O seu maior sucesso foi "Tous les garçons et les filles", uma canção que interpretou com apenas 18 anos, em 1962. O enorme impacto dessa música em toda uma geração de jovens franceses poderia tê-la encaixado como uma ídolo do yeyé, mas Hardy soube explorar outros terrenos musicais sem perder popularidade.

Nascida em 1944 num bairro popular de Paris, filha de uma mãe solteira, obteve a sua primeira guitarra aos 16 anos e estudou num pequeno conservatório de música.

Conseguiu destacar-se no mundo musical parisiense barulhento do início dos anos 1960, onde estrelas emergentes como Johnny Halliday (vizinho no seu bairro) traçavam o seu destino à sombra do rock and roll anglo-saxónico.

Em 1964 interpretou "Mon amie la rose", outro grande sucesso. Já "Comment te dire adieu", canção com dedo de Serge Gainsbourg, foi lançada em 1968.

Françoise Hardy também foi um ícone da moda. O seu físico andrógino e a sua discrição distanciaram-na do estilo exuberante das estrelas da sua época, como Brigitte Bardot. De resto, foi um presságio da elegância que pouco depois inundaria as passarelas do mundo inteiro.

Com cabelos longos e franja, Hardy exibia com perfeição os futuristas vestidos metálicos do estilista Paco Rabanne, e tornou-se uma modelo de revistas como Paris Match. O famoso fotógrafo americano William Klein imortalizou-a a preto e branco.

"Quando Mick Jagger disse que eu representava o seu ideal feminino, oh, là, là... Essa frase acabou com minha imagem de jovem ingénua com um físico pouco atraente", comentou a dada altura. "Cantar não era algo natural para mim", reconheceu anos depois.

A sua grande história de amor foi com Jacques Dutronc, outra estrela dessa geração rebelde. Juntos tiveram o seu filho Thomas, que também tornar-se-ia cantor.

Dutronc foi infiel (entre outras ocasiões, com a atriz Romy Schneider) e o casal acabou por separar-se, embora vivessem no mesmo prédio. Essa experiência agridoce impregna toda a sua obra —foi o combustível, por exemplo, para compor "Message personnel" em 1973, mais um grande sucesso.

A sua tortuosa relação com Dutronc foi oficializada em 1981, quando se casaram, embora viessem a separar-se novamente anos depois.

Como outras estrelas francesas, Hardy aproveitou a sua popularidade internacional para aventurar-se noutras línguas. Em espanhol, lançou duas músicas em 1970: "El teléfono corté" e "Sol", de pouco sucesso. No ano seguinte, lançou o álbum "La question", realizado em colaboração com a guitarrista brasileira Tuca.

"Durante toda a minha vida, procurei belas melodias. Ouvi-las leva-me ao êxtase", explicou Hardy numa entrevista à AFP em 2018. "As canções melódicas mais belas são sempre melancólicas ou românticas", acrescentou.

Hardy encerrou a sua carreira musical em 1988, mas nos anos 2000 voltou a retomá-la, apoiada por estrelas da sua geração. A cantora diagnosticada com um primeiro cancro em 2004 e embora tenha conseguido curar-se desta doença oncológica, sofreu outros tipos de cancro nos anos seguintes.

"A morte afeta apenas o corpo. Ao morrer, o corpo liberta a alma. Mas, de qualquer forma, a morte do corpo é uma prova considerável, e eu temo-a, como toda a gente", confessou à AFP em 2018. Foi o seu filho, Thomas Dutronc, anunciou nas redes sociais o seu falecimento.