A proposta é fundamentada "em parecer da Secção de Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial do Conselho Nacional de Cultura", emitido no passado dia 19 de maio, e será enviada à secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, como indica o diploma, para que o processo se conclua.
O processo de classificação do quadro "Adoração dos Magos", do pintor português Domingos António Sequeira (1768-1837), foi aberto em junho do ano passado, sustentado na necessidade de "proteção e valorização" de bens que "representam valor cultural de significado", para o país.
Exposto ao público no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), desde julho de 2016, depois de dois meses de restauro pelos técnicos da instituição, com mais sete pinturas de Domingos Sequeira, a obra foi alvo de um trabalho profundo de investigação e recuperação, após a sua aquisição numa campanha pública de donativos.
Em 2015, a campanha de angariação de fundos para a compra da tela "Adoração dos Magos" atingiu um total de 745.623,40 euros, ultrapassando largamente os 600 mil euros necessários.
Quando a nova ala de pintura antiga portuguesa foi inaugurada, no início de 2016, o então diretor do MNAA, António Filipe Pimentel, declarou à Lusa que, de início, a “Adoração dos Magos” aparentava estar apenas carente de uma limpeza, mas quando foi observada com profundidade e precisão, "verificou-se que havia muito trabalho a fazer".
"O trabalho do museu não é apenas de expor as obras, mas também estudar e restaurar", disse, acrescentando que a pesquisa revelou igualmente muito do processo usado por Domingos Sequeira como artista.
Para o responsável, esta pintura revelou-se "muito importante não apenas pelo seu valor estético e plástico, mas também pelo valor simbólico da compra pelo público".
Esta foi a primeira campanha em Portugal de angariação de fundos para a aquisição de uma obra de arte para um museu público, e contou com a contribuição de milhares de cidadãos a título individual, instituições, empresas, fundações, escolas, juntas de freguesia e câmaras municipais, cujos nomes se encontram impressos em tela, à altura da escadaria de acesso ao piso onde se encontra o quadro.
Lançada em outubro de 2015, a campanha “Vamos pôr o Sequeira no Lugar Certo” tinha como objetivo ajudar o museu a adquirir a obra de Domingos Sequeira, pintada em 1828, juntando-a à coleção do MNAA, que possui o desenho final e vários preparatórios.
O MNAA tem no seu acervo cerca de 30 obras em pintura e desenho de Domingos Sequeira (1768-1837), cujo trabalho realizado nas primeiras décadas do século XIX se situa entre o Classicismo e o Romantismo, de um modo similar a Francisco de Goya, seu contemporâneo na cultura espanhola, segundo o museu.
Devido ao seu talento, Domingos Sequeira conseguiu proteção aristocrática e uma bolsa para se aperfeiçoar em Roma, onde privou com vários mestres e conquistou diversos prémios académicos.
Sobre a "Adoração dos Magos", escreve o museu no seu 'site': "No final da sua vida, Sequeira regressou a Roma, onde se dedicou a uma notável série de quatro pinturas religiosas em que esta 'Adoração dos Magos' se insere. Constituem, todas, um verdadeiro testamento artístico, em que se expressam não apenas as suas preocupações fundamentais sobre a cor, a luz e a forma, mas também a sua busca de uma síntese entre a tradição clássica e o romantismo. Notável pela prodigiosa modelação das figuras e da luz e pela estrutura da composição, esta é talvez a mais conseguida pintura de toda a série".
A aquisição foi considerada fundamental para o património artístico português, pelos responsáveis do setor, e para o próprio acervo do museu, que acolhe a mais relevante coleção pública de arte do país, em pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão Marítima Portuguesa, desde a Idade Média até ao século XIX.
Para o fecho do processo de classificação como "Tesouro Nacional" da "Adoração dos Magos", haverá ainda um prazo de 30 dias de consulta pública do processo administrativo, disponível na Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).
Criado em 1884, o MNAA é um dos museus com o maior número de obras classificadas como tesouros nacionais.
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