Introdução

Desta vez, foi um acaso: procuraram-me para escrever um livro sobre burnout. Fiquei feliz, era uma ideia que andava há muito na minha mente, mas que ainda não tinha tido oportunidade de concretizar.

Posso começar por contar a minha própria experiência, para que se perceba que ninguém escapa ao stresse laboral. Já ao burnout, podemos fazê-lo.

Na altura de escolher o curso, vi-me dividida entre três áreas aparentemente antagónicas: Arqueologia, Medicina e Astronomia. O passado, as nossas raízes, cuidar das pessoas no presente e compreender a amplidão do Universo, para um melhor futuro. Tal como outros adolescentes, fui sujeita a testes de orientação profissional. Os resultados não me auxiliaram na escolha, dariam para o que eu quisesse.

Eis o primeiro confronto com as dificuldades inevitáveis da vida: ter de fazer escolhas e de me responsabilizar por elas. Foi assustador, um nervoso miudinho que durou o tempo suficiente para me provocar alterações digestivas. Prevaleceu a Medicina, que seria mais funcional e de acordo com as pressões familiares: «Um trabalho seguro.»

Frederico Lourenço junta-se ao É Desta Que Leio Isto no próximo encontro, marcado para dia 23 de maio, uma quinta-feira, desta vez com um horário diferente: pelas 20h00. Consigo traz o seu romance "Pode Um Desejo Imenso", editado pela Quetzal.

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Em maio, a propósito das comemorações dos 500 anos de Camões, o clube vai olhar de outra forma para o autor do poema épico "Os Lusíadas", através do romance de Frederico Lourenço.

Saiba mais sobre o livro e o autor aqui.

Ainda muito nova, tive necessidade de fazer algo mais do que estudar. Trabalhei, constituí família, tive o primeiro filho e até fui empreendedora durante o período da faculdade. Foi árduo, este primeiro acumular de tarefas. Estávamos nos primeiros anos pós-25 de Abril de 1974.

Agitação, novidades, exaltações. Havia o culto do participar e contribuir para o bem coletivo. Valorizava-se o voluntariado, que acabei por fazer na área da saúde. Não recordo cansaço nessa altura, mas sim momentos de ansiedade, de medos, de êxitos, e outros de gigantesca deceção.

Cedo entendi que não se pode pensar em muita coisa ao mesmo tempo. A salvação era concentrar-me no que estava mais próximo. Resolvê-lo e passar adiante.

Acabado o curso, mais uma escolha se impunha: e, agora, qual a especialidade? Iniciei Psiquiatria com prazer e sucesso, logo contratada pela faculdade como docente auxiliar. Entretanto, nasceu a especialidade de Medicina
Familiar, com uma intervenção mais abrangente, conciliando uma abordagem integrativa do físico e do psíquico no percurso do sistema familiar.

Rendi-me. Porém, o primeiro impacto negativo não tardou. Um volume de trabalho muito pesado, a certeza da falta de uma sólida preparação para a prática e condições de trabalho deploráveis. Hoje, sou capaz de as ver com humor, mas, no momento, confesso que a partir de dada altura chorava de cada vez que fazia a viagem de ida para o trabalho — no regresso, apaziguava. Enquanto trabalhava, fazia de médica, de assistente social, de força de segurança, de empregada de limpeza.

Fui tomada por uma sofrida insatisfação nesta prática. Senti-me traída nas minhas expectativas. Foi emocionalmente penoso e estive perto de entrar num processo de burnout. Decidi mudar de cena laboral e repetir as terríveis provas de acesso a uma especialidade médica. Haveriam de ter lugar numa data longínqua. Sofri com a incerteza de ter ou não sucesso.

Como suspeitei de que estaríamos mais bem preparados para enfrentar o mundo do trabalho com um leque mais amplo de competências, inscrevi-me numa especialização em Medicina do Trabalho, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). O meu tempo livre esfumou-se.

Além do trabalho, dediquei-me ao curso. Apesar das exigências, ganhei um sentido adicional para o esforço que me impus. Estabeleci fortes laços de entreajuda com colegas e a coisa correu bem.

