Na cerimónia de lançamento do volume zero, a primeira tese de licenciatura de Mário Soares, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, o coordenador da coleção, José Manuel dos Santos, salientou que, além do “valor bibliográfico, historiográfico e politológico” desta obra, existe também um “indiscutível valor de pedagogia cultural e cívica”.
“Com a publicação dos sucessivos volumes destas obras, temos acesso a valiosas e insubstituíveis fontes da história do século XX e do princípio do século XXI, e ser-nos-á dado um retrato — outro retrato — de um homem que foi fundador da nossa democracia e a seguir nela foi tudo, sendo, por isso, o nosso contemporâneo fundamental”, salientou.
Segundo José Manuel dos Santos, a coleção irá publicar cartas, livros, documentos, imagens, textos políticos, culturais ou jurídicos, que compõem uma “matéria-prima enorme”, “desmedida”, encerrada no “arquivo oceano ou talvez mesmo galáxia” do antigo chefe de Estado português.
“Se há palavra que não é estranha a Soares, essa palavra é grandeza. Havia nele uma desmesura que se tornava a régua e a regra de tudo, essa era também uma forma que ele tinha de ser livre”, frisou Manuel dos Santos, que foi também colaborador direto ao longo de várias décadas e membro do chamado “núcleo duro” de Mário Soares.
O coordenador salientou ainda que a obra “é de um político, mas é o contrário de uma coleção de propaganda política”, sendo todos os volumes “criticamente contextualizados por historiadores, amplamente documentados, minuciosamente anotados”.
“Para que tudo isto possa acontecer, está a ser realizado um persistente e profundo trabalho de inventariação, investigação, decifração e transcrição de manuscritos. Este árduo trabalho que exige tempo é feito sobretudo a partir do precioso e inesgotável arquivo Mário Soares (…) mas também de outros arquivos e bibliotecas”, salientou.
O diretor da unidade de edição e cultura da Imprensa Nacional — Casa da Moeda, responsável pela edição da coleção, Duarte Azinheira, mostrou-se “entusiasmado pela magnitude do desafio”.
“A coleção ‘Obras de Mário Soares’ é um grande projeto editorial que se decompõe em várias fases, um laborioso trabalho de investigação. O espólio tem cerca de três milhões de documentos”, afirmou.
Em representação da família, a filha de Mário Soares, Isabel Soares, recordou algumas das facetas do pai, relembrando a sua biblioteca composta por “muitos milhares de livros” espalhados pelas várias divisões da casa, onde o antigo estadista circulava sabendo “exatamente onde estavam todos e cada um”.
“Penso que nenhuma homenagem lhe daria mais prazer do que a edição desta coleção. O meu pai era (…) um político que queria ser escritor e que foi escritor ao ter sido político. Disse-o vezes sem conta, que o seu sonho era ser escritor”, frisou.
Foi hoje lançada a coleção “Obras de Mário Soares”, coordenada pelo escritor José Manuel dos Santo, e que tem como volume zero a primeira tese de licenciatura do ex-presidente e primeiro-ministro português, intitulada “As ideias políticas e sociais de Teófilo Braga com notas de leitura de António Sérgio e cartas sobre a obra”.
A coleção “Obras de Mário Soares” tem uma comissão científica da qual fazem parte vários historiadores e académicos, casos de António Reis, Bernardo Futscher Pereira, David Castaño, Fernando Rosas, Irene Flunser Pimentel, José Manuel dos Santos, José Pacheco Pereira, Maria Fernanda Rollo, Maria Inácia Rezola, Mário Mesquita e Nuno Severiano Teixeira.
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