Segundo o reitor, padre Patrício Fernandes, a água das chuvas e monções infiltrou-se nas paredes, expostas aos elementos desde que, nos anos 1950, foi removido o estuque que recobria originalmente a fachada da Basílica, inaugurada em 1605 em Goa Velha, então capital da Índia Portuguesa.
“Segundo os historiadores, o Governo de António Salazar, no Estado Novo, quis mostrar que a arquitetura portuguesa era muito antiga. Em 1952, quando se realizou uma exposição com as relíquias de São Francisco Xavier, o estuque foi removido, para que a igreja parecesse mais antiga”, contou à Lusa o padre Fernandes.
Por essa razão, as paredes da igreja, construída com blocos de laterite, uma rocha porosa, ficaram expostas às chuvas e monções nos últimos 70 anos, provocando a sua erosão.
“Os portugueses deixaram Goa em 1961 e o Governo indiano não voltou a rebocar as paredes, e nos últimos anos [a Basílica] tem vindo realmente a deteriorar-se”, explicou.
Esta não é a primeira vez que o reitor alerta para o estado do monumento, mas a situação agravou-se nos últimos meses, afirmou.
“Pela primeira vez, há tanta água que acabou por se infiltrar na pedra. A monção acabou em outubro e as paredes continuam molhadas”, contou. “Quando se passa a mão pela pedra, há pedaços que caem ao chão”, acrescentou.
Em abril do ano passado, após alertas do reitor, os serviços de arqueologia responsáveis pela conservação dos monumentos na Índia (Archaeological Survey of India – ASI) iniciaram algumas obras na Basílica, incluindo no telhado, mas a intervenção não chegou para proteger o monumento, considerado uma das “sete maravilhas de origem portuguesa no mundo”.
“Dez dias depois de a monção começar, as paredes começaram a ficar molhadas”, com “a água a escorrer pelas paredes”, lamentou o padre.
O reitor recordou que a última monção, em outubro de 2020, fez ruir a fachada da igreja de São Roque, situada na localidade de Velim, no sul de Goa, e teme que o mesmo aconteça à Basílica do Bom Jesus.
“Não sou apenas eu que temo que isso aconteça. Consultei arquitetos e engenheiros e disseram-me: ‘Padre, isto [o reboco das paredes] tem de ser feito, ou há um grave perigo de que a basílica colapse'”.
O padre Patrício Fernandes alertou a arquidocese e o ASI, instando os serviços de conservação dos monumentos a rebocar as paredes da igreja e a fazer obras no telhado, mas segundo o prelado, tem havido resistência em proceder à intervenção.
“A maioria das pessoas sempre conheceram esta igreja sem reboco, por isso pensam que era assim originalmente”, explicou.
“Quando lhes disse [aos técnicos do ASI] que tínhamos de voltar a rebocar a igreja, responderam-me: ‘Para quê? É tão bonita assim'”, contou o padre, criticando a inércia das autoridades em relação a um monumento “tão precioso para Goa”.
“É um milagre que a Basílica não tenha ruído ao fim de setenta anos [desde que o estuque foi removido]. São Francisco Xavier está certamente a olhar por ela, mas não podemos continuar assim, é preciso fazer alguma coisa”, apelou.
Para o padre, é urgente “mobilizar a opinião pública” e analisar como deverá ser feito o restauro, recorrendo a peritos internacionais e arquitetos para garantir um bom trabalho.
“A cobertura de gesso e cal dura centenas de anos, como se vê noutras igrejas em Goa”, afirmou.
A Lusa questionou os serviços de conservação de monumentos em Goa e em Nova Deli por escrito, mas não recebeu resposta em tempo útil.
Construída entre 1594 e 1605, a Basílica do Bom Jesus faz parte de um grupo de igrejas e conventos erigidos pelos portugueses, classificados pela Unesco como Património Mundial, em 1986.
A Basílica, um dos monumentos mais visitados em Goa, alberga o túmulo de S. Francisco Xavier, missionário jesuíta canonizado no séc. XVII, conhecido como o “apóstolo do Oriente”.
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