“É uma série que quer ser o mais aproximado possível à realidade que a Cesária viveu, obviamente tendo alguma liberdade criativa para tocar algumas notas de fantasia, mais líricas e mais oníricas. Uma vez que a série é muito musical, eu gostava que a música pudesse transpor esse visual, pudesse ter uma cor ou linguagem visual nesta série”, afirmou o realizador português.
“Sodade”, com oito episódios, é uma produção da Lanterna de Pedra Filmes, com um orçamento de 2,4 milhões de euros e que está em fase de finalização de escolha de elenco, que será encabeçado pela cantora cabo-verdiana Eliana Rosa.
Segundo Hugo Diogo, a rodagem deverá começar no primeiro trimestre de 2022, com filmagens em Lisboa, no Mindelo e ainda em Paris, contando com a participação do realizador franco-senegalês Alain Gomis em alguns episódios.
O produtor português referiu também que contará com coprodução da Argentina e espera fechar ainda coproduções com os Estados Unidos e França, reconhecendo algumas dificuldades em concretizar o projeto.
“A série tem de ser equilibrada, tem de falar em português e obviamente temos a língua crioulo constantemente a ser usada na série, e talvez seja esse o maior problema depois na internacionalização e no financiamento da série. Temos muitas produtoras interessadas em participar no projeto, mas depois quando se começa a chegar aos detalhes técnicos e quando se começa a perceber que a língua é o português e o crioulo já encontramos alguns obstáculos”, constatou.
A produtora aguarda ainda uma resposta da RTP, à qual o projeto foi submetido para exibição.
“Sodade” não é um ‘biopic’ sobre a “diva dos pés descalços” que morreu aos 70 anos, em dezembro de 2011.
“Não será bem um ‘biopic’, porque há alguma liberdade para nos inspirarmos em algumas situações e se calhar transformá-las. Mas é tudo baseado em contos, na biografia da Cesária que saiu há pouco tempo pela jornalista polaca [Elzbieta Sieradzinska] e de situações contadas na primeira pessoa, por pessoas que partilharam a vida com ela”, explicou.
A ideia de Hugo Diogo é “contar a história dela desde a infância até à hora da morte, até ao dia em que ela morre e está a ser entrevista por um jornalista”.
“Não foi uma vida muito fácil, nem na infância nem na adolescência. Uma vida sempre com o coração partido, com muitas despedidas pelo meio, talvez anunciadas pelas mornas e pela música que a ajudava a viver. Teve uma vida muito complicada”, explicou.
Hugo Diogo é autor dos filmes “Lua azul” (2002), “Incógnito” (2003), “Marginais” (2010) e “O tempo de duas músicas” (2010).
Cesária Évora, “Cise”, a “diva dos pés descalços” como era tratada pela imprensa, nasceu em 1941 na cidade do Mindelo, no seio de uma família de músicos.
Numa das muitas entrevistas que deu, certa vez afirmou: “Tudo à minha volta era música”. O pai, Justiniano da Cruz, tocava cavaquinho, violão e violino, e entre os amigos contava-se o mais emblemático compositor cabo-verdiano, B.Leza.
A independência de Cabo Verde, em 1975, coincide com o início de um período difícil de vida da artista, que deixou de cantar e enfrentou problemas com o alcoolismo.
Em 1985 a convite de Bana, proprietário de um restaurante e uma discoteca em Lisboa, Cesária Évora ruma a Lisboa, onde grava um disco que passou despercebido à crítica, seguindo depois para Paris, ponto de partida para outros palcos do mundo.
Em 1988 grava “La diva aux pied nus”, álbum aclamado pela crítica. Nesta fase da sua carreira tem um papel fundamental, que se manteve até ao final, o empresário José da Silva (“Djô”). Em 2004 recebeu um Grammy pelo disco “Voz d’Amor”.
Em setembro de 2011, numa entrevista ao jornal francês Le Monde, Cesária Évora afirmava que tinha de terminar a carreira por aconselhamento médico. Nesse mesmo dia, foi internada em Paris por ter sofrido “mais um acidente vascular cerebral”. Morreu a 17 de dezembro de 2011.
Comentários