Criados em 2016, a discografia dos portugueses, composta por um EP (homónimo, em 2016) e por um álbum (“Unsettling Whispers”, em 2018), foi sempre editada no estrangeiro, primeiro pela italiana Everlasting Spew e depois pela indiana Transcending Obscurity, chegando agora a uma das maiores editoras de metal do mundo.
Segundo a página da banda na francesa Season of Mist, a digressão europeia que os vai levar a apresentar “Limbo” começa no dia 28 de janeiro de 2021, em Varsóvia, na Polónia, com Harakiri for the Sky e Schammasch, e prossegue até 14 de fevereiro por países como República Checa, Alemanha, Bélgica, Países Baixos, França, Espanha e Áustria.
Em declarações à Lusa, um dos membros da banda, que atuam de cara tapada e afirmam não querer dar a conhecer as suas identidades, reconheceu que podia dizer que não estavam à espera desta afirmação internacional tão rápida, mas “a verdade é que [trabalharam] para isto”.
“Não quer dizer que te pudesse dizer, no ano passado, que estaríamos na editora em que estamos e que teríamos uma ‘tour’ anunciada para o próximo ano com uma das maiores agências europeias de ‘booking’ de metal extremo, mas a verdade é que nunca deixámos de acreditar neste projeto, mesmo nos momentos mais complicados”, afirmou o músico, salientando que o grupo “trabalha diariamente a todo o custo para isto”, dando como exemplo o facto de serem os próprios a enviar as encomendas que recebem do público e de estarem “sempre a pensar em formas de fazer essas encomendas mais ‘bonitinhas’ para as pessoas que as recebem em casa”.
Para a banda, “todas essas pequenas coisinhas, que parecem insignificantes, o carinho que [é colocado] numa encomenda, a mensagem, o postal, essas pequenas coisas que parecem tão alienígenas para uma banda de metal extremo, essa atenção aos pormenores foi superimportante e é uma coisa a que [é dado] todo o valor”.
Ao longo dos registos de estúdio, anteriores, a banda desenvolveu um conceito a que chamou “a Sociedade do Vórtex”, que encontra em “Limbo” uma “espécie de tentativa de ponto final o mais definitivo possível” e que estará explicado num livrete de 16 páginas que acompanhará o CD, da mesma forma que já tinham feito com “Unsettling Whispers”.
Assumidamente influenciados pela escrita do norte-americano Thomas Ligotti, um dos mais influentes autores de horror – e em especial horror cósmico – da viragem entre o século passado e o atual, os Gaerea encontram referências artísticas noutros nomes literários como José Saramago, mas também nas artes visuais de Bill Viola e Denis Villeneuve, entre outros.
“Nós quando estamos em ‘tour’ tentamos sempre tirar algum tempo para vermos coisas que não poderíamos ver na nossa sociedade, sejam museus, galerias. Não vale a pena andares na estrada simplesmente a conviveres com as pessoas que estão ali para te ver, não vale a pena teres toda essa vida frenética se não conseguires tirar um pouco de tempo para te cultivares, ou simplesmente para te sentares na cidade e veres como é que a cidade funciona”, disse à Lusa o músico da banda que nos últimos anos andou por múltiplos países, com particular destaque para oito datas na China como cabeça de cartaz, em maio do ano passado.
Sobre essa experiência, o artista com quem a Lusa falou salientou que se trata de “um mundo completamente diferente” que deixou a sua marca na banda e ajudou a “desbloquear o conceito” para o novo disco: “Não estávamos à espera de todo de muitas das reações que tivemos, não estávamos sequer com alguma perspetiva de como é que seria o mundo do metal na China, mas percebemos que são pessoas que amam tudo o que vem do Ocidente e querem perceber como é que tudo funciona”.
“O melhor que pudemos fazer foi o mesmo: vermos os templos, os mercados, falarmos com as pessoas, ou seja, percebermos o que é que os motiva e move dentro do nosso meio, isso ajudou-nos bastante. Acima de tudo, a grande influência de Gaerea, para além da arte, são mesmo as pessoas”, disse o músico à Lusa.
Sobre o confinamento a que o país foi forçado devido à pandemia de covid-19, o membro de Gaerea afirmou que, apesar de a classe artística ser das que mais estão a sofrer com o impacto das medidas de prevenção, a banda manteve-se “completamente operacional”, gravando os ‘videoclips’ que tinha de gravar e produzindo o que tinha de produzir.
“Íamos ter um ano bastante ocupado, íamos lançar o álbum em plena ‘tour’ de festivais. Mesmo lidando com isso tudo e termos perdido algum dinheiro, tivemos de arranjar alguma força para nos mantermos em pé e fazer as coisas que realmente importavam que era fazer este disco”, referiu o músico.
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