O presidente da Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo (Europacolon) comentava desta forma à agência Lusa os dados de dois estudos divulgados hoje que revelam que a incidência de casos de cancro colorretal está a aumentar em pessoas com menos de 50 anos e a diminuir ou a estabilizar na população mais velha.

Segundo Vítor Neves, há países que diminuíram para os 45 anos o rastreio do cancro do intestino, mas salientou que o fundamental é que o rastreio de base populacional seja implementado de “forma decisiva” em Portugal.

“Já devíamos ter o rastreio aos 50 anos completo em Portugal, este é o primeiro erro que Portugal está a cometer”, salientou.

Também era “muito importante que no ato do rastreio se conseguisse fazer uma endoscopia alta que permite a visualização do tubo digestivo superior e do estômago para tentar diminuir a incidência dos tumores gástricos", que está a aumentar, defendeu Vitor Neves.

Em Portugal registam-se cerca de sete mil novos casos de cancro colorretal por ano e segundo o último relatório das doenças oncológicas, a doença matou mais de 3.800 pessoas em 2015.

“Aquilo que sabemos pela nossa experiência e pelo que vamos falando com os colegas da Europa é que há um aumento da incidência do cancro digestivo”, disse o presidente da Europacolon, ressalvando que Portugal não tem dados recentes sobre a incidência do cancro, uma situação que será ultrapassada a “curto prazo” com o Registo Nacional Oncológico.

“A perspetiva é que haja um aumento significativo nos próximos anos da incidência do cancro do intestino e entendemos que no nosso país isso vai ser normalíssimo, porque o célebre rastreio populacional do cancro do intestino [pesquisa do sangue oculto nas fezes], que é uma coisa tão fácil de fazer, tão barata e que salva tantas vidas, tanto sofrimento e poupa milhões de euros ao erário público, continua atrasado”, lamentou.

O rastreio em todo o país “é fundamental, mas só se tivermos decisores que entendam que a prevenção na saúde e o diagnóstico precoce é a solução” para alterar esta realidade, defendeu Vitor Neves.

“O povo português sabe pouco de cancro do intestino e, por isso, não sabe que quem tiver pais ou avós que tiveram esta doença deve fazer o rastreio de imediato, antes dos 50 anos", adiantou.

Também a sintomatologia que os doentes vão relatando aos médicos (aparecimento de sangue nas fezes, sensação de que o intestino não esvazia, emagrecimento e cansaço sem razão aparente, alteração dos hábitos intestinais) nem sempre é valorizada.

Em declarações em março à Lusa, o ex-diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas Nuno Miranda disse que o rastreio deverá estar em funcionamento em todo o país em 2020.