Na atribuição do prémio, os membros do júri declararam ter ficado “impressionados com a capacidade que Tolentino Mendonça demonstra ao divulgar a Beleza e a Poesia como parte do património cultural intangível da Europa e do mundo”.
“Queremos homenagear a sua arte de comunicar não apenas através da sua notável poesia, mas também dos seus artigos de opinião publicados na imprensa portuguesa e italiana. Também destacamos a sua forte convicção de que a Igreja não é apenas uma guardiã de seu longo passado, mas que deve estabelecer um diálogo aberto e construir pontes com o mundo da cultura, da arte e do pensamento contemporâneos”, afirmaram.
Reportando-se à atualidade, o júri assinalou que, numa altura em que “a Europa e o mundo se confrontam com uma crise sem precedentes”, é preciso “ouvir as vozes desafiadoras dos principais intelectuais e artistas europeus, como Tolentino Mendonça”, que “devem orientar e inspirar os esforços coletivos para construir uma sociedade mais justa e mais inclusiva, para a Europa e para todo o planeta”.
Reagindo à notícia de que tinha sido o galardoado, José Tolentino Mendonça manifestou-se “muito honrado por esta atribuição”, que ainda mais o “responsabiliza" e que, acredita, “será vivida com alegria pela Biblioteca e o Arquivo Apostólicos do Vaticano”, onde trabalha, “e que constituem um extraordinário exemplo do património cultural que a Europa construiu e constrói”.
Tolentino Mendonça lembrou que a cidadania europeia é também uma cidadania cultural, e que esta se liga “ao tesouro da memória, à pluralidade das tradições e raízes que, através das gerações, alicerçaram uma identidade e um quadro de valores onde nos reconhecemos”.
“E desafia-nos a não fechar o património cultural no passado. O património cultural é um motor indiscutível do presente e só com ele podemos pensar que há futuro”, acrescentou, destacando ainda o facto de o prémio “ter o nome de uma grande portuguesa e europeia”, Helena Vaz da Silva, o que constitui “como que um suplemento de alegria e de responsabilidade, pois o seu legado representa uma preciosa inspiração para todos”.
Tolentino Mendonça presidiu este ano as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Na sua intervenção alertou para a situação mais vulnerável dos mais velhos, mais expostos à pandemia, dos mais novos, sujeitos a diferentes crises, pondo em causa os seus projetos de “autonomia social", dos migrantes e de todos os que constituem as periferias e que não podem ser esquecidos.
“O desafio da integração é imenso, porque se trata de ajudar a construir raízes. E essas não se improvisam: são lentas, requerem tempo, políticas apropriadas e uma participação do conjunto da sociedade”, disse Tolentino Mendonça, citando o filme de Pedro Costa "Vitalina Varela", no momento em que a protagonista chega a Lisboa: "Chegaste atrasada, aqui em Portugal não há nada para ti".
"Sem compaixão e fraternidade fortalecem-se apenas os muros e aliena-se a possibilidade de lançar raízes. A comunidade não se reforça esquecendo as periferias, mas fazendo dela um motor da sua própria coesão”, disse o cardeal, na intervenção a que deu o título “O que é amar um País”.
"Cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele”, prosseguiu. “Portugal é uma viagem que fazemos juntos há quase nove séculos”, com o objetivo de criar “uma comunidade aberta e justa”.
A cerimónia de atribuição do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva terá lugar no outono, em data a anunciar, na Fundação Calouste Gulbenkian.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural foi instituído em 2013 pelo Centro Nacional de Cultura (CNC) em cooperação com a Europa Nostra, a principal organização europeia de defesa do património representada em Portugal pelo CNC, e com o Clube Português de Imprensa.
O Júri do Prémio, presidido por Maria Calado, presidente do Centro Nacional de Cultura, é composto por especialistas independentes nos campos da Cultura, do Património e da Comunicação de vários países europeus: Francisco Pinto Balsemão, presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa (Portugal), Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), Irina Subotić, vice-presidente da Europa Nostra (Sérvia), João David Nunes, membro da Direção do Clube Português de Imprensa (Portugal), Marianne Roald Ytterdal, membro do júri dos Prémios Europa Nostra, categoria Serviço Dedicado (Noruega), e Piet Jaspaert, vice-presidente da Europa Nostra (Bélgica).
Nascido em 1965 na ilha da Madeira, Tolentino Mendonça, poeta, teólogo, sacerdote e professor universitário, é considerado uma das vozes mais originais da literatura portuguesa contemporânea e reconhecido como um eminente intelectual católico.
A sua vasta obra inclui poesia, ensaios e peças de teatro e tem também colaborado como tradutor e organizador em muitos outros livros. Destacam-se também as suas publicações e intervenções nos meios de comunicação social (escreve regularmente no jornal português Expresso).
Os seus livros têm sido distinguidos com vários prémios e são cada vez mais traduzidos e publicados no estrangeiro.
Enquanto sacerdote, exerceu funções na Paróquia de Nossa Senhora do Livramento no Funchal, entre 1992 e 1995, em Lisboa foi capelão durante cinco anos na Universidade Católica Portuguesa, esteve na paróquia de Santa Isabel e, entre 2010 e 2018, foi reitor da Capela do Rato.
Entre 2004 e 2014, Tolentino Mendonça foi o primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, então criado pela Conferência Episcopal Portuguesa, para promover o diálogo entre a Igreja e o meio cultural nacional.
A 26 de junho de 2018, Tolentino Mendonça foi nomeado bibliotecário e arquivista da Biblioteca e Arquivo Apostólicos da Santa Sé pelo papa Francisco.
Após ter sido ordenado Cardeal, em 5 de outubro de 2019, voltou a fazer parte do Conselho Pontifício da Cultura, de que tinha sido consultor até à sua nomeação como arquivista e Bibliotecário da Santa Sé.
Na sua carreira académica, foi reitor, professor ou investigador em universidades de vários países como Portugal, Brasil, Itália e Estados Unidos da América.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural recorda a jornalista portuguesa, escritora, ativista cultural e política (1939-2002), e a sua contribuição para a divulgação do património cultural e dos ideais europeus.
É atribuído anualmente a um cidadão europeu cuja carreira se tenha distinguido pela difusão, defesa e promoção do património cultural da Europa, quer através de obras literárias e musicais, quer através de reportagens, artigos, crónicas, fotografias, 'cartoons', documentários, filmes de ficção e programas de rádio ou televisão.
O escritor italiano Claudio Magris foi o primeiro laureado do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva em 2013, seguindo-se o escritor turco e Prémio Nobel da Literatura Orhan Pamuk (2014), o músico catalão Jordi Savall (2015), o cartoonista francês Jean Plantureux (Plantu) e o ensaísta português Eduardo Lourenço (ex-aequo em 2016), o cineasta alemão Wim Wenders (2017), a historiadora inglesa Bettany Hughes (2018) e a cientista italiana Fabiola Gianotti (2019), especializada em Física de partículas, a primeira mulher diretora-geral do Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN).
O Prémio conta com os apoios do Ministério da Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.
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