Em 62 anos de carreira, Simone de Oliveira não se lembra de um momento como este, em que todas as salas de espetáculos encerraram por alguns meses e os profissionais do setor ficaram sem poder trabalhar.
“Nunca tal me aconteceu. Eu já perdi a voz, lá recuperei a voz, já passei as passas do Algarve com alguns problemas de saúde, mas nesta altura este confinamento é muito complicado”, partilhou com a Lusa, numa conversa telefónica.
Ao fim de três meses confinada em casa, sem poder ensaiar ou atuar, regressa aos palcos no domingo, às 18:00, a convite do Tivoli. Mas Simone de Oliveira achou que neste regresso “não devia estar sozinha”, por isso convidou os cantores FF, Sissi Martins, Ruben Madureira, FF e António Zambujo para a acompanharem, além dos músicos Muno Feist (piano) e Armando Ribeiro (saxofone).
“Vamos todos cantar o melhor que sabemos, o melhor que podemos, uns com os outros, umas vezes sozinhos e outras acompanhados”, revelou.
Simone admite que o espetáculo irá acontecer num dia “complicado, porque é domingo e às seis da tarde e as pessoas com este tempo vão para a praia”.
“Vamos esperar que a casa tenha pessoas, que se lembrem de nós porque nós precisamos do público, porque é a nossa vida. A nossa vida é feita com o público e é dele que nós ganhamos para pagar as nossas coisas”, referiu.
A cantora lembra que os profissionais do espetáculo estão “parados há muitos meses”. “Sem absolutamente nada, porque nós não temos subsidio de coisa nenhuma. Eu estou há 62 anos a trabalhar a recibos verdes”, contou.
Antes da pandemia, Simone de Oliveira estava em ensaios com o encenador Filipe La Féria, que tem na calha um espetáculo de homenagem à atriz Laura Alves.
“Acabámos os ensaios no dia 08 de março e vim para casa no dia 09”, recordou.
Desde então não trabalhou mais, até agora. O facto de ter “trabalhado muito nos últimos dois verões, com o [cantor] David Antunes” e de não ser “de desvarios, nem de grandes gastos”, permitiram-lhe viver estes meses sem grande preocupações financeiras.
Mas sabe que nem todos os profissionais do espetáculo tiveram a mesma sorte, por isso, apela ao público para que se lembre “não só de quem canta ou de quem representa, mas de todos os outros que estão atrás e são milhares de pessoas, algumas a passar fome”.
“Eu lamento que a nossa ministra [da Cultura, Graça Fonseca] não saiba nada de nós. Quando digo nada, é nada. Nunca foi a um circo, não é ver o circo é ir atrás do circo, nunca foi a um espetáculo de teatro, atrás, os meses que se leva ensaiar, não sabe os medos que nós temos, o medo de não receber, o medo de não ter dinheiro para pagar a renda da casa”, afirmou.
Simone de Oliveira gostava um dia de se sentar com Graça Fonseca para lhe dizer: “A senhora tem que ouvir várias coisas que eu tenho para lhe contar, em 62 anos de vida”.
“Em relação à Cultura nós tivemos sempre uns ministros e umas ministras... Nunca mais me esqueço de uma ministra da Cultura que dizia que dizia que não gostava de fado, detestava fado, a única pessoa de quem gostava era a Amália. Dava vontade de rir. Se houve alguém que cantou fado maravilhosamente, e não cantará ninguém como ela cantou, foi a Amália”, disse.
Depois do Tivoli, Simone de Oliveira tem já outro espetáculo agendado, no dia 24 de julho no Fórum Cultural de Alcochete, mas aí estará sozinha em palco, “a cantar e a contar histórias”.
Comentários