Em declarações à Lusa a caminho de Montalegre, distrito de Vila Real, onde participa na tarde de hoje numa manifestação contra o lítio na região do Barroso, Renata Cambra ressalvou que “o MAS não está no lítio agora porque são eleições”.
“Nós somos ativistas contra a mineração todo o ano, temos estado a trabalhar com estas populações todo o ano, e nós, sim, já ouvimos essas populações”, disse a também cabeça de lista por Lisboa, considerando que os partidos de esquerda com assento parlamentar são permissivos ao lítio, mesmo usando o mesmo argumento.
Para Renata Cambra, “quando a esquerda diz que o lítio, para avançar, precisam de ser ouvidas as populações, o que isso significa é, encapotadamente, estar a dizer que haveria algum cenário em que uma autarquia, se estivesse a favor do lítio, isso seria aceitável, mas não é”.
A mais jovem dos responsáveis partidários nestas eleições legislativas crê que “o lítio está a avançar por causa de grandes interesses financeiros”, também relacionados com a “política da União Europeia” e com os desejos das empresas NorthVolt e Galp de produzirem baterias e refinar o minério, respetivamente.
“O lítio que há em Portugal é muito pouco e nem sequer é sustentável. Não vai haver um retorno significativo. Não é possível, porque não existe uma quantidade de lítio em Portugal que justifique estar a abrir estas minas”, afirmou, em conversa telefónica com a Lusa.
Segundo a candidata do MAS, “o que está a acontecer é que estão a utilizar o lítio como fachada para poder abrir minas a céu aberto” para depois “extrair outros minérios”.
“Tirando o MAS, ninguém, da esquerda à direita – mas ninguém -, não há nenhum partido a denunciar claramente que isto é uma falsa solução verde e é uma fachada, e é um desperdício de dinheiro, que podia estar a ser bem investido, e devidamente investido, numa verdadeira transição energética”, considerou.
No entender de Renata Cambra, há razões político-partidárias que explicam o referido isolamento do MAS nesta reivindicação, já que a esquerda parlamentar “continua mais interessada em ser uma muleta do PS do que em se juntar e criar uma alternativa”.
“Se a esquerda continua a querer namorar o PS em vez de, intransigentemente, defender e pôr-se ao lado das pessoas, que é o lado onde a esquerda deve estar, obviamente que depois, onde tocam os interesses mais profundos do PS – como é o caso do lítio, porque há muitos milhares de milhões por trás disto – a esquerda fica amarrada e por isso não diz o que tem que dizer”, considerou.
A porta-voz do MAS afirmou que durante a ‘geringonça’ houve uma “moeda de troca” para o apoio parlamentar aos Governos PS, que foi uma “grande acalmia” do lado do PCP, “que está mais ligado ao movimento sindical” e, do lado do BE, “mais ligado ao que são os movimentos sociais, que estiveram muito mais enfraquecidos”.
“A esquerda que está no parlamento deve ser um farol para a mobilização nas ruas”, e se “abdica de fazer isso, os movimentos enfraquecem” e “as pessoas começam a perder direitos”, vincou.
Assim, Renata Cambra defendeu que “a esquerda não se pode limitar a estar no parlamento e apresentar propostas, a permitir que elas sejam chumbadas e a lavar as suas mãos”.
“A esquerda, quando vê que não consegue alcançar mudanças qualitativas no parlamento, então tem que se lembrar de todo o seu percurso histórico e saber que é na rua que isso se conquista”, dando como exemplo a manifestação de hoje do MAS em Montalegre.
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