Em comunicado, Graça Fonseca assinalou que a “reconhecida escritora, cronista e ativista” evidenciou-se nos anos de 1950 e 1960 “como uma voz singular com um impacto especialmente significativo no meio jornalístico”.
Enumerando várias passagens do currículo da escritora, a governante reconheceu a Isabel da Nóbrega “o espírito crítico, a inquietação, a coragem, a inteligência e um estilo literário que deambulava entre a contundência e a ternura na apologia dos direitos cívicos e em particular dos das mulheres (o aborto, a maternidade, o amor)”.
“Privou de perto com nomes incontornáveis da cultura portuguesa, como Sophia de Mello Breyner, Ruben A. ou Natália Correia, tendo sido presença assídua em tertúlias, encontros, viagens e outros lugares de questionamento, desassossego e implicação com o mundo”, acrescentou.
A autora de “Viver com os outros” morreu na quinta-feira, no Estoril, aos 96 anos, disse à Lusa fonte familiar.
A escritora estava internada num lar há alguns meses e teve morte natural, adiantou a mesma fonte.
O velório terá lugar na sexta-feira, na Basílica da Estrela, em Lisboa, em hora ainda a definir, acrescentou.
Nascida Maria Isabel Guerra Bastos Gonçalves, em Lisboa, no dia 26 de junho de 1925, adotou o pseudónimo Isabel da Nóbrega, com que assinava os seus trabalhos.
Escreveu para teatro, rádio e televisão e também milhares de crónicas para diversas publicações.
Estreou-se na ficção literária com “Os Anjos e os Homens”, em 1952, tendo sido consagrada com o romance “Viver com os outros” (1964). Assinou também trabalhos como “O filho pródigo”, peça de teatro representada no Teatro Nacional D. Maria II, em 1954, pela então residente companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Ao longo da carreira publicou livros como “Solo para gravador” (1973) e “Cartas de Amor de Gente Famosa” (2009), para além de ter escrito uma apresentação para “O Cântico dos Cânticos”, de Salomão, publicado em 1966 pelos Estúdios Cor, que também editaram, nesse mesmo ano, “Já não há Salomão…”, da autora, com desenhos de Sá Nogueira e prefácio de José Saramago.
Isabel da Nóbrega traduziu livros como “Guerra e Paz”, de Tolstoi, “Tempo para amar tempo para morrer”, de Erich Maria Remarque, ou “Pago para matar”, de Graham Greene.
De acordo com o Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Isabel da Nóbrega escreveu ainda as peças “A Cigarra e as Formigas” (1971), encenada na Casa da Comédia, e “O Filho de Rama” (1998), levada ao palco de A Barraca e da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul.
Ao longo da vida foi galardoada com o Prémio Camilo Castelo Branco, Prémio de Literatura Infantil e Juvenil, Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores e Prémio Femina por Mérito na Literatura.
Integrou o grupo fundador do jornal A Capital, no qual colaborou como cronista, bem como nos jornais Diário de Lisboa, Diário de Notícias e Primeiro de Janeiro, na revista Vida Mundial e nas rádios Antena 1, Antena 2 e RDP Internacional, na qual manteve um programa chamado “O Prazer de Ler”, de segunda a sexta-feira.
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