Questionado sobre o risco de o Rassemblement National (RN, extrema-direita) pedir a sua demissão em caso de vitória nas eleições de 30 deste mês (com segunda volta a 07 de junho), o Presidente francês afastou essa possibilidade, segundo o semanário.

“Não é o RN que está a escrever a Constituição, nem o espírito dela. As instituições são claras, tal como o lugar do Presidente, seja qual for o resultado. Para mim, isso é intangível”, respondeu.

Macron disse estar novamente disposto a debater com Marine Le Pen, a líder dos deputados de extrema-direita na Assembleia Nacional dissolvida.

“Claro! Estou pronto para usar as nossas cores e defender o nosso projeto”, disse.

“Vou lá para ganhar”, garantiu o Presidente na entrevista, realizada na tarde de segunda-feira, um dia depois do anúncio da dissolução, que apanhou toda a gente de surpresa, incluindo o seu próprio primeiro-ministro, Gabriel Attal.

Àqueles que o consideram “louco” por provocar uma tal reviravolta política, Emmanuel Macron responde: “não, de todo”.

“Só estou a pensar em França. Foi a decisão correta, no interesse do país. E digo aos franceses: não tenham medo, vão votar”.

Antes da conferência de imprensa que deverá dar o mote para a campanha ‘macronista’, prevista para hoje mas entretanto adiada para quarta-feira, o candidato explicou que pretende ir a votos “alargando e clarificando a sua linha”.

Acrescentou a intenção de “estender a mão a todos aqueles que estão prontos para governar e trabalhar numa síntese na direção de um radicalismo ambicioso”, sem dizer exatamente como, uma vez que não conseguiu desde 2022 alargar a sua maioria relativa.

“Nunca acreditei nas sondagens. […] Uma nova campanha está a começar e não devemos olhar para os resultados de cada círculo eleitoral à luz dos resultados das eleições europeias”, continuou.

Pouco depois de se conhecerem as declarações de Macron, o líder do partido de direita Les Républicains, Eric Ciotti, apelou a “uma aliança” com o partido de extrema-direita RN para as eleições legislativas antecipadas de 30 de junho e 7 de julho em França.

“Precisamos de uma aliança, mantendo a nossa identidade, […] com o RN e os seus candidatos”, declarou Eric Ciotti no canal de televisão TFI, adotando oficialmente uma posição muito controversa no seio do seu próprio partido, herdeiro do movimento ‘gaullista’.

O apelo de Ciotti foi já “bem recebido” pela líder da RN, Marine Le Pen, que o considerou “uma escolha corajosa”.

Le Pen saudou também o que considerou ser “o sentido de responsabilidade” de Ciotti.

“Quarenta anos de um pseudo cordão sanitário, que levou à perda de muitas eleições, estão em vias de desaparecer”, declarou à AFP Le Pen, que ao longo da última década iniciou uma estratégia de ‘desdemonização’ e normalização do seu partido com o LR.