Ao escrever este romance, James Baldwin, negro e homossexual, que sempre se afirmou na luta contra o racismo e a homofobia, “quebrou mais do que um tabu: um escritor negro a escrever sobre o amor entre dois homens brancos”, refere a editora.
Tanto assim é que, na altura em que foi escrito (1956), o editor de Baldwin aconselhou-o a queimar o manuscrito, mas volvido este tempo “O quarto de Giovanni” é hoje uma das suas obras mais célebres.
James Baldwin destacou-se desde cedo como romancista, ensaísta, poeta e dramaturgo, mas a par disso notabilizou-se como uma das vozes mais influentes do movimento de direitos civis e foi o primeiro artista afro-americano a aparecer na capa da revista Time.
“O quarto de Giovanni” foi o segundo romance de James Baldwin - a seguir a “Se o disseres na montanha”, editado em Portugal no final do ano passado -, “uma obra de culto que o firmou definitivamente como um dos grandes escritores americanos do século XX”, segundo a editora.
Até há dois anos, nada ainda tinha sido publicado deste autor em Portugal, apesar de já ter morrido há mais de 30 anos e de o seu primeiro livro datar de 1953.
A obra daquele que é considerado um dos nomes maiores da literatura americana e uma das vozes mais influentes do movimento dos direitos civis só começou a chegar às livrarias portuguesas em 2018, um ano após a estreia do documentário "Eu não sou o teu Negro", baseado no livro inacabado de James Baldwin "Remember this house".
Com a sua entrada no catálogo da Alfaguara, chancela do grupo Penguin Random House, foi publicado “Se esta rua falasse”, um “romance-manifesto” original de 1974, contra a injustiça da justiça, que narra a história de amor de um casal de jovens negros, de classes sociais baixas, que se vê forçado à separação, quando o rapaz é preso sob uma falsa acusação de violação.
No ano seguinte, a Alfaguara trouxe para Portugal aquele que foi o primeiro livro, e o primeiro romance, de James Baldwin, “Se o disseres na montanha”, considerado a sua obra mais importante e aquele que o próprio autor disse que escolheria, se só pudesse escrever um livro na vida.
Inspirado na juventude do autor, a história passa-se no seio de uma comunidade discriminada e aborda a procura da própria identidade e da autodeterminação, face à religião, à descoberta da sexualidade, ao despontar da homossexualidade, e ao destino que os outros lhe querem impor.
“O quarto de Giovanni”, que chega às livrarias portuguesas no dia 30 de junho, foi considerado pela BBC “um dos 100 romances que moldaram o nosso mundo”; pelo The Guardian, “uma preciosidade” e “uma obra de tremenda imaginação e fulgor”; e, pelo San Francisco Chronicle, uma obra “de uma beleza aterradora”.
O premiado escritor e crítico literário irlandês Colm Tóibín afirmou que “Baldwin prova neste romance que era capaz de fazer milagres com as sombras e os matizes da intimidade”.
Trata-se da história de David, um jovem nova-iorquino que vive ao sabor dos dias, em Paris, cidade onde procura tomar as rédeas da vida enquanto a noiva passa uma temporada em Espanha.
“Numa noite de farra num bar clandestino, David conhece Giovanni, um 'barman' italiano, luminoso, sedutor, impertinente, e sente-se irremediavelmente atraído”, descreve a editora.
Os dois homens entregam-se a uma relação intensa, confinada ao quarto de Giovanni, com a nuvem do retorno iminente de Hella a pairar sobre os amantes.
Um postal anuncia a volta da noiva a Paris, e este regresso exige que David escolha entre a normalidade de uma vida segura com Hella e a incerteza de um futuro ao lado de Giovanni, uma decisão que “culminará numa tragédia inimaginável”.
“Impregnada de paixão, arrependimento e desejo, esta é a história de um trágico triângulo amoroso. E uma obra de culto merecido, que questiona a identidade de vários ângulos”, acrescenta a editora.
James Baldwin nasceu em Nova Iorque, em 1924, no bairro de Harlem, onde cresceu e estudou, tendo partido para França em 1948, fugindo ao racismo e à homofobia do seu país de nascimento.
O primeiro romance que escreveu foi recebido com excelentes críticas e, antes de publicar o segundo, deu à estampa um ensaio e uma peça de teatro.
Entre as suas obras mais importantes ainda não publicadas em Portugal, encontram-se “The fire next time”, “Going to meet the man”, “Notes of a native son” e “Another country”.
“Se esta rua falasse” foi adaptado ao cinema em 2018, por Barry Jenkins, o realizador de “Moonlight”, que recebeu o Óscar de Melhor Filme em 2016.
James Baldwin morreu em 1987, no sul de França, um ano depois de ter sido nomeado Cavaleiro da Legião de Honra Francesa, deixando duas dezenas de títulos publicados.
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