A fumar um cigarro e a ver o mar junto ao bar mais caro de Odessa, hoje fechado, Bogdan lamenta a crise turística, visível neste dia 01 de Abril. “O Dia das Mentiras é um dia turístico, com muitas famílias a virem cá”, explica.
Nas ruas mais perto do mar, ainda se veem algumas famílias a passear, até porque o clima ameno, mais mediterrânico, a isso convida, mas nos principais pontos históricos várias barricadas condicionam a circulação até a peões.
As escadarias do Palácio de Odessa e a Ópera estão cercadas por barreiras, arame farpado e sacos de areia, numa tentativa de proteger alguns dos principais símbolos históricos da cidade, conhecida pela arquitetura antiga não muito alterada pelo regime soviético, ao contrário de Kiev.
“Odessa é uma grande cidade, é uma cidade orgulhosa. Os barcos estão ali, mas não chegam cá”, acrescenta Bogdan, olhando para o horizonte de onde surgem, pontualmente, ‘rockets’ e mísseis, alguns dos quais disparados da Península da Crimeia, a sul.
A época alta começa a 01 de maio, mas, a um mês dessa data, Odessa está com pouca gente. “Houve muita gente que fugiu, não há muitos carros e as pessoas têm medo”, admite Bogdan.
Apesar do medo, Odessa continua a ser uma cidade turística e os russos compunham a maioria dos estrangeiros que a procuram. Hoje, em guerra, também os comerciantes de Odessa tomaram partido.
“Já não temos matrioscas, só isto”, diz Oksana, dona de uma loja da zona de Arcádia, uma das mais caras da cidade. E aponta para uma prateleira com canecas com várias expressões militares, semelhantes a muitos dos cartazes espalhados pelo país.
Desde o mais conhecido “Slava Ukranii”, um dos slogans mais repetidos pelos ucranianos, até ao “Vão-se F…”, numa referência ao que os guardas fronteiriços disseram a um navio russo no primeiro dia da guerra (24 de fevereiro), a imagens do Presidente ucraniano, Volodimyr Zelensky, sempre com a bandeira amarela e azul de fundo.
Oksana abriu a loja hoje, um mês depois do habitual, mas não tem esperança de ter clientes. “Temos de voltar à normalidade, apesar dos russos”, diz.
A cidade é conhecida pelas suas ligações à Rússia e há muitos cidadãos russos que têm casa em Odessa. Mas, nas ruas, não se veem carros com matrícula russa, ao contrário do que é habitual. A explicação é simples: muitos optaram por retirar as matrículas, com medo de represálias.
“Em Odessa somos ucranianos, estamos com a Ucrânia a cem por cento. Mesmo quem tinha dúvidas percebeu o que é o mundo russo e nós não queremos isso”, acrescenta Oksana.
Este verão, se a guerra acabar, Oksana espera voltar a ter turistas. “Se vierem russos? Sim, podem vir. Desde que não falem de política”.
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