O edifício do teatro situado no Rossio, em Lisboa, vai receber obras no próximo ano, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do investimento destinado à valorização, salvaguarda e dinamização do património cultural.
A reconstrução, estimada em 9,8 milhões de euros, inviabiliza a utilização do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) no próximo ano, o que inspira uma programação desenhada para todo o território nacional.
“Esta é uma oportunidade incrível, inédita e, diria até, histórica de ter o TNDM em todo o país, com uma distribuição geográfica bastante equilibrada. Vai ser um projeto transformador”, afirmou à agência Lusa o diretor artístico, Pedro Penim.
Sem casa, o TNDM vai “pedir, humildemente, albergue a estes teatros do país”, o que acontece pela primeira em 180 anos de história da instituição: “Todas as equipas artísticas e equipas técnicas vão ter de se deslocar para o país. É uma janela de oportunidade para uma relação que pode ser muito profícua com a ideia de território e com a ideia de Portugal e o que é que isso significa”.
Nesse exercício, que tem como tema de trabalho “Odisseia nacional”, a direção do TNDM está a realizar um périplo pelo país, de norte para sul, contactando programadores e municípios, numa “lógica colaborativa”.
“Não estamos numa lógica de ‘vai Lisboa mostrar ao resto do país o que está a fazer'”, frisou Pedro Penim, avançando que a equipa tem visitado espaços para perceber “o que é que gostariam de receber do TNDM”.
A intenção é chegar a 80 municípios, “um número absurdo”, reconheceu o programador. “Até agora temos tido só respostas positivas, o que nos deixa muito contentes. Alguns se juntarão e pode haver alguns ajustes. Mas é um número muito ambicioso”.
No fim de março haverá “um mapeamento mais claro da realidade teatral portuguesa”, definindo-se depois a tipologia de espetáculos adequada aos vários sítios.
A vontade é que a programação para 2023 reflita “a diversidade incrível de propostas, de estéticas, de pessoas muito diferentes” que têm encontrado no país.
Além do foco principal, a apresentação de espetáculos – “obras de repertório mais clássico, português ou peças de teatro contemporâneo, com estéticas mais arriscadas” -, a programação terá uma componente de capacitação dos teatros parceiros.
“Esta máquina gigantesca que é o TNDM tem muitas competências, técnicas e artísticas, muito diversas. É muito interessante como elas podem estar ao serviço desta ideia de missão nacional do teatro”, partilhando conhecimentos na área da “produção, maquinaria, comunicação, mediação de públicos, frente de casa, bilhética…”.
Pedro Penim desenha assim a primeira programação para o TNDM, depois de ter assumido o cargo em 2021. Admite, pois, o entusiasmo redobrado pelo “momento histórico que o teatro está a viver”: “Há um lado inédito das estreias que não acontecem em Lisboa, mas em teatros espalhados pelo país, e que só voltarão ao Rossio com o teatro reaberto em 2024. É uma inversão na expectativa”.
E no final de 2023? Penim acredita que a experiência “influenciará definitivamente a maneira como o país olha para o TNDM” mas, também, o contrário: “Temos muito a aprender com este ano de 2023. Na verdade, o TNDM nunca mais será o mesmo”.
“Vai ser um projeto muito transformador”, reforçou, “quer para um lado quer para o outro”, porque será lançada “uma semente que [se quer] que em 2024, 2025, 2026 possa continuar”.
A vitalidade do TNDM, “a sua preponderância, a sua relevância e a razão de existir, está completamente dependente da sua capacidade de diálogo com o seu tempo e as populações”, conclui.
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