Kiko Martins disse à agência Lusa que para a receita marciana teve em consideração que uma refeição em Marte terá que levar ingredientes "que farão uma viagem muito longa de oito meses", por isso incluiu na receita "ingredientes liofilizados e desidratados", a que é extraída a água, tornando-os mais leves e permitindo que se conservem durante mais tempo.
"1,2,3, Marte" foi o nome escolhido para a receita, que além de bacalhau e chouriço leva batata, cebola e alho, algas, salsa, azeitonas e ovo, ingredientes vencedores para o júri de quatro cozinheiros classificados com estrelas Michelin, que se reuniu em Saragoça, Espanha.
O cozinheiro levou ainda em conta que numa colónia humana em Marte, "cada minuto de dispêndio de tempo de um astronauta custa muitíssimo, não há água em abundância e qualquer quantidade de energia é muito cara", pelo que pensou numa receita que seja rápida e não exija grande esforço para preparar.
Desidratados, os alimentos não têm água e, por isso, estão menos vulneráveis a fungos e bactérias, referiu Kiko Martins, que pondera até experimentar o prato marciano num restaurante terreno.
Por trás do projeto encabeçado por Kiko Martins, esteve a comunidade de cientistas virados para a exploração espacial do site www.bit2geek.com, cujo administrador, Nuno Chabert, disse à agência Lusa que a comunidade científica mundial "está a fazer avanços reais" no estudo das condições para a viagem e para a manutenção da vida humana em Marte.
Uma das propostas para abrir caminho a viagens entre a Terra e Marte é uma plataforma espacial no espaço entre a Terra e a Lua na qual possam ser construídas naves que não precisam de combustível para escapar à gravidade terrestre, uma das partes mais exigentes das viagens interplanetárias, referiu.
Nuno Chabert referiu que por trás da receita esteve uma equipa da comunidade 'bit2geek' composta por especialistas de áreas como a genética, biologia molecular ou física.
O responsável do canal científico destaca o aspeto visual do prato, em que o arranjo dos ingredientes reproduz a imagem do globo de Marte, com azeitonas por vulcões, uma tentativa de tornar o prato apelativo, longe dos saborosos, mas pouco apresentáveis gelados que os astronautas da Estação Espacial Internacional comem de dentro de sacos.
Nuno Chabert salientou que o Centro de Astrobiologia de Madrid, que promoveu o concurso, é uma instituição afiliada da agência espacial norte-americana, sinal do caminho que a receita de Kiko Martins poderá fazer.
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