A advogada de 59 anos, acusada de supostas "faltas graves" no cargo, denunciou a "ruptura da ordem constitucional" por parte do governo do presidente Nicolás Maduro.
Loira, de olhos claros e sempre de óculos, Ortega também dirigiu suas críticas contra o Poder Eleitoral e os militares, considerados pilares do governo Maduro junto do Supremo Tribunal de Justiça.
Ortega confrontou Maduro diretamente ao rejeitar a Assembleia Constituinte que propõe para modificar a Carta Magna de 1999, promovida pelo então presidente, Hugo Chávez (falecido em 2013), ao considerar que esta viola a democracia.
O deputado chavista Germán Ferrer, com quem é casada há 18 anos, descreve-a como uma "pessoa muito disposta, valente e honesta".
"Enfrentaria qualquer coisa para defender seus valores. Ela é a fiadora da legalidade no país, está a cumprir o seu dever", disse à AFP.
A reação do governo à rebelião de Ortega foi tal que o deputado Pedro Carreño pediu ao Supremo Tribunal a sua destituição por "insanidade mental", o congelamento dos seus bens e a proibição de sair do país.
O divórcio
Segundo Ferrer, a sua esposa começou a 'desencantar-se' com o governo de Maduro a partir de 2016, por discordar da prisão de alguns líderes opositores.
Este distanciamento ficou claro quando o Supremo Tribunal emitiu, no final de março, uma decisão que retirava as prerrogativas do Parlamento, dominado pela oposição, o que Ortega qualificou de "ruptura da ordem constitucional".
Desde então, o abismo só aumentou: Ortega pediu a anulação da Constituinte, o julgamento de alguns juízes do Supremo e também criticou a "repressão" dos órgãos de segurança aos protestos deflagrados em 1º de abril para exigir a saída de Maduro.
Chamada "traidora" pelos chavistas, Ortega, a quem Maduro agora qualifica de "líder da oposição", sempre militou na esquerda, sendo ligada a Chávez desde a campanha presidencial de 1998, quando trabalhava como advogada no estado de Aragua (norte).
Ortega foi nomeada procuradora para Caracas em 2002 e, em 2007, com o aval de Chávez, assumiu a procuradoria-geral para um período de sete anos, sendo reeleita em 2014 pelo Parlamento, então controlado pelo chavismo.
Apesar de o atual mandato de Ortega prosseguir até 2021, funcionários do governo já marcaram a data da sua destituição: 30 de julho, quando se elegerá a Assembleia Constituinte, controlada pelos chavistas.
"Sagaz e com faro político"
Ortega é lembrada por denunciar os polícias que a Justiça condenou por participação no golpe de Estado contra Chávez em 2002, e também por promover a condenação, a quase 14 anos de prisão, do líder opositor Leopoldo López, em 2014, acusado de incitar à violência nos protestos contra Maduro que deixaram 43 mortos.
O cientista político Nicmer Evans, chavista crítico de Maduro, considera que o papel de Ortega será essencial para "reinstitucionalizar o país". "Representa o chavismo digno, democrático, diante das pretensões totalitárias do madurismo".
Analistas como Félix Seijas consideram que Ortega pode ser a "ponte" entre o chavismo crítico e a oposição.
Um jornalista que a conhece há dez anos garante que Ortega "é muito sagaz e tem grande faro político".
Ortega não tem filhos, mas denuncia ameaças contra familiares e responsabilizou o governo por qualquer coisa que possa lhe ocorrer.
"Até ao meu último suspiro defenderei a Constituição", prometeu Ortega na segunda-feira num discurso com tom político para um grupo de funcionários da Procuradoria que saiu às ruas para apoiá-la.
Impedida de sair do país
A Procuradora-Geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, dissidente do Presidente Nicolas Maduro, está impedida de sair do país por decisão do Supremo Tribunal de Justiça
O tribunal superior “fixou a audiência pública para 04 de julho” para decidir se a procuradora pode ser julgada pela Justiça e decidiu também congelar as suas contas bancárias e os seus bens, indicou o comunicado do STJ.
Luísa Ortega Díaz acusou hoje o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) de estar “a desmantelar” o Estado e apelou aos venezuelanos para defenderem e restituírem o vigor da Constituição do país.
“O STJ é um dos primeiros atores que estão a boicotar a Constituição e não o permitirei”, disse, durante uma conferência de imprensa em Caracas.
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