Entretanto, também consegui reentrar na especialidade de Psiquiatria. De súbito, vi-me, ao mesmo tempo, contratada como assistente, a dar aulas na ENSP e a completar uma exigente especialidade médica. Duplas cargas e ainda um segundo filho a caminho. Imagina os muitos alertas de mau stresse?

A ironia é que essa curva da vida me levou ao livro que está prestes a ler. Um dia, logo no arranque da carreira docente, a ENSP enviou-me para um grupo de trabalho de experts da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Inglaterra. O objetivo era fazer um minilivro técnico sobre o stresse no trabalho causado por ecrãs, numa altura em que os computadores individuais começavam a ser instalados como ferramentas de trabalho nas empresas. Este terá sido o meu mais grave trauma de trabalho. Era novata, sem experiência e deparei com um pequeno grupo internacional de figuras académicas notáveis na área do stresse e do burnout; os autores dos livros pelos quais eu estudara. Teria de trabalhar com eles, ao mais alto nível. Senti-me diminuta. Perguntavam-me sobre a investigação nesta área em Portugal e eu nem sabia o que dizer. Como todas as pessoas em situação de tal exposição stressante, na primeira noite nem dormi. Com o decorrer das tarefas, a ansiedade apoderou-se de mim.

Tive tonturas tais que só as paredes me amparavam. Não conseguia comer. Telefonei em pânico ao meu marido (não havia telemóveis e as chamadas eram muito caras para o meu orçamento). Queria fugir dali. Ele foi curto na resposta: «Volta, se quiseres, mas não escaparás à marca da fuga. Melhor é que admitas no grupo o que não sabes. Aprende o que puderes.»

Essa semana intensiva foi transformadora. Descobri que temos mais poderes do que pensamos e que pequeninas mudanças trazem grandes recompensas. A partir daí, decidi dedicar-me a preencher os hiatos que percebera. Estudei a fundo a área do stresse e os seus impactos na saúde. A primeira investigação científica que fiz foi sobre o stresse no trabalho de Introdução de Dados Informáticos, encomendado pelo Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. O último, sobre o burnout na classe médica, como representante da Ordem dos Médicos (OM), num trabalho em parceria com o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Orientei uma linha de teses sobre o tema e publiquei alguns livros nesta e noutras áreas.

Atualmente, respondo a múltiplos pedidos de consultoria e formação sobre riscos psicossociais, entre os quais o stresse e o burnout, e outros temas afins ao desenvolvimento pessoal e promoção da saúde mental no trabalho.

Posso dizer que estou entre os psiquiatras portugueses pioneiros no estudo do stresse ocupacional. De permeio, fiz um mestrado em Educação na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade de Lisboa, fundamental para o domínio das questões da comunicação e do ensino-aprendizagem. E, nisto, nasceu mais um filho.

Naturalmente, a vida profissional clínica prosseguiu, consumindo muito tempo e derivando para áreas distintas, que incluíram reabilitação psicossocial, políticas de saúde mental, promoção da saúde mental e áreas associadas à gestão. O meu testemunho serve para mostrar que toda a vida é exigente e tudo se pode complicar, mas a coisa nenhuma devemos dar o poder de nos tornar infelizes e surripiar a nossa saúde.

Em 2014, decidi sair da função pública e focar-me apenas na prática privada. Entretanto, fiz formação adicional na área da Medicina Legal — Avaliação do Dano, tendo obtido essa competência e também a sub-especialidade de Psiquiatria Forense. Em 2023, completei formação em hipnoterapia, porque a vida não para e nós próprios não devemos querer parar no tempo. Parece um percurso errante, mas não é. Todas estas áreas se conjugam no meu intuito primitivo: alcançar uma visão e capacidade de ação ampla, holística, sistémica e integrada em que o ser humano, no seu ciclo de vida e nos vários contextos, em tempos diferentes, possa beneficiar da bagagem técnico-profissional que tenho vindo a acumular. E apesar de momentos de mau stresse, estou realizada, não me destruí pelo caminho. Família, conexão social e amplos interesses gerais são sólidos pilares para mim (e para todos). Viajar é o que mais bem me faz, mas também me dedico a vários passatempos, como o storytelling, a pintura, a cerâmica, o teatro, tudo atividades que me enriquecem e relaxam.

