Ao contrário do que aconteceu nos últimos debates quinzenais, hoje não houve palavras azedas entre António Costa, primeiro-ministro, e Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, que não falou, delegando o discurso ao líder parlamentar, Luís Montenegro.
Nem mesmo a entrevista da presidente e ex-ministra do CDS, Assunção Cristas, que admitiu ter dado o seu aval à resolução do BES, por email, e quanto estava de férias, assunto que nunca foi discutido "em profundidade em Conselho de Ministros", lembrada no debate por Gabriela Canavilhas, do PS, levou Costa a atacar PSD e CDS.
Afirmou apenas, citando um anúncio televisivo: “Palavras para quê?”. E concluiu que a frase de Cristas diz tudo sobre a atitude do anterior Governo PSD/CDS quanto ao sistema financeiro.
De resto, todos os partidos condenaram a afirmação do presidente do Eurogrupo, o holandês Joeren Dijsselbloem, que, numa entrevista, criticou os países do sul que gastam o dinheiro em “mulheres e álcool” e depois pedem ajuda.
Do PCP ao PSD, todos criticaram as palavras “sexistas” de Dijsselbloem e Luís Montenegro apontou-lhe “o caminho” de saída, devido a afirmações "indignas e inaceitáveis", tal como defendeu a deputada e líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, que elogiou o Governo por ter pedido a demissão do holandês, o que Costa reiterou.
Durante o debate, aliás, o primeiro-ministro chegou a dizer que o projeto do euro pode estar em causa se “continuar Dijsselbloem à frente do Eurogrupo”.
O tom apaziguador, porém, foi interrompido quando o CDS, através de Assunção Cristas, acusou o Governo de ter dado uma “borla fiscal” a grandes empresas como a EDP, que teve, segundo o seu relatório e contas, “uma vantagem com a reavaliação de ativos em 174 milhões de euros”.
Da parte do PSD, Luís Montenegro apontou ao PS, ao acusar o Governo socialista de estar a fazer uma “privatização geringonçada” da Caixa Geral de Depósitos, através de obrigações perpétuas, perante o silêncio dos partidos parceiros no executivo, PCP, BE e PEV.
António Costa contestou a tese de Montenegro, afirmando que a emissão de obrigações “não é uma privatização porque não implica qualquer alienação de capital”.
Em resposta ao Bloco, mas também da deputada do Partido Ecologista “Os Verdes”, o chefe do Governo garantiu que não haverá “despedimentos coletivos ou involuntários”, admitindo, sim, “programa de reformas e no programa de negociação de rescisões amigáveis”.
Voltando a temas europeus, Costa revelou ter falado ao telefone com o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), em que Vítor Constâncio lhe comunicou não ter tido qualquer responsabilidade no relatório daquela instituição que defende multas a Portugal por ausência de medidas de correção de desequilíbrios macroeconómicos.
E em matéria de anúncios, o primeiro-ministro prometeu apresentar na próxima semana, no parlamento, medidas de combate à precariedade laboral no setor público e mostrou abertura para tornar automáticas decisões da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), como defendeu o líder do PCP, Jerónimo de Sousa.
Num debate distendido, provocou risos um engano da deputada socialista Gabriela Canavilhas, que trocou o nome do líder comunista pelo de Jerónimo Martins, empresa de distribuição de Soares dos Santos.
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