Se conseguir vencer a segunda volta, no próximo sábado, Montenegro estará, desta vez, fora da Assembleia da República e terá de lidar com um grupo parlamentar escolhido pelo seu antecessor - tal como aconteceu a Rio -, mas já garantiu que contará com os 79 deputados do PSD.
Como metas eleitorais, Luís Montenegro apontou à vitória nas autárquicas de 2021 e nas duas próximas eleições legislativas, ambicionando até a maioria absoluta.
O antigo líder parlamentar do PSD entre 2011 e 2017 - o presidente de bancada mais duradouro entre os sociais-democratas - chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido há dois anos, quando Pedro Passos Coelho anunciou que se não se recandidataria na sequência do mau resultado nas autárquicas, mas acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas".
Mas logo em fevereiro de 2018, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou um aviso de que poderia vir a disputar-lhe o lugar: “Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier (…) Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém”.
Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em abril de 2018, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direção de Rui Rio.
Em outubro de 2018, ajudou a ‘travar’ a realização de um congresso extraordinário, promovido por André Ventura - que, entretanto, abandonou o PSD e fundou o Chega - mas a tensão interna abaria por ‘explodir’ em janeiro.
Em 11 de janeiro, Luís Montenegro desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no PSD, dizendo que não se resignava “a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica”.
O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar diretas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à sua direção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.
Na sequência dessa derrota, Montenegro defendeu que o seu desafio de clarificação “acordou um gigante adormecido” que é o PSD, e prometeu reserva pública nos meses seguintes quanto às divergências em relação a Rui Rio, e que cumpriu até às legislativas, anunciando três dias depois que seria candidato à liderança.
Depois do Conselho Nacional de janeiro, terminou as suas colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França.
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 46 anos, e advogado de profissão, destacou-se como deputado – sempre eleito por Aveiro - e, sobretudo, como líder parlamentar do PSD.
Assumiu o cargo já após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, em junho de 2011, e foi, com Nuno Magalhães, então líder parlamentar do CDS-PP, a dupla de defesa, na frente parlamentar, da coligação de direita durante os anos da intervenção externa da ‘troika’ em Portugal.
Vem desse período - em janeiro de 2014 - a frase polémica de que “a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor”, que lhe viria a merecer muitas críticas.
Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.
Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.
Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; nas últimas, em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna.
Montenegro foi apoiante da candidatura do atual Presidente da República, e Marcelo Rebelo de Sousa já retribuiu quando lhe entregou, no início do seu mandato, a medalha de ouro de Espinho: na ocasião, elogiou as suas “qualidades invulgares” e vaticinou-lhe “muitos sucessos políticos” ainda ao longo do seu mandato em Belém, que só termina em 2021.
A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho – na atual campanha interno negou alguma vez ter pertencido à maçonaria – e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da seleção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.
Em junho do ano passado, Luís Montenegro viria a ser constituído arguido – a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que essas viagens foram pagas a expensas próprias, num processo ainda em investigação.
Na campanha interna, foi, tal como o seu adversário Rui Rio, ao programa das manhãs da SIC, onde contou à apresentadora Cristina Ferreira que a sua alcunha de infância era ‘Ervilha’ - por ser “redondinho” e ter olhos verdes - e no qual fez um dueto com Tony Carreira a cantar o “Sonhos de Menino”, garantindo que liderar o PSD não estava entre eles.
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