Na segunda-feira, quando PSD, CDS e PPM anunciaram ter um acordo de governação para os Açores, ficavam ainda a faltar três deputados para que a direita chegasse ao fundamental 29: o número de parlamentares que garante maioria absoluta e aprova, desde logo, o programa do executivo.
Durante a semana, o foco passou dos três partidos que já tinham anunciado uma coligação e centrou-se nos dois deputados do Chega e, tão ou mais importante, no líder nacional do partido, André Ventura.
Depois de reclamar do PSD, a nível nacional, abertura para 'ir a jogo' na revisão constitucional do partido, o Chega anunciou na sexta-feira que iria viabilizar o governo de direita nos Açores, valorizando entendimentos com os sociais-democratas em “vários assuntos fundamentais” para a região e para o país.
O secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, interveio duas vezes nos últimos dias para pedir esclarecimentos ao líder nacional do PSD, Rui Rio, e também Carlos César, presidente do PS e antigo chefe do governo açoriano, foi perentório no Facebook a lamentar as negociações entre o PSD e o Chega.
Noutra rede social, o Twitter, Rio acusou o PS de mentir sobre acordos nacionais ou cedências dos sociais-democratas ao Chega e referiu que foram os socialistas que, em 2015, fizeram um acordo escrito com BE e PCP para governar.
Rui Rio acusou ainda a “família socialista de se achar a legítima proprietária dos Açores”.
Minutos antes da comunicação do representante da República, que convidou o líder do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro, a formar governo, foi o próprio secretário-geral do PS, António Costa, quem 'voltou à carga', considerando que o PSD "ultrapassou a linha vermelha" ao ter um acordo com o Chega.
Quer a nível nacional quer regional, a esquerda foi crítica das negociações com o Chega, em concreto, enquanto André Ventura falou numa "grande vitória, histórica", que pode ter seguimento em futuras eleições de âmbito nacional.
Mesmo com os dois deputados do partido de Ventura, ficava a faltar ainda um deputado para viabilizar o governo de direita nos Açores: se o parlamentar único eleito pelo PAN foi claro ao dizer que não alinhava em consensos com o Chega, o líder da Iniciativa Regional nos Açores, e também eleito deputado, Nuno Barata, apresentou à tarde um caderno de encargos que passa, por exemplo, pela redução fiscal, menor burocracia, reestruturação do Setor Público Empresarial Regional ou a diminuição da despesa pública.
Mas ao final da noite, o partido enviou num novo comunicado a indicar a existência de um acordo com os sociais-democratas.
O líder do PSD/Açores e presidente indigitado do Governo Regional assumiu já o compromisso de desenvolver um “novo paradigma” de governação, em concertação com outras forças políticas.
“Quero deixar aqui declarado o nosso respeito e humildade para, sob o ponto de vista do diálogo partidário, assumirmos esta responsabilidade da pluralidade e da concertação, bem também como, nas políticas públicas do governo, desenvolvermos um novo paradigma de governação”, afirmou, depois de indicado como futuro presidente do executivo regional.
Em 25 de outubro, o PS venceu as eleições legislativas regionais dos Açores, mas perdeu a maioria absoluta, que detinha há 20 anos, elegendo apenas 25 deputados. Vasco Cordeiro, presidente do Governo dos Açores desde 2012, falou nessa noite numa vitória "clara" e "inequívoca" do PS, embora num quadro parlamentar "desafiante".
O PSD foi a segunda força política mais votada, com 21 deputados, seguindo-se o CDS-PP com três. Chega, BE e PPM elegeram dois deputados e Iniciativa Liberal e PAN um cada.
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores integra 57 deputados e terá pela primeira vez oito forças políticas representadas.
A instalação da Assembleia Legislativa está marcada para 16 de novembro. Habitualmente, o Governo Regional toma posse, perante o parlamento, no dia seguinte.
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