O cemitério português, no norte de França, é um dos "locais funerários e memoriais da I Guerra Mundial (Frente Ocidental)" que integraram, em abril de 2014, a "lista indicativa" de França para futuras candidaturas a património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Jorge Sampaio visitou o cemitério em 2004, quando era Presidente da República.
Num conjunto de 80 locais referentes à Grande Guerra, o cemitério de Richebourg L'Avoué aparece em sétimo lugar, assim como a Capela de Nossa Senhora de Fátima, em Lorgies, mesmo em frente do cemitério.
Em décimo lugar, aparece a necrópole nacional de Notre-Dame-de-Lorette, um cemitério militar junto ao qual se encontra o Memorial Internacional de Notre-Dame-de-Lorette, uma escultura monumental em forma de círculo - "Anneau de la Mémoire" - onde estão inscritos os nomes de 579.606 soldados de 40 nacionalidades mortos na Grande Guerra, incluindo 2.266 nomes portugueses.
Os monumentos constam da "lista indicativa" de França para candidaturas à UNESCO, a qual contém 37 locais, mas cada país só pode apresentar duas candidaturas por ano, sendo a próxima candidatura publicada no site da instituição na primavera, para ser avaliada em julho, explicou fonte da UNESCO à Lusa.
O cemitério de Richebourg é um cemitério militar exclusivamente português, no qual, entre 1924 e 1938, se sepultaram 1.831 soldados, dos quais 238 são desconhecidos, provenientes de outros cemitérios franceses de Le Touret, Ambleteuse e Brest, de Tournai, na Bélgica, e também os corpos de prisioneiros de guerra mortos na Alemanha.
A ambição de inscrever os "locais funerários e memoriais da I Guerra Mundial" como património da UNESCO resulta de uma "seleção transnacional", com a Bélgica, em que foram escolhidos 80 locais em França e 25 na Bélgica, "rigorosamente selecionados no seio de um vasto conjunto de milhares de cemitérios, necrópoles e memoriais da frente ocidental", explica a apresentação do projeto disponível na página internet da UNESCO na secção das "listas indicativas".
"Estes elementos são representativos da enorme diversidade de nações e de povos que estiveram implicados neste conflito mundial, com uma dimensão nunca então alcançada. Eles compõem uma paisagem evocativa representativa da extensão geográfica da frente (mais de 700 km), dos grandes momentos da sua história e das suas evoluções ao longo da guerra", descreve o documento.
Como "justificação para o valor universal excecional", o texto explica que, com a Grande Guerra, "uma nova memória funerária exprime-se através de cemitérios constituídos por campas individuais que se repetem em grande número", marcados pela "homogeneidade", e através da "inscrição de nomes nos mausoléus e memoriais que responde à vontade de guardar a memória de combatentes cujos corpos não foram encontrados ou identificados".
"Todos estes elementos refletem, também, o caráter internacional do conflito, seja através de cemitérios explicitamente associados a um dos beligerantes ou ao homenagear soldados oriundos do mundo inteiro", continua o documento, lembrando, ainda que "os memoriais são monumentos totalmente novos em relação a guerras anteriores".
A lista de monumentos traduz "um movimento arquitetónico totalmente novo" e "testemunha o sofrimento e o luto em massa", sendo "um culto funerário que é, desde logo, mais que um culto combatente, um culto civil e humanista que convida ao recolhimento e, depois, à reconciliação e à paz".
A recordar a presença portuguesa na Primeira Guerra Mundial em França há, ainda, o monumento de La Couture, do escultor português António Teixeira Lopes e inaugurado a 10 de novembro de 1928, e o cemitério militar britânico de Boulogne, onde há um talhão português com 44 campas.
O cemitério militar de Richebourg, a capela Nossa Senhora de Fátima e o monumento aos mortos de La Couture são palco, todos os anos, em abril, de uma cerimónia evocativa da Batalha de La Lys.
Os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres faz quinta-feira 100 anos, numa participação sem brilho e que culminou no desastre da Batalha de La Lys.
A chegada dos militares portugueses a França, em janeiro de 1917, marca o início do grande esforço militar português durante a I Guerra Mundial.
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