Mente aberta, curiosidade, propósito e compromisso são, como adiante se verá, características de resiliência decisivas para lidar com o stresse e prevenir o burnout. Não há como fugir ao stresse, faz parte da vida, como o Sol e a Lua. Mas podemos criar proteções e evitar descalabros. É isso que quero dar a conhecer nas páginas que se seguem.

Antes de entrar no tema propriamente dito, vale a pena perceber o contexto atual do mundo do trabalho, que, no fundo, serve de motivo ao que me traz aqui.

As perturbações associadas ao stresse tornaram-se uma verdadeira epidemia. Já em 1998, a OMS dava o alerta: iriam crescer e agravar-se. Agora estão no auge dos problemas no mundo de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2016, revelou que mais de 40 milhões de pessoas são prejudicadas por stresse ocupacional na União Europeia, ou seja, estima-se que um em cada seis trabalhadores sofra de perturbações ansiosas e depressivas relacionadas com o trabalho. Desde a pandemia, a visibilidade cresceu. Algumas dessas perturbações podem mesmo fixar-se em doenças, quer físicas quer mentais.

O burnout é um caso particular. Não é ainda considerado uma doença médica, mas antes um conjunto de queixas num processo de sofrimento pessoal, físico e mental, derivado da má gestão do stresse laboral. O burnout é penoso para as pessoas, mas são tremendos os seus efeitos no sistema de trabalho. Em stresse e em burnout, os trabalhadores estão desmotivados, menos focados, cometem mais erros e geram-se ambientes conflituais. Baixa a produtividade, é desastroso para a reputação das empresas, os gastos sociais avolumam-se e o país declina. Perdem todos.

Vale a pena ler este livro porque é um manual para identificar, perceber, prevenir e atuar em relação ao burnout. E convida à promoção da saúde e do bem-estar com satisfatório desempenho, num estilo adequado ao tempo e às circunstâncias atuais, assinaladas pela vertiginosa mudança. O que escolher aprender será útil para replicar na vida diária.

O Capítulo 1 é acerca da relação entre saúde mental e trabalho, atualmente tão comentada. Como é que o trabalho nos define e como interagimos com ele, com que benefícios e desvantagens. E como tem sido esta relação ao longo dos tempos. Terá sido sempre igual? O que terá mudado?

O stresse laboral, o burnout e os seus mitos são desbravados no Capítulo 2. Quais as verdadeiras repercussões no próprio e na sociedade? Poderá saber se está ou não em burnout, em que nível de perigo se encontra ao entender os sinais de alerta e aqueles que já definem os vários degraus do processo de «cair no buraco».

Compreender esta luta de titãs entre trabalhar e viver, quais são os perigos e como se pode ter sucesso nas aspirações é um passo fundamental para a criação de um melhor futuro e de uma vida boa. Segundo a lei, e de acordo com os peritos internacionais, a maior responsabilidade na prevenção dos riscos psicossociais que conduzem ao stresse negativo laboral é dos empregadores.

Assim é com a saúde e segurança no trabalho. A proteção de todos os que trabalham, qualquer que seja a posição ou as tarefas, implica que o trabalho tem de ser repensado de acordo com as incríveis mudanças sociolaborais que estão a acontecer e como cada fator de trabalho impacta a saúde mental. Este tópico é desenvolvido no Capítulo 3.

Nenhuma pessoa está isenta do seu dever de contribuir para uma melhor saúde e qualidade de vida. Seja qual for a força stressante das circunstâncias externas, devemos saber defender-nos e fazê-lo ativamente. Construir resiliência é o ponto-chave do Capítulo 4.

Apesar das proporções, e das doenças que resultam do stresse laboral, há esperança num tratamento e reabilitação. No Capítulo 5, focam-se as soluções médicas, psicossociais e complementares disponíveis para se reverter ou minimizar os impactos do stresse e do burnout. Há estratégias ao nível biológico, psicológico, social e espiritual que funcionarão melhor se forem articuladas. Estas, tal como as vantagens de uma reabilitação psicossocial, serão discutidas. Para terminar, ainda se focarão questões práticas importantes, como a possibilidade de reclamar por reparação de danos, caso seja comprovável que é vítima de fatores laborais de stresse psicossocial que tenham deixado sequelas psiquiátricas.

