Numa audiência com o grupo de trabalho para a floresta e incêndios, o diretor do observatório criado pela Assembleia da República, Francisco Castro Rego afirmou que até fim do ano vai haver um "diagnóstico sem propostas definitivas, mas apontando pistas" e centrado nos incêndios florestais.
Não será uma auditoria financeira ou de gestão, mas a avaliação de "um sistema em mutação, em que o governo está a intervir e legislar com rapidez", o que tem as suas dificuldades, reconheceu.
As falhas nas comunicações reportadas em várias situações de socorro, desde os incêndios de 2017 à queda de um helicóptero do INEM no domingo passado, também vão ser consideradas na auditoria técnica.
Quanto ao diferendo que opõe a Liga dos Bombeiros Portugueses ao Governo por causa da alteração da lei orgânica da proteção civil, o Observatório que se propõe "olhar com distância" para os problemas que opõem bombeiros e Governo.
Na audiência, o ex-presidente da Liga, Duarte Caldeira, considerou que numa "matéria que reclama de todos serenidade, esta tem faltado em qualquer uma das partes".
Numa altura em que "todos os caminhos parecem bloqueados" entre Liga e Governo, "interessa que sejam capazes de se ouvir", afirmou Duarte Caldeira.
A proposta do Governo, aprovada em Conselho de Ministros a 25 de outubro e em fase de consulta pública, acaba com os atuais 18 comandos distritais de operações e socorro (CDOS), e cria cinco comandos regionais e 23 comandos sub-regionais de emergência e proteção civil.
O Governo pretende que o novo modelo da Proteção Civil passe a ter uma base metropolitana ou intermunicipal, além de propor a criação de um Comando Nacional de Bombeiros com autonomia financeira e orçamento próprio, cujo responsável máximo será designado depois de ouvida a LBP.
Em contestação às várias propostas da reforma da Proteção Civil, nomeadamente à leio orgânica, a LBP decidiu abandonar a estrutura da ANPC e suspender a informação operacional por parte dos bombeiros aos CDOS.
Em resposta, o ministro Eduardo Cabrita acusou a LBP de ser “absolutamente irresponsável” por colocar em causa a segurança das pessoas ao abandonar a ANPC e considerou a decisão ilegal.
Duarte Caldeira indicou que o sistema de proteção civil existe para garantir aos cidadãos "segurança, bem-estar e justiça" e reiterou a disponibilidade do observatório para "contribuir com serenidade, sem qualquer intenção de protagonismo" para "abrir os caminhos" que não existem.
Francisco Castro Rego lembrou que a comissão técnica que antecedeu o Observatório recomendou a criação de uma unidade de missão para estudar a maneira como os bombeiros se enquadram na proteção civil.
Ter uma "reflexão mais profunda, mais assente e mais técnica" seria a melhor maneira de "evitar estas dificuldades, que aparecem quando [os agentes da proteção civil] se confrontam com decisões também não muito suportadas por estudos de base".
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