“Deveria haver, nas próprias empresas, um trabalho de prevenção na saúde dos profissionais para, de alguma forma, os ajudar a não terem doenças crónicas (…) e alguma tolerância, com adaptações ao nível da exigência das tarefas”, considerou a psicóloga Tânia Gaspar de Matos, coordenadora da investigação.
A investigadora considera ainda que é preciso adaptar as tarefas às competências das pessoas mais velhas, acrescentando: “O exemplo de ajudar as pessoas mais novas a integrarem-se nas empresas responde a uma crítica que os mais novos sentem, que chegam às empresas e não sabem o que fazer”.
O trabalho, que contou com o envolvimento de entidades como o Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS), a Direção Geral de Saúde e o Instituto de Saúde Ambiental/Universidade de Lisboa, pretendeu caracterizar os níveis de literacia e e-literacia (literacia digital) em saúde da população reformada no processo de envelhecimento.
Os dados recolhidos indicam que a transformação digital na área da saúde está a deixar algumas pessoas para trás, sobretudo os mais idosos, que têm mais dificuldade em aceder à informação através de meios tecnológicos, compreendê-la e usá-la na tomada de decisão sobre a sua saúde.
Sublinhando a importância da literacia e literacia digital nas tomadas de decisão, inclusive na adesão terapêutica, os investigadores sugerem que a prevenção e a literacia devem ser uma prioridade nas políticas públicas, transversal a todos os ministérios.
Recomendam a definição de programas e medidas específicas para os grupos de risco – mulheres, pessoas mais velhas (81 anos ou mais), os que têm menor escolaridade, doença crónica e os habitantes das regiões autónomas.
Defendem ainda a criação de incentivos para organizações promotoras de saúde e literacia, assim como um acesso mais fácil das pessoas idosas à informação em saúde, seja através dos cuidados de saúde primários, de programas na televisão pública ou na rádio ou até por contacto telefónico.
Para as organizações na área da saúde, recomendam a promoção da literacia e e-literacia nos centros de saúde e noutros parceiros sociais de proximidade, assim como a formação e promoção de competências junto dos profissionais (médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, assistentes operacionais) para as necessidades e dificuldades da população idosa.
Consideram também importante a formação e sensibilização sobre o impacto da saúde mental na capacidade de acesso, compreensão e mudança de comportamento da população idosa e dos seus cuidadores.
Nas empresas, recomendam às entidades patronais que desenvolvam programas de preparação para a reforma e adotem medidas como a redução progressiva de horário laboral, a adaptação das tarefas ou o desenvolvimento de tarefas de supervisão e acolhimento de novas gerações, para promover um “processo de reforma saudável”.
Os resultados do estudo vão ser hoje apresentados no encontro "Psicogerontologia e Saúde Mental: O papel da tecnologia", que decorre na Universidade Lusófona.
Comentários