Convido a que me acompanhe. Faremos um caminho passo a passo. Com ilustrações de casos vividos, iremos percorrer um trajeto que levará cada um a saber defender-se e a evitar «torrar-se» a trabalhar.

Todos, tanto os leigos na matéria como aqueles das áreas afins ao stresse e ao trabalho, profissionais de recursos humanos, gestores, psicólogos, profissionais da saúde, da segurança e da educação, poderão apreciar as várias etapas da viagem.

Desejo que possa aprender comigo: todos temos um começo que pode ser frágil, mas todos temos em nós a capacidade de nos fortalecermos e de nos tornarmos mais hábeis.

CAPÍTULO I

A saúde mental e o trabalho

Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante. Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, […] mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos.

José Saramago, discurso no banquete do prémio Nobel, 10 de dezembro de 1998

No princípio, enamorado, entusiasmado, enérgico, esperançoso. Pouco a pouco, entediado, entorpecido, esvaído, estafado. Já sentiram? Um ir ficando perigosamente exasperado, esvaziado, entristecido, esgotado, esturrado com o trabalho? São os 13 «e» do burnout.

Na prática, diz-se que se atingiu o «fim da linha» quando acabam por se conjugar exaustão, despersonalização e insatisfação profissionais, entrando-se na tão temida síndrome de burnout, aquilo de que tantos se queixam e que, no fundo, corresponde a um estado terminal de um processo de stresse no trabalho.

Para clarificar, foquemo-nos neste cenário: quantas vezes está em tal paixão pelo trabalho que nem repara que está numa frigideira a aquecer? Primeiro, está morno e agradável; pouco a pouco, dá-se conta de um desconforto, de um pequeno desconforto, que desvaloriza. Entretanto, o óleo já aqueceu, começa a incomodar. Talvez tenha aqui o primeiro vislumbre de que algo não está certo. Calcula que tem uma excelente capacidade de adaptação e não se preocupa com isso. Até pode intensificar o foco no que está a fazer para, assim, nem pensar nos incómodos. Mas o caldo continua ao lume e começa, agora, a borbulhar. Já queima e magoa, a ponto de não permitir que se concentre nas tarefas que tem em mãos. Neste ponto, já se sente entorpecido, mas recusa-se a revelar fragilidade. A temperatura abrasa, não pode ignorar que está a arder. Quer salvar-se, mas não sabe como, e pedir ajuda não é o seu forte. O sofrimento torna-se insuportável e o leitor cai na tendência de culpar alguém, alguma coisa. Mas nem assim alivia. Tenta ativamente ignorar a realidade insatisfatória e até se imagina longe dali, mas a força do pensamento já não é suficiente e sente-se a afundar numa imensa tristeza, alienando-se de qualquer ação salvadora. Já perdeu a sensibilidade à dor e desistiu de ter esperança.

1.1. Saúde mental e trabalho: está tudo ligado

A mensagem desta narrativa metafórica é que o ideal seria nunca chegarmos a ponto de nos metermos dentro da tal «fritadeira», que no caso corresponde a uma imersão em riscos profissionais sem a devida proteção, que conduz aos problemas de stresse e, nalguns casos, ao burnout. Calma. Nem todos os casos acabam ou têm de acabar assim. Alguns, mesmo na última, galgam o rebordo e salvam-se, seja porque despertaram para o problema a tempo, seja porque alguém desligou o lume ou o pescou da frigideira, evitando, assim, a «queimadura», esse «inferno» laboral que, em suma, segue a par de:

  • deficitárias condições de trabalho;
  • reconhecimento e remunerações insatisfatórias;
  • roubo de tempo pessoal e má organização do trabalho;
  • fraca interajuda e/ou conflitos laborais;
  • abusos de poder, físicos ou psicológicos;
  • cargas e ritmos de trabalho penosos.

