Segundo peritos e cientistas citados pela agência Efe, trata-se de uma catástrofe ambiental sem precedentes nestas ilhas de pouco mais de 1,2 milhões de habitantes, cujos manguezais, corais e espécies endémicas atraem anualmente mais de um milhão de turistas.
“O impacto deste derrame de petróleo vai durar muito tempo”, assegurou à agência espanhola Mokshanand Sunil Dowarkasing, assessor ambiental nas Maurícias, defendendo a urgência de uma “avaliação independente” dos danos causados tanto na fauna e flora marinhas como na economia local.
Para Dowarkasing, será necessário “pelo menos um ano para conhecer o verdadeiro impacto” desta catástrofe e só então “se saberá se os manguezais serão ou não capazes de sobreviver a esta contaminação, se germinará ou não novo coral nas lagoas, etc”.
Esta degradação ambiental tem ainda um impacto direto no bem-estar dos cerca de 29.000 mauricianos dependentes do setor pesqueiro — dos quais 4% são mulheres, segundo dados de 2017 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) — e do pujante setor de aquacultura.
“Preocupa-me não só o impacto ecológico deste desastre, mas também a repercussão que terá na forma de ganhar a vida das pessoas, em especial das mulheres que vivem da pesca o da manutenção dos barcos”, relatou à Efe a ativista local Trisha Gukhool, que desde o primeiro dia está, juntamente com outros milhares de mauricianos, a limpar crude com as suas próprias mãos.
O petroleiro MV Wakashio – de propriedade japonesa e bandeira do Panamá – navegava rumo ao Brasil quando, no passado dia 25 de julho, encalhou nos recifes de Pointe d’Esny, frente à costa sudeste das Maurícias, começando então a derramar mais de 800 toneladas de petróleo.
No sábado, a já muito deteriorada embarcação acabou por se partir em dois, tal como vinham prevendo as autoridades que, dias antes, tinham conseguido bombear mais de 3.000 toneladas de crude do navio.
No momento da fratura, segundo declarações aos meios de comunicação locais feitas pelo chefe da polícia, Khemraj Servansing, apenas restavam cerca de 50 metros cúbicos de hidrocarboneto no barco, que poderão estar na origem da pequena fuga detetada hoje.
“Disse toda a verdade e nada mais do que a verdade sobre o caso MV Wakashio”, reiterou ao final da noite de sábado o primeiro-ministro das Maurícias, Pravind Jugnauth, numa tentativa de silenciar os que acusam o seu Governo de inação e de má gestão desta crise.
“Assumo toda a responsabilidade. Se me tivesse enganado, tê-lo-ia dito”, acrescentou Jugnauth durante as comemorações do 73.° aniversário da independência da Índia, recordando que a Justiça está a investigar as causas deste acidente e que “toda a informação será tornada pública”.
Por sua vez, organizações ambientalistas como a Greenpeace consideram que esta crise ecológica sem precedentes deveria servir para “acelerar o fim do uso de combustíveis fósseis”, segundo declarou à Efe o diretor de campanhas de clima e energia em África, Happy Khambule.
A empresa japonesa Nagashiki Shipping, proprietária do cargueiro acidentado, comprometeu-se na passada quinta-feira a pagar uma compensação “de acordo com a lei”, horas depois de as Maurícias anunciarem a possibilidade de reclamar uma indemnização quando terminassem as investigações.
“O Estado das Maurícias responsabiliza o proprietário e o segurador do petroleiro por todas as perdas e danos causados”, asseverou na sexta-feira, em comunicado, o Ministério da Economia Azul, Recursos Marinhos e Pescas, anunciando a criação de uma plataforma eletrónica para apresentação dos pedidos de indemnização.
“Todos os pedidos feitos [nesta plataforma] serão canalizados para os armadores e/ou o segurador para avaliação e aprovação”, refere o comunicado, acrescentando que tal não deve, “em nenhum caso, ser considerado como um reconhecimento de responsabilidade por parte do Governo das Maurícias”.
Já a Autoridade Marítima do Panamá (AMP) anunciou no sábado que colaborará nas investigações destinadas a esclarecer as causas do acidente do petroleiro de bandeira panamenha, desconhecendo-se ainda se resultou de “uma falha mecânica ou de um erro humano”.
O derrame de petróleo — que afeta uma área rica em diversidade marinha e terrestre, com importantes reservas naturais a poucos quilómetros — ameaça alcançar nos próximos dias a ilha francesa da Reunião, localizada a cerca de 200 quilómetros do local do acidente.
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