dólares em "projetos de vaidade", incluindo reformas de piscinas, um estúdio de gravação e a reconstrução por quatro vezes de uma escada no Château Miraval.

A Nouvel, empresa fundada por Jolie antes de ser vendida pela atriz ao Stoli Group, está a processar o ator Pitt e os seus “co-conspiradores” e quer obter 350 milhões de dólares (317 milhões de euros) em compensações.

O processo, aberto na Califórnia no mês passado, alega que Pitt “se envolveu em ações cada vez mais ultrajantes para manter o controlo” de Miraval enquanto “despojava” os seus ativos.

Os advogados da Nouvel afirmam que a “má conduta” de Pitt aumentou depois de Jolie ter vendido a sua parte das vinhas, que pertenciam à sua empresa Nouvel.

"Irritado por Jolie ter vendido a Nouvel à Stoli em vez de a ele, Pitt agiu como uma criança petulante, recusando-se a tratar a Nouvel como um parceiro igual no negócio", segundo o documento obtido inicialmente pelo Financial Times e citado pelo The Telegraph.

A empresa afirma que Pitt gastou "quase um milhão de euros por ano a reconstruir constantemente paredes de pedra com pedreiros da Croácia" e cerca de 3 milhões de euros em despesas não especificadas, como "trabalho de vestuário".

Acusam ainda Pitt de ter “delineado um plano até agora bem-sucedido para assumir o controlo do Château Miraval” ao recusar-se a nomear diretores neutros para a empresa e, assim, manter a Stoli fora da empresa.

Os representantes da Nouvel também acusaram Pitt de realizar uma "campanha de difamação falsa e xenófoba digna do próprio [Vladimir] Putin" contra Shefler, que garantem ter sido forçado a fugir da Rússia por criticar o Kremlin.

Os advogados de Pitt tinham afirmado que Jolie não fez nenhuma contribuição significativa para o sucesso do Miraval, mas "permaneceu enquanto Pitt investia dinheiro e suor na casa e nos negócios".

No último processo judicial, o advogado da Nouvel disse: "A união de Jolie e Pitt é o que tornou a marca Miraval um sucesso… Pitt é um ator, não um enólogo. Ele lida com ilusões, não com sujidade e uvas”.