É aqui que entra o apuramento de responsabilidades. Afinal, a quem compete zelar pela implementação de medidas antiburnout que favoreçam uma cultura de segurança e de saúde no trabalho? Adivinhou: as empresas, que são «quem», no fundo, permite que se perpetuem conjunturas que favorecem situações de burnout. No entanto, isto não significa que o trabalhador esteja isento da sua quota-parte de «responsabilidade». Ficar no jogo das culpas é inútil. Se no caso das empresas é preciso que se cumpram as medidas designadas para a prevenção dos riscos psicossociais em contexto laboral e colaborar com os peritos no sentido de melhorar as diretivas para as adequar à atualidade e ao futuro, aos trabalhadores exige-se consciencialização e boa ação. Que sejam mais fazedores do que é melhor para todos, atentos, exigentes, responsáveis e participativos. E que sejam cuidadores de um sistema social mais alargado que possa proporcionar uma vida plena e boa. E, nisso, estou cá eu para ajudar uns e outros.

Alerta, sinal de perigo!

Se é um apressado crónico sem descanso, viciado em se equilibrar na ponta da navalha, corredor de sprints que fazem tropeçar, ou alguém com o superpoder da perfeição, sempre a criticar, então coloque-se numa realidade mais… real. Passo a explicar como pode lá chegar.

Livro: "Burnout"

Autor: Maria Antónia Frasquilho

Editora: Manuscrito

Data de Lançamento: 22 de maio de 2024

Preço: € 16,90

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Uma vez que não se começa a construir uma casa pelo telhado, o mais importante é reconhecer onde está e onde quer chegar. Sem metas, destinos e tempos, está apenas no reino da ilusão. Por isso, pergunto: tem consciência do seu estado? Consegue identificar os sinais de perigo?

Há muitas apps que o mantêm a par dos seus índices de saúde: como bate o coração, o peso, o nível de gorduras e açúcares, a qualidade do sono, e também as há para os chamados níveis de stresse, servindo de campainhas de alerta para quando se abandonou um estado dito de tranquilidade ativa e sensata. O que acontece com estas ferramentas é que, por vezes, causam mais ansiedade do que conforto, porque os dados nem sempre são bem interpretados e as pessoas ficam demasiado alerta e ainda mais stressadas.

Pode também acontecer que nem sempre estejamos capazes de estar esclarecidos quanto aos nossos níveis de bem-estar. Afinal, o equilíbrio não se mede através de algo palpável. Mede-se pelo discernimento, que é uma qualidade do autoconhecimento. Como se fôssemos uma árvore em que temos de considerar as raízes que a sustentam, o solo no qual está implantada, o tronco e a sua dureza ou flexibilidade, os ramos com diversos rumos e as folhagens mais ou menos imbricadas umas nas outras e nas árvores vizinhas. Tudo isso é fundamental para o tal discernimento. Já lá vamos.

Como estão os níveis de saúde e bem-estar no trabalho?

O desejo de boa saúde e bom trabalho é universal. Mas só uma parte se consegue concretizar. Para isso, é fundamental que se tenha literacia em saúde, para que se possa agir em conformidade com a promoção do bem-estar laboral. Como vai de conhecimento, de motivação, para ser parceiro desse processo construtivo? Tem competências e ferramentas para zelar por si e pelo coletivo de trabalho? Ajudam-se mutuamente? Quando há problemas, a empresa reage para o bem de todos? Tem confiança em si e na comunidade laboral? Para ficarmos mais perto da «boa saúde em bom trabalho», todos temos de fazer a nossa parte, estejamos no mais alto ou no mais baixo nível na hierarquia. Costuma dizer-se que a melhor métrica é auscultarmos o nosso sentir. Na verdade, isso é pouco fiável, uns parecem de aço e acham-se sempre bem, e outros, ao contrário, são frágeis como porcelana.

Antes de olhar para a figura que apresento a seguir, vou pedir-lhe que faça um pequeno exercício de reflexão e que seja espontâneo (e honesto) na resposta às perguntas que se seguem:

Se respondeu «sim» à maioria das perguntas, já se sente torpedeado pela vida de trabalho e a sua sensação é de que se trata de uma sucessão de propostas desfavoráveis e desejos não realizados. Por esta altura, a irritação já chegou? Não vê a luz ao fundo do túnel e a sua mente vagueia sem